terça-feira, 15 de abril de 2025

Alenquer em julho

 

Alenquer. Julho. O calor exaure a fração de vigor. Na rua em que estou alojado um senhor faz plantão diário na porta da casa, onde o esgoto viceja. Será dele a casa? Espio o ambiente. Ele guarda um freezer e prateleiras. Lembra um comercio. 

O senhor, armado de um rádio de pilha, acomoda-se em uma cadeira de macarrão. O negro tem a carapinha grisalha. Vez em quando traja a camisa do Paysandu.  Cedo, na minha volta do café consumido no mercado municipal, ele está de guarda. 22h, ao voltar para a hospedagem, lá está ele a postos. Nunca o vi a prosear com outrem.  

No café no mercado, diariamente, um senhor de estatura mediana, branco, exibe desinibidamente, um frondoso bucho. Cumprimenta a todos. Não há muita gente no mercado.  Alguns espaços vendem café e refeição. Um açougue atende aos poucos fregueses. Uma banca vende frutas e verduras. O tempo é desprovida de agonia. O cachorro cochila em um canto. Pode ser por conta do calor. 

O mercado abriga vários espaços vazios.  Sem uso. Alguns justificam o preço imposto pela prefeitura como justificativa. O prédio antigo guarda um telhado novo.  Um pouco distante dali, logo cedo, jovens e adultos jogam futebol em quadra coberta recém inaugurada.  

Em uma viela um quarteirão ou dois do centenário mercado, um outro negocia somente peixes. Fica na ilharga do rio em uma rua desprovida de calçamento.  Uma estrutura precária, onde o esgoto corre a céu aberto e urubus vivem em rejubilo. 

Na orla havia uma feira da agricultura familiar. A estrutura encontra-se abandonada. Outros serviços também foram deslocados para outra parte da cidade por conta das cheias dos rios, a exemplo dos bancos. 

A orla concentra um bom número de hotéis. Em um deles é recorrente uma presença massiva de prestadores de serviço da Equatorial.  Após a privatização da empresa pública, a Rede Celpa,  o preço do serviço alcançou as galáxias e a qualidade foi para as profundezas dos abismos. 

O calor amofina a gente. Tanto que é comum os jovens empenarem pipa durante a noite. A competir com os morcegos. Ave noturna, insônia. Vagalumes de fogo avoando da boca da noite do Surubiú por entre carros de boi e rebojos por um melhor devir.  

 

3 comentários:

João Soares disse...

Sigo o Furo há algum tempo. Crónica muito fiel e triste. Coragem para vocês em defesa da Amazónia. Um abraço desde Portugal

João Soares disse...

Sigo o Furo há algum tempo. Força e coragem. Abraço desde Portugal

rogerio almeida disse...

salve João..agradeço a deferência e lembro que o espaço disponibiliza obras coletivas e autorais em livre acesso...