Seis horas para cozer o
peru é a estimativa otimista em forno de fogão normal. Em um possante levaria
umas três. A criatura tem perto de cinco quilos. Tudo somente para uma pessoa.
O cônjuge de Guzzi puxou Minas Gerais para ver a família. O trecho São Paulo
Minas Gerais em dias de festa demanda mais tempo que o normal.
Assim como o cozimento do
peru em forno vulgar doméstico, tudo pode acontecer em dias de festa nas
rodovias. Em casa, o gás acabar; na rodovia, uma carreta de combustível capotar,
pegar fogo e bloquear a via nos dois sentidos.
“Patos de MG” anda
saudoso da família. Pai e manos. Gente de festa farta, bebidas e rango. Ozzi e Frida farão companhia à Guzzi na ceia.
São felinos. Traquinos. Derrubam árvores de natal e TVs.
Ozzi anda viciado em
tomate. É um gato negro. Assalta a geladeira e mocoza os frutos em seu local de
dormir. Estranho vício. Frida, acizentada, é bruta. É gata de rua. Adotada nas
Gerais puxou São Paulo.
Tempos de pandemia. Terminais
rodoviários e aeroportos entupidos de gente como se não existisse amanhã em um
país sem governo. “Patos” sairá direto do trampo para a rodoviária. O embarque
será antes da meia noite do dia 23.
A viagem até Congonhas
deve durar umas dez horas, caso tudo se desenrole sem problemas. A cidade
abriga esculturas em pedra sabão do mestre Aleijadinho. A praça das esculturas
é um sabão. Fácil de cair. Queda em cada estação.
Natal pandêmico. Famílias
separadas. O melhor presente nos últimos anos. Nada de treta em ceia. Cada macaco
no seu galho. Sobram as ligações cordiais. Mainha, agoniada, talvez com o intento
em ficar quieta, ligou às 18h.
Manifesta um banzo por
conta da perda da prima-irmã Socorro, que partiu há três meses acometida por
Covid. Calhou da data da passagem ser o dia 24. Missa de três meses de partida.
Nada de ceia. Despeja umas mágoas. Fim de papo. É hora de retomar a breja. As costelas
de porco estão no forno. O molho arde no fogão. Tem um nome esquisito.
Docinho (Thulla Esteves)
troca mensagens sobre o assamento do Peru com a Guzzi. Em seguida parte para a
ligação para os parentes distantes. Mary é a primeira. Ela foi quem acolheu a Guzzi quando aportou em São Paulo. Mary
é esposa do tio de Docinho. Afetividades
daqui. Doçuras de lá.
A bola agora é com o tio.
Odontólogo aposentado desde sempre devotado à pinga. Prestes a somar 80
primaveras anuncia em tiro curto diagnostico de cirrose. Parece levar tudo na
esportiva. Em seguida conta que já tomou a dose do dia. “Fazer o que, já tenho os dias contados”,
ironiza.
Arritmia, diabetes, hipotireoidismo,
hipertensão, cirrose, ansiedade, TOC. O pulso ainda pulsa. “ Égua da genética.
PQP”, dispara o tio. A pauta descamba para saúde. O tio acredita da sabença do
vírus. Deve tá pensando nas mutações do mesmo. “Nunca mais seremos os mesmos”,
acredita.
Pandêmico natal. Nada de
carnaval ou show de Roberto Carlos. Na rodoviária, “Patos” dorme no busão.
Acorda às 5h pensando em BH. Nem imagina que ainda tá em São Paulo. Uma carreta
de combustível tombou, incendiou e tomou as duas pistas. Então, é natal...
“Patos” ficou mais de
cinco horas no busão por conta do acidente com a carreta. Rodovia desobstruída, o pneu fura. Não tá
fácil. O bravo mineiro aporta em sua terra natal quase vinte e quatro horas após o
seu embarque em viagem que duraria umas dez horas.
Após mais de seis horas o
peru assa. Farofa de banana para o acompanhamento. As costelas do suíno
arriscam queimar após duas horas. Tudo deu certo. Tudo saboroso. Arroz e purê para
as costelas. Brejas, brejas e mais brejas...risos sobre as prosas..chamegos..
Comemos para além do necessário.
Sono. A mangueira do vizinho eclipsa a lua em quarto crescente. Porta aberta em
solitário corredor acometido por vento forte que emana do rio Tapajós.
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