Gringo, Benezinho ativistas sindicais e o advogado Paulo Fonteles são os casos tratados
Os anos da década de 1980 são os mais sangrentos na luta pela
terra no estado do Pará. Trata-se do período da inserção econômica subordinada
da Amazônia a outros centros mais desenvolvidos. A conjuntura era marcada pela
apropriação do estado pelo grande capital.
A ordem do dia residia na instalação de grandes projetos marcados
pela concentração de capital, sob o primado das rodovias da geopolítica da
ditadura civil-militar de integração física. Tudo sob os auspícios da doutrina
de segurança nacional de Golbery do Couto e Silva.
Uma toada regida pela expropriação dos povos da floresta de forma
sistemática. Exploração da madeira, imposição da pecuária extensiva e mineração
foram alguns dos polos econômicos eleitos como prioritários para alavancar o
“desenvolvimento”.
O estado autoritário impôs o terror aos moradores nativos e
migrantes. Prisões, tortura, execuções e chacinas de seus opositores são ações
que até os dias de hoje não foram reparadas.
Camponeses e seus aliados eram os eleitos como atravancadores do
“progresso”, e assim como a floresta, deveriam ser eliminados. Nos anos de 1980
a ala mais reacionária dos fazendeiros edificou a União Democrática Ruralista
(UDR), o braço armado do setor. Soma-se ao cenário da época, o espectro da
Guerrilha do Araguaia, e a ameaça “comunista” na região.
O major Curió é personagem central na definição de estratégias de
repressão ao movimento sindical do campo naquele momento. A execução de Gringo
tem relação com a eleição sindical em Conceição do Araguaia, onde ele era
candidato a presidente.
A tese de Elias Sacramento, apresentada no Departamento de
História da UFPA, no dia, 17 do corrente mês, sob o título “É muito triste não conhecer o pai. A
herança da violência e os familiares de Gringo, Benezinho e Paulo Fonteles”
recupera fragmentos destes dias sangrentos do estado do Pará.
O professor e pesquisador também teve o pai assassinado durante a
ditadura civil militar. Sobre o pai,
Sacramento dedicou a sua dissertação no mesmo departamento da UFPA, com o
título Almas da Terra: a violência no campo paraense, apresentada em 2007. A
dissertação e a tese contam com a orientação da professora Edilza Fontes.
Na tese o professor ilumina fatos de três casos de assassinatos de
lideranças ligadas à luta pela terra no estado.
Dois casos dedicados a ativistas sindicais e sobre o advogado Paulo
Fonteles, um dos fundadores da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos
Humanos (SPDDH), assassinado em 1987.
O número 01 do Jornal Pessoal, editado pelo jornalista Lúcio
Flávio Pinto é dedicado à apuração do caso. A reportagem foi laureada com o o Prêmio Fenaj de Jornalismo daquele ano. Leia AQUI
Empresários do grupo Jonasa e Belauto eram tidos como suspeitos.
Por isso o grupo Maiorana, responsável pela edição jornal do Liberal, não
publicou a reportagem, o que provocou a criação do quinzenário do jornalista.
Igualmente objeto de trabalhos de pós graduação.
Assim como Alex Lima, Elias disserta sobre a trajetória do
agente pastoral da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em Conceição do Araguaia, Raimundo
Ferreira Lima, conhecido por "Gringo". Leia matéria AQUI
Alex, filho do agente, apresentou a dissertação faz pouco
dias, na Unifesspa. Filhos de gringo são professores ou ativistas sindicais, a exemplo
da filha Nedyma Lima, que lidera o sindicato da educação em São Geraldo do
Araguaia.
Outro caso analisado por Elias é o assassinato do dirigente
sindical Benedito Alves Bandeira, conhecido por "Benezinho", morto em
1984 e que teve sua atuação no município de Tomé-Açú e Acará. Na ocasião a PM conseguiu prender os três pistoleiros.
Revoltada com o caso, a população fez justiçamento contra eles. Sete filhos do
sindicalista ficaram na orfandade. Veja documentário AQUI
No processo da pesquisa, Elias enfrentou certa resistência
dos herdeiros, até eles conhecerem parte da trajetória do professor.
Sacramento além de recuperar o enredo dos crimes
envolvendo os ativistas pela reforma agrária, indagou sobre o destino dos
filhos, como a família encarou o legado de luta, se houve reparo por parte do
Estado e sobre os traumas provocados pelas
violências.
Integraram
a banca examinadora os professores Francivaldo Alves Nunes(UFPA), Airton dos Reis Pereira (UEPA/Marabá) e Raimundo Amilson de Sousa Pinheiro (UEPA).
1 comentários:
Faltou acrescentar o prof. dr.Carlos Leandro Esteves (UFPA - Cametá) que também compôs a banca.
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