sábado, 20 de junho de 2020

Luta pela terra no Pará: tese recupera trajetória de ativistas mortos na década de 1980

Gringo, Benezinho ativistas sindicais e o advogado Paulo Fonteles são os casos tratados 



Professor Elias Sacramento. Fonte: foto da internet/site UFPA. 

Os anos da década de 1980 são os mais sangrentos na luta pela terra no estado do Pará. Trata-se do período da inserção econômica subordinada da Amazônia a outros centros mais desenvolvidos. A conjuntura era marcada pela apropriação do estado pelo grande capital.

A ordem do dia residia na instalação de grandes projetos marcados pela concentração de capital, sob o primado das rodovias da geopolítica da ditadura civil-militar de integração física. Tudo sob os auspícios da doutrina de segurança nacional de Golbery do Couto e Silva.

Uma toada regida pela expropriação dos povos da floresta de forma sistemática. Exploração da madeira, imposição da pecuária extensiva e mineração foram alguns dos polos econômicos eleitos como prioritários para alavancar o “desenvolvimento”. 

O estado autoritário impôs o terror aos moradores nativos e migrantes. Prisões, tortura, execuções e chacinas de seus opositores são ações que até os dias de hoje não foram reparadas.

Camponeses e seus aliados eram os eleitos como atravancadores do “progresso”, e assim como a floresta, deveriam ser eliminados. Nos anos de 1980 a ala mais reacionária dos fazendeiros edificou a União Democrática Ruralista (UDR), o braço armado do setor. Soma-se ao cenário da época, o espectro da Guerrilha do Araguaia, e a ameaça “comunista” na região.  

O major Curió é personagem central na definição de estratégias de repressão ao movimento sindical do campo naquele momento. A execução de Gringo tem relação com a eleição sindical em Conceição do Araguaia, onde ele era candidato a presidente.  

A tese de Elias Sacramento, apresentada no Departamento de História da UFPA, no dia, 17 do corrente mês, sob o título “É muito triste não conhecer o pai. A herança da violência e os familiares de Gringo, Benezinho e Paulo Fonteles” recupera fragmentos destes dias sangrentos do estado do Pará.

O professor e pesquisador também teve o pai assassinado durante a ditadura civil militar.  Sobre o pai, Sacramento dedicou a sua dissertação no mesmo departamento da UFPA, com o título Almas da Terra: a violência no campo paraense, apresentada em 2007. A dissertação e a tese contam com a orientação da professora Edilza Fontes.

Na tese o professor ilumina fatos de três casos de assassinatos de lideranças ligadas à luta pela terra no estado.  Dois casos dedicados a ativistas sindicais e sobre o advogado Paulo Fonteles, um dos fundadores da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SPDDH), assassinado em 1987.

O número 01 do Jornal Pessoal, editado pelo jornalista Lúcio Flávio Pinto é dedicado à apuração do caso. A reportagem foi laureada com o   o Prêmio Fenaj de Jornalismo daquele ano. Leia AQUI  

Empresários do grupo Jonasa e Belauto eram tidos como suspeitos. Por isso o grupo Maiorana, responsável pela edição jornal do Liberal, não publicou a reportagem, o que provocou a criação do quinzenário do jornalista. Igualmente objeto de trabalhos de pós graduação.

Assim como Alex Lima, Elias disserta sobre a trajetória do agente pastoral da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em Conceição do Araguaia, Raimundo Ferreira Lima, conhecido por "Gringo". Leia matéria AQUI

Alex, filho do agente, apresentou a dissertação faz pouco dias, na Unifesspa. Filhos de gringo são professores ou ativistas sindicais, a exemplo da filha Nedyma Lima, que lidera o sindicato da educação em São Geraldo do Araguaia. 

Outro caso analisado por Elias é o assassinato do dirigente sindical Benedito Alves Bandeira, conhecido por "Benezinho", morto em 1984 e que teve sua atuação no município de Tomé-Açú e Acará.  Na ocasião a PM conseguiu prender os três pistoleiros. Revoltada com o caso, a população fez justiçamento contra eles. Sete filhos do sindicalista ficaram na orfandade. Veja documentário AQUI

No processo da pesquisa, Elias enfrentou certa resistência dos herdeiros, até eles conhecerem parte da trajetória do professor. 

Sacramento além de recuperar o enredo dos crimes envolvendo os ativistas pela reforma agrária, indagou sobre o destino dos filhos, como a família encarou o legado de luta, se houve reparo por parte do Estado e sobre os traumas provocados pelas  violências.

Integraram a banca examinadora os professores Francivaldo Alves Nunes(UFPA), Airton dos Reis Pereira (UEPA/Marabá) e Raimundo Amilson de Sousa Pinheiro (UEPA).


1 comentários:

Anônimo disse...

Faltou acrescentar o prof. dr.Carlos Leandro Esteves (UFPA - Cametá) que também compôs a banca.