sábado, 15 de novembro de 2008

PISTOLEIROS CUMPREM AMEAÇAS E MATAM SEM TERRA, NO MUNICIPIO DE REDENÇÃO, SUL DO PARÁ.

Na noite de 12.11.08, cerca de 8 pistoleiros atacaram com muitos tiros, mais uma vez, o Acampamento Sardinha onde se encontravam 30 famílias e mataram o trabalhador rural José Ribamar Rodrigues dos Santos, na presença de sua esposa e de seus 03 filhos: uma menina de 03 anos e dois meninos 7 e 5 anos de idade.
As famílias estavam acampadas na margem da BR 158, próximo à Fazenda Vaca Branca (também conhecida por Fazenda Santa Maria), Município de Redenção, Sul do Pará, de propriedade de Maria de Fátima Gomes Ferreira Marques. Por volta das 21:30 chegaram os pistoleiros fortemente armados, encapuzados, vestidos com roupas camufladas, alguns usavam coletes e diziam serem policiais.
Os pistoleiros fugiram quando as famílias correram para pedir socorro a 2 caminhões que passavam na pista. Porém o lavrador José Ribamar Rodrigues dos Santos tinha sido gravemente ferido. Foi socorrido no Hospital de Redenção, mas não resistiu aos ferimentos e logo faleceu.
Lembramos que esses trabalhadores já vinham sofrendo ameaças desde o inicio de setembro de 2008, que comunicaram à Delegacia Especial de Conflitos Agrários (DECA), mas nada foi feito.
Destaca-se que no dia 16.10.08, este acampamento foi atacado por 8 homens armados, que naquela ocasião, também dispararam vários tiros, incendiaram os barracos e destruíram todos os pertences das famílias e ameaçaram de morte os trabalhadores. Naquele dia, mataram o cachorro de José Ribamar e o obrigaram a deitar-se no chão, na presença de sua família, dizendo: “deita pra tu morrer ao lado do teu cachorro”. Mas não mataram o lavrador por causa da presença de outros acampados que gritavam para não matá-lo.
Este ataque também foi comunicado à DECA, que não tomou nenhuma providencia para identificar os responsáveis, os quais voltaram agora ao local do crime e cumpriram as ameaças de morte e mataram Ribamar, na absoluta certeza da impunidade.
Denunciamos a conivência da DECA de Redenção com as milícias de fazendeiros. Até quando pistoleiros, policiais criminosos e mandantes vão continuar agindo na total impunidade na região Sul do Pará, especialmente em Redenção?
Xinguara-PA, 14 de novembro de 2008.
José Gonçalves de Moura Neto
FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES NA AGRICULTIURA - FETAGRI
Frei Henri Burin des Roziers
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA - CPT

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Povos da Volta Grande do Xingu: perplexidade e imprevisibilidade




O Encontro dos Povos da Volta Grande do Xingu, realizado na Ilha da Ressaca e no Travessão 27, neste fim de semana, permitiu a ribeirinhos, agricultores e índios que moram nas diversas comunidades da Volta Grande e em seu entorno (Arroz Cru I e II, Pirarara, Galo, Jurucuá, Paquiçamba, Ilha da Fazenda, Pimental e Ouro Verde) informar-se, analisar e discutir os prováveis efeitos da construção da barragem de Belo Monte, caso esta venha a ser realizada.

Na Comunidade da Ressaca, os organizadores e pesquisadores presentes ao Encontro constataram a perplexidade da população ao receber a informação já disponibilizada pela ELETROBRAS sobre a drástica redução do nível do Rio, no trecho que será desviado para os canais de interligação que, com 250 metros de largura e 12 km de extensão, ligarão o rio ao Reservatório.

Exímios conhecedores da região, defrontaram-se pela primeira vez com a insólita possibilidade de um "verão permanente", cujas conseqüências, com preocupação e perplexidade, começaram a antever: aquecimento da água, extinção de diversas espécies da fauna aquática, redução da pesca, abundância de carapanãs da pedra, extrema dificuldade de deslocamento, mudança radical das atuais condições de produção e de vida. Presente à reunião, a Senhora Marineide de Souza, em cuja infância enfrentou as dificuldades da seca no Nordeste, emocionada, com lágrimas que não conseguia segurar, disse aos seus vizinhos: - vocês não sabem o quanto é ruím não ter água, não ter água nem para dar a um filho … Numa reflexão conjunta, passaram da perplexidade para a indignação: - Porque não somos avisados de tudo isso que vai acontecer? Por que dizem pra nós que nós não vamos ser atingidos? O que é que eles pensam que é ser atingido? Apenas quem for expulso da terra é que será atingido? E todos os demais que serão afetados pela falta de peixe, pelo excesso de mosquitos, pela dificuldade de transporte para atravessar a barragem e escoar a produção?

No Travessão 27, as instalações da escola foram insuficientes para abrigar o grande número de agricultores e ribeirinhos presentes. A maioria já recebeu a informação de que terá que deixar a sua terra, a sua casa. Esta notícia já instaurou insegurança, preocupação. A imprevisibilidade do que vai acontecer, e, principalmente, de quando e como vai acontecer, tem tirado "noites de sono", de pais e mães de família que agora não sabem se devem plantar, se devem fazer benfeitorias em seus lotes ou melhorias em suas casas. Nenhuma informação sobre o que lhes poderá acontecer lhes foi dada - somente o destino incerto do deslocamento forçado. O senhor Benedito Balão, com 85 anos, nascido e criado na Boca do Gaioso, diz que pela primeira vez não sabe o que vai fazer da vida. Só tem uma certeza: "dali não quero sair. Foi ali que eu nasci, nasceu meu pai, nasceram meus filhos".

Neste caldeirão de incertezas, as placas e as picadas abertas nos terrenos dos agricultores, pela Eletronorte, contribuem para aumentar a insegurança quanto ao futuro das famílias e são mais uma fonte de pressão. Durante o encontro, agricultores e ribeirinhos informaram que alguns já venderam os seus lotes, outros desistiram de seus projetos. A maioria está disposta a se organizar para defender os seus direitos, o seu rio, as suas vidas. Todos já são vítimas da perplexidade e da imprevisibilidade.

O Movimento Xingu Vivo para Sempre, com estes encontros, dá prosseguimento a uma série de atividades que se estenderão por toda a área prevista para ser ocupada pelo reservatório, canteiros de obras e vilas residenciais, bem como por toda a área a jusante da suposta Barragem.

O Movimento Xingu Vivo para Sempre denuncia também que na reunião com os trabalhadores rurais no Km 27 da Volta Grande, funcionários da Eletronorte chegaram filmando e tirando fotos dos palestrantes e participantes na reunião, formas de intimidação e constrangimento praticas que utilizavam na época da ditadura militar, que infelizmente continuam. Pois sequer falaram com os organizadores do evento.
Para maiores contatos:
Antonia Melo (93 3515 2406)
Movimento Xingu Vivo Para Sempre e ou Nilda (Cimi) (93) 3515 2312

Mineração na Amazônia e a crise da economia mundial

Quando o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) anunciou a realização da Exposição Internacional da Mineração da Amazônia, no Centro de Convenções Hangar em Belém, que ocorreu entre os dias 10 a 13 de novembro, a crise econômica mundial ainda não havia dado o ar de sua graça em plagas regionais. O anúncio foi realizado pelo menos um mês antes.

O vendaval da especulação da economia fez com que o pólo de siderurgia de Carajás entrasse em refluxo. As empresas instaladas nas cidades de Marabá, sudeste do Pará e no município de Açailândia, oeste do Maranhão, promoveram vários expedientes para manter o quadro funcional, entre eles férias coletivas.

José Sampaio, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Açailândia, reflete que o clima é de incerteza. A imprensa local salienta que o comércio local já foi atingido pela crise e que houve uma redução de 25% de sua dinâmica. Sampaio informa que o setor deu férias coletivas a 20% dos funcionários no dia 31 de outubro. O sindicato tem orientado para que os operários não façam dívidas.

Foto-R.Almeida - presidente do Sindicato dos Metalúrgicos teme a perda de postos de trabalho-Açailândia-MA









O ferro gusa da região tem os EUA como o principal destino. O mercado americano consumiu no ano passado cerca de 5.95 milhões de toneladas, mais de 60% das exportações nacionais. A queda de preços tem sido vertiginosa, a tonelada que chegou a U$900 no começo do ano, em agosto ocupou a casa de U$500 a U$600, e por último as empresas estrangeiras ofereciam U$380, quando o patamar suportável é a casa dos U$500, conforme matéria do Valor Econômico do mês de outubro.

O site oficial do evento festeja a participação de 85 empresas de várias partes do país, como São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Ceará, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul e Bahia, deste total 25 empresas são do Pará. O estado é um gigante do setor, e muito se deve aos números estratosféricos da mina de Carajás.

Cogita-se que pelo menos cerca de 80% do superávit da balança comercial do Pará deve-se ao extrativismo do minério de ferro. A se considerar o delicado contexto, o evento que propagou ser uma oportunidade de lançamento de novas tecnologias e métier de negócios, deve te ganho outros ares.

O clima do evento tornou-se mais sombrio com a libertação de 51 pessoas em condições análogas a escravidão em carvoarias no sudeste do Pará no dia da abertura. Entre os libertados mulheres e menores de 15 anos. Foto-Roberto Ripper- www.imagenshumanas.com.br






As grandes corporações da mineração em nota à mídia celebram os louros do evento, onde, segundo eles, pode-se notar a preocupação com a questão da sustentabilidade. Ao se visitar os grotões onde as empresas operam, um outro mundo desponta. Parece que os especialistas estão de um outro planeta. Sobre a questão, o professor de semiótica Edílson Cazeloto em artigo intitulado: Entre ecorrevolucionários e ecorreformistas o papel da mídia, publicado na edição 36, setembro/2007 da revista Democracia Viva/IBASE, esclarece com sobriedade a disputa sobre a categoria.

Em um trecho da análise o professor enfatiza: “Enquanto a maior parte da humanidade vê no aquecimento global a iminência de uma tragédia ímpar, os bens aventurados do capital, já sentem no ar o cheiro de oportunidades para o lucro. Para essa parcela, a sustentabilidade tornou-se uma forma de agregar valor às marcas de seus produtos e ao capital de suas empresas. É o chamado capitalismo verde, que vem ganhando a adesão de empresas (na maioria, corporações globais) como um novo Eldorado.”


Foto-R.Almeida - ponte ferrovia por onde o minério de Carajás para o pólo de Açailânida. Abaixo o riacho Quarenta-Açailândia-MA

Foto- R.Almeida - ponte ferroviária por onde chega o minério de Carajás-Pequiá-Açailândia-MA











O Pólo de Carajás – Em artigo do sociólogo e agrônomo Raimundo Gomes da Cruz Neto, ele dispara que já no século VII tem-se registro da atividade de siderurgia no mundo. No século XIX a indústria impulsionou a economia dos Estados Unidos. No Brasil a atividade ganha relevância no início dos anos de 1930, tempos de Getúlio Vargas. A atividade aporta no Pará nos anos 1980, através do Programa Grande Carajás (PGC), ao apagar da ditadura militar. O autor acompanha os abissais processos de transformações da região de Carajás de velha data.

15 empresas constituem o pólo, sendo oito no Pará e sete no Maranhão - são responsáveis, atualmente, por mais de 60% das exportações brasileiras de ferro-gusa, o principal insumo na indústria do aço, informa site do Sindicato das Empresas de Ferro Gusa do Estado do Pará. Um dos setores interessados é a indústria bélica.

A Vale é quem fornece a matéria prima para a produção de gusa do pólo de Carajás, que há mais de duas décadas ativa uma série de cadeias de destruição ambiental e de formas análogas de trabalho escravo através da produção de carvão vegetal.

Medidas mitigadoras?
A pressão nacional e internacional fez com que o setor lançasse em fevereiro de 2007, um fundo de reflorestamento. 11 empresas aderiram. A iniciativa é no mínimo estranha, posto entre as exigências para a instalação das empresas na região, que se deu a partir de uma política de renúncia fiscal através da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), um dos itens impostos recai sobre uma política de reflorestamento. Uma outra medida, esta no sentido de fazer oposição ao trabalho escravo foi a criação do Instituto Carvão Cidadão (ICC), ou seria uma mera questão de markenting, travestida em responsabilidade social?

Por essas e outras as siderúrgicas foram multadas em R$ 550 milhões no ano de 2005, que poderia chegar a até R$ 770 milhões, se fosse aplicado o que rege o Código Floresta e a Lei de Crime Ambiental. Hoje, só no Distrito Industrial de Marabá estão em funcionamento oito siderúrgicas, perfazendo um total de 17 alto fornos, para uma produção de quase três milhões de toneladas de ferro-gusa, recupera Raimundo Gomes em artigo intitulado Siderurgia em Carajás- 20 anos de destruição. No Pará a Secretaria de Meio Ambiente realizou várias operações de fiscalização para ajustamento de condutas das empresas.

Foto-R.Almeida-Caçamba deposita mais escória na montanha do resíduo de ferro gusa-Pequiá-Açailândia-MA










Neste contexto a monocultura de eucalipto tem assim florescido em alguns municípios do nordeste do estado, na região de Paragominas e em Marabá e São João do Araguaia, a sudeste. No Maranhão existe desde remotos tempos, com a destruição do cerrado. O propósito era a implantação de fábrica de celulose, que não veio a deslanchar, devido ao recuo de um grupo oriental. O que ocorreu foi o não cumprimento de um item do acordo por parte das empresas. Um dos muitos descumpridos.

Maurílio de Abreu Monteiro, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), explica que para a produção de uma tonelada de ferro gusa é preciso queimar 2,6 toneladas de madeira. Como a produção de gusa na região Norte em 2003 foi de 2,2 milhões de toneladas, isso representa a queima de 5,7 milhões de toneladas de madeira. David Carvalho, economista, também professor da UFPA em vários artigos sobre a mineração atesta tratar-se de um projeto de enclave, em resumo, não dinamiza a economia local.

Antes do turbilhão da crise, o cenário da mineração no Pará vivia um momento de ampliação com a expansão de várias frentes de exploração, que ultrapassam a fronteira de Carajás, como no caso dos municípios de Ourilândia do Norte, Tucumã, Xinguara, São Félix do Xingu, Paragominas e Juruti. Vale e Alcoa protagonizam o momento de transbordamento das frentes.

Momento marcado por tensão entre trabalhadores rurais assentados pela reforma agrária a Mineração Onça Puma, do grupo Vale. As organizações de defesa dos direitos humanos da região, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), tornaram a situação pública.

Não bastassem as questões de ordem ambiental e social, soma-se ao setor a Lei Kandir, que isenta de imposto a exportação dos minérios e semi-elaborados. O descompasso rege a modalidade de extrativismo mineral, enquanto o faturamento da Vale cresce, somente no Pará tem sido maior que o crescimento nacional, a região de Carajás coleciona passivos de toda ordem.


Foto-R.Almeida - montanha de escória da produção de ferro gusa-Pequiá-Açailândia-MA












21 municípios do Pará estão entre os cem que mais desmatam na Amazônia. Dessas duas dezenas de cidades, 19 estão no sudeste do Pará, que além da mina abriga o pólo siderúrgico. Boa parte desses municípios ocupa linha de frente em desmatamento e também lidera o ranking de violência. Os estudos foram realizados através do Projeto Prodes – Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite/2007. Uma outra questão, esta de ordem trabalhista, reside em índices recordes de ações contra a Vale no município de Parauapebas.

Gusa em Açailândia- A oeste do Maranhão no município de Açailândia operam quatro empresas, Vale do Pindaré, Viena Siderúrgica, Gusa NE e Fergumar y Simasa. Relatórios da área ambiental atestam que as empresas não nutrem demasiado zelo quando o assunto é meio ambiente. Todos os resíduos ganham a vizinhança sem nenhum tratamento, Famílias afetadas pelas poluições das empresas, em particular da GUSA NE, com sede em Belo Horizonte e filiada ao ICC, têm denunciado a questão. Ao total são 20 processos contra a empresa, que dura mais de três anos. As mesmas reivindicam indenizações da gusa.


Foto-R.Almeida - placa adverte que escória da gusa pode matar-Pequiá-Açailândia-MA










Dois relatórios que abordam os impactos do pólo de gusa sobre a vizinhança se complementam quanto os danos provocados à saúde das famílias do Destrito Industrial de Pequiá, onde as empresas encontram-se instaladas. Informações do relatório da perícia ambiental realizada no fim de 2006 e apresentado em março de 2007 pelo perito Ulisses Brigatto Albino, para a Vara Judicial da Comarca de Açailândia indicam desleixo em várias situações sobre a operação da GUSA NE. A empresa opera amparada por Licença de Operação fornecida pela Secretaria de meio Ambiente do Maranhão, com venceu no dia 19 de outubro.

Foto- R.Almeida- Em Pequiá as casas são simples e não há saneamento básico-Açailândia-MA












Um estudo realizado pela engenheira ambiental Mariana de la Fuente Gómez, datado de 2007, ratifica os dados sobre os danos ao meio ambiente e à saúde dos moradores da região. Edvar e Joaquim, dois senhores que mobilizam os moradores para a organização da luta pelos seus direitos, lembram que a comunidade existe desde a década de 1970, e que o pólo começou nos anos 1980. Eles lembram que ainda havia muita mata na região e que a exploração da madeira foi a primeira frente da economia do lugar.

Foto-Irmão Antonio- tempestade de escória em Pequiá-Açailândia-MA










Distrito de Pequiá
As casas ficam emprensadas entre a BR-222, num elevado, e a empresa. A perícia indica que a presença das famílias antecede as empresas. A idade das árvores dos quintais, muitas com mais de 20 anos, que ultrapassa o período de instalação das gusas atesta a tese.


Foto-R.Almeida - cenas cotidianas de Pequiá-Açailândia-MA












A empresa Gusa Nordeste opera três alto-fornos, nenhum possui filtro anti-partículas nas chaminés, que emitem grande quantidade de fuligem de carvão e minério. Em todas as seis casas visitadas pelo perito o pó da fuligem foi encontrado. Os pátios das empresas ficam próximo aos quintais das casas. Os riachos padecem com os resíduos das fábricas e com o esgoto sem tratamento das moradias.

Foto-R.Almeida- Gusa NE- quintal de D. Franscisca-Pequiá-Açailândia-MA












Gases, fuligem, poeira, águas poluídas e escória são alguns dos agentes da poluição da comunidade de Pequiá, que soma cerca de 1.500 famílias em moradias humildes, muitas de madeira e não atendidas com saneamento básico. Problemas de ordem respiratória, alergias, dores de cabeça são algumas das queixas dos moradores, que já registrou até o óbito de uma criança.

Foto- R.Almeida-Sr. Edvar mostra o seixo usado na fábricação da gusa- Pequiá-Açailândia-MA











Entre as poluições provocadas pela GUSA NE a perícia ambiental verificou os seguintes pontos: a) fuligem - provoca a poluição do ar; b) poeira-carvão vegetal, minério e o seixo compõem parte da matéria prima para a produção do minério. Uma trituração antecede a queima nos alto-fornos, o que provoca a emissão de pó, posto o composto ser transportado através de esteiras; d) gases - a ausência de filtros químicos ou aparelhos de incineração de gases faz com que vapores proveniente da combustão dos alto-fornos sejam lançados na atmosfera sendo espalhados pelo vento. A temperatura oscila em 1800 a 2000º C. A análise do perito sinaliza que ainda que não prejudiquem a saúde humana, os gases emitidos no processo contribuem para o aquecimento global; e)água de resfriamento-a água é que faz o resfriamento dos alto-fornos, que é retirada do riacho Pequiá e armazenada em caixa d’água. Através da gravidade a água resfria os fornos e volta ao riacho, carregando resíduos que atravessam vários quintais.

Foto-Irmão Antonio- poluição no Destrito de Pequiá-Açailândia-MA













O laudo do perito Ulisses Brigatto revela uma pororoca de problemas. Somam-se aos demais indicados acima a drenagem das águas das chuvas. O laudo da perícia ambiental atesta que as poças de água são comuns nos pátios da empresa. A água contém ferro e outros elementos provenientes da siderurgia e pode carreá-los para corpos d’água localizados próximo à empresa.

A empresa não conta com rede de captação e tratamento de águas pluviais. Os resíduos são lançados para fora da empresa para uma lagoa 400 metros de distância. Há registro da poluição das águas dos poços consumidas pelos animais domésticos, que fazem parte da dieta das famílias.


Um grave problema é a escória, que alguns tratam de munha ou moinha. Uma parte do resíduo pode ser usada na construção civil, calçamento de rodovias ou como suporte de construção de ferrovias. Uma outra se devidamente tratada, pode ser usada em fertilizante.

O contato com o ambiente pode causar sérios danos à natureza e intoxicação de plantas, pessoas e animais. A escória é depositada a céu aberto próximo a um riacho conhecido como Quarenta, ainda que poluído, continua a ser lugar de diversão de alguns moradores. É comum a lavagem de carros e a visita de animais.

O laudo de Brigatto propõe que a empresa se equipe com filtros anti-partículas nas chaminés, incineradores de gases e rede de drenagem. E que a escória seja acodicionada em uma caixa de concreto, ao contrário do que ocorre hoje, uma montanha a céu aberto sujeita a ser espalhada sobre as moradias próximas por conta das pancadas dos ventos. O laudo sugere a remoção das famílias que moram próximas à GUSA NE.

Vizinhos em conflito
Francisca da Silva é uma senhora negra e energética. Fala com profunda indignação sobre os impactos da fábrica, que praticamente fica no quintal de sua casa, Dona Francisca reclama do ruído da fabrica, posto a indústria operar 24h ininterruptamente. “Tenho um marido adoentado pelo derrame. Outro dia a fábrica soltou um gás na madrugada. Todo mundo da casa saiu correndo para a rua com medo de explosão”, informa a senhora.

Foto-R.Almeida-D. Francisca- queixa-se da poluição das fábricas-Açailândia-MA











O Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos (CDVDH), ONG com sede em Açailândia tem sido um mediador da luta das comunidades afetadas ao lado dos padres e irmãos cambonianos. O CDVDH também é procurado em casos de trabalho escravo.

É ele quem denuncia dois graves acidentes na escória depositada cerca de 450 metros da fábrica.
Os relatórios do CDVDH indicam que o primeiro ocorreu em setembro de 1992 com um garoto de oito anos. O segundo com outro garoto de sete anos Gilcivaldo Oliveira de Souza. A família indica que o menino se acidentou na montanha da escória e que provocou queimaduras de terceiro grau. Gilcivaldo veio a óbito no mês de dezembro do mesmo ano do acidente.

Foto-R.Almeida- sede do CDVDH-Açailândia-MA











A empresa argumenta em sua defesa que o garoto se acidentou em uma caieira, prática comum para a produção de carvão. O segundo acidente ocorreu em novembro de 2001, em novembro com o jovem de 21 anos, Ivanilson Rodrigues. O jovem sofreu queimaduras de terceiro grau e carece de cuidados especiais. Após várias situações de conflito entre a empresa o vitimado e o CDVDH a empresa garantiu o tratamento em clinica particular. Todos os casos foram encaminhados para o Ministério Público Federal.

Foto-irmão Antonio- Seminário Justiça nos Trilhos- Pequiá-Açailândia-MA












Justiça nos Trilhos
As demandas colocadas acima é que mobilizam um coletivo de organizações populares no movimento Justiça nos Trilhos. O gripo pretende fazer o debate sobre as questões no Fórum Social Mundial, que ocorre entre janeiro e fevereiro de 2009, em Belém. O coletivo busca a partir de estudos que estão sendo realizados pelas universidades federais do Maranhão e Pará, a construção de medidas que diminuam os impactos do setor nas comunidades atingidas e a garantia de um fundo de desenvolvimento, extinto após a privatização da Vale em 1997.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Tribunal da Terra- memória da luta

Foto-Miguel Chikaoka





No mês passado o Estado Brasileiro foi notícia por conta de audiência na Organização dos Estados Americanos (OEA), pela violação dos direitos humanos. O motivo foi a chacina de camponeses no Pará, caso Ubá, ocorrido na década de 1980, em São João do Araguaia. A década considerada a mais sangrenta na luta pela terra no estado, motivou a realização do Tribunal da Terra, um fórum de caráter simbólico. Por esses dias, em Brasília, deve ocorrer uma reunião sobre o assunto.

A década de 1980 é considerada a mais violenta na região da tríplice fronteira do sudeste do Pará, oeste do Maranhão e norte de Goiás, hoje o estado do Tocantins. Os anos registram várias chacinas e execução de dirigentes sindicais camponeses e seus aliados, e mesmo de famílias, como no caso dos Canuto de Rio Maria.


O Tribunal da Terra, uma instância de caráter simbólico, surgiu a partir de tal demanda.A iniciativa foi da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) e contou com o apoio da CPT, OAB, MMCC, CNBB, CUT e CEDENPA. Ocorreu em Belém entre os dias 18 e 19 de abril de 1986, no Palácio da Justiça.


Teve como objetivo levantar denúncias contra multinacionais, Estado e o latifúndio.O advogado e deputado federal/PT/SP, Luiz Eduardo Greenhalgh, o cutista Jair Menegheli, Pe. Josimo Tavares, Avelino Ganzer, o advogado José Carlos Castro constavam como representação da sociedade civil. O Pe. Ricardo Rezende trabalhou como advogado de acusação.


As chacinas Surubim e Ubá constavam no rol de casos, que somou 83 mortes no ano de 1985 na região. Registraram-se ainda o assassinado do sindicalista Benedito Bandeira ocorrido no município de Tomé Açu, onde a comunidade revoltado com a execução destruiu a delegacia e matou os três pistoleiros, que receberam CR$ 5.000,00 do fazendeiro Acrino Breda, que nunca chegou a ser preso pelo caso.A área em disputa era a fazenda Colatina. As execuções da missionária Adelaide Molinari e do sindicalista Arnaldo Deocídio também foram pontuadas.


O Pe Josimo que coordenou a CPT de Imperatriz, Maranhão, morto no dia 10 de maio de 1986, participou do Tribunal para denunciar o atentado que sofrera.Um mês depois foi executado com tiros dados pelas costas. A sentença do Tribunal decidiu: que o Estado deveria ser controlado pelos operários; já as multinacionais seriam nacionalizadas, sendo controladas pelo Estado e o latifúndio deveria acabar tendo as terras distribuídas de forma igualitárias para os trabalhadores rurais.

O advogado José Carlos Castro,assim avaliou o Tribunal: ”Esse Tribunal é um Tribunal porque não pode ser considerado apenas uma informação, porque tem uma expressão política muito forte para a consciência do povo, para a divulgação do que ocorre no campo. É um material de propaganda de novas idéias. (Jornal Resistência, Ano VIII, Nº 71, abril/maio de 1986).O Jornal Resistência foi editado pela primeira vez em 1978, e circulou de forma regular até 1983. Ganhou por inúmeras vezes o prêmio nacional de defesa dos direitos humanos Wladimir Herzog.

Preparação para o FSM agenda de novembro


13 e 14 - Oiapoque (AP) - Encontro Sem-Fronteiras do Oiapoque com o tema "Migrações Humanas". O eventro é uma preparação da Pan-Amazônia ao FSM 2009 e visa identificar e debater os problemas comuns às populações da região fronteiriça entre Brasil, Suriname e Guiana Francesa.
15 e 16 - Santarém (PA) - Pré-Fórum Social Mundial do Oeste do Pará - A tensão entre a grande corporação e camponeses e outras questões mobilizam um coletivo de organizações no seminário "UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL PRESERVANDO A AMAZÔNIA" que se sub-divide nos debates sobre: 1. O processo predatório de urbanização das cidades da Amazônia; 2. Educação Amazônia e a formação da consciência crítica e 3. Caminhos de resistência dos povos da Amazônia.
27 a 29 - Belém (PA) - Encontro da rede Fórum da Amazônia Oriental (FAOR) em preparação da Amazônia Oriental Brasileira para o FSM 2009. O evento no auditório da CNBB. Contatos - faor@faor.org.br/rede.faor@gmail.com/ (91)3261 4334.

Justiça obriga prefeitura a concluir construção de escola indígena

A Justiça Federal estabeleceu um prazo de 90 dias para que a prefeitura de Itupiranga, no sudeste do Pará, conclua a construção do prédio da escola localizada na aldeia Ororobá, do povo indígena Atikum. A decisão liminar (urgente) também determina que o município passe a fornecer regularmente material didático e alimentos para o preparo da merenda escolar. Caso não cumpra a decisão, o prefeito Adécimo Gomes dos Santos terá que pagar multas de até R$ 5 mil por dia.
A decisão do juiz federal Carlos Henrique Haddad, de Marabá, foi tomada no último dia 6 a pedido do Ministério Público Federal. No início de setembro o procurador da República Marco Mazzoni ajuizou ação civil pública em que relatava uma série de irregularidades na gestão dos recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) que deveriam ter sido aplicados na aldeia.
Com base em denúncias feitas pela comunidade indígena, em agosto de 2007 o MPF questionou o município sobre a falta de providências para a recuperação da única escola que atendia as crianças Atikum. Como não recebeu resposta nenhuma, Mazzoni voltou a encaminhar ofícios à prefeitura de Itupiranga em setembro e novembro do ano passado, também sem sucesso.
Só depois de solicitar informações à Fundação Nacional do Índio (Funai) é que o MPF pôde comprovar as denúncias da comunidade: durante todo o primeiro semestre do ano passado a escola não recebeu materiais didáticos nem merenda escolar, o projeto de construção da escola não foi submetido à avaliação dos indígenas, a obra não foi concluída e só foi contratado um professor para dar aulas em todas as quatro séries do ensino fundamental.

“É visível o menosprezo no tratamento da coisa pública”, critica o procurador da República no texto da ação. Mazzoni também pediu a condenação do município por danos morais coletivos, mas o pedido ainda não foi julgado.

Processo nº 20083901001224-6 - Justiça Federal em Marabá

Murilo Hildebrand de Abreu
Assessoria de Comunicação
Procuradoria da República no Pará
Telefones: (91) 3299-0177 / 3222-1291
E-mail: murilo@prpa.mpf.gov.br

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Oeste do Pará realiza seminário preparatório rumo ao FSM


O oeste do Pará é uma fronteira para onde se alastra o agronegócio da monocultura de grãos, baseada na soja da multinacional Cargil, em particular no município de Santarém. O Greenpeace e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) têm denunciado o processo de degradação ambiental, apropriação de terras públicas e expropriação camponesa.


A prefeitura dirigida pelo PT lançou um documento afirmando que o diabo não é tão ruim assim como se pinta, onde advoga que não houve a expulsão do homem do campo por conta do plantio exótico em solo amazônico.


A cultura teve a comercialização vetada no mercado mundial por conta da destruição da floresta na região.

A tensão entre a grande corporação e camponeses e outras questões mobilizam um coletivo de organizações no Fórum Social do Oeste do Pará a realizar nos dias 15 e 16 o seminário "UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL PRESERVANDO A AMAZÔNIA" que se sub-divide nos debates sobre: 1. O processo predatório de urbanização das cidades da Amazônia; 2. Educação Amazônia e a formação da consciência crítica e 3. Caminhos de resistência dos povos da Amazônia.
O evento ocorre no município de Santarém, oeste do Pará, na Escola São Raimundo Nonato. O seminário é preparatório para o Fórum Social Mundial, que ocorre em Belém no fim de janeiro e início de fevereiro de 2009.



PROGRAMAÇÃO

1º- Dia (15/11/08) 8:00 h
Abertura: PE EDILBERTO SENA
Trabalho de grupos:
Palestra: O PROCESSO PREDATÓRIO DE URBANIZAÇÃO DAS CIDADES DA AMAZÔNIA
Palestrante: João Gomes (FASE)

Mediador: Alexandre Jurunas (UFPA)

Debate TARDE Trabalho de grupos:

Palestra: EDUCAÇÃO AMAZÔNICA E A FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA CRÍTICA

Palestrante: Raimundo Gomes da Cruz Neto (Marabá)

Mediador: Raimunda Costa (UFPA)

Debate 2º- Dia - (16/11/08) Trabalho de grupos:

Palestra: CAMINHOS DE RESISTÊNCIA DOS POVOS DA AMAZÔNIA (experiências de produção alternativa – produção agroecológica, cultural, etc.)

Palestrante: Aluísio Leal Mediador: Antonio Edilson (Berê)

Painel: Antonio Vieira (Belterra; Sr. Francisco (Rurópolis)

Casa da Família Rural


Debate TARDE Sistematização das propostas: EUNICE SENA

Leitura das propostas pelos coordenadores de cada grupo – Formar comissão para apresentação em Belém.


Mais informações (93) 3524-5110.

Outra Amazônia - laboratório das biocivilizações do futuro



Ignacy Sachs aportou no Brasil faz muito tempo, O polonês chegou como refugiado de guerra. É economista e sociólogo e um dos formuladores do conceito de desenvolvimento sustentável, considerado uma questão paradoxal por muitos. Como combinar desenvolvimento, intenso em uso dos recursos naturais com sustentabilidade, que pressupõe a eqüidade social e econômica e o uso ponderado dos recursos?

Os sinais de esgotamento do modelo de desenvolvimento, movido a combustíveis fósseis, que ainda rege a economia mundial saltam aos olhos. E em quase toda parte olhos se lançam sobre a grande possibilidade de uma outra matriz no hemisfério Sul.

As amazônias preponderam quando se tratada da farta sócio-biodiversidade e horizontes.Na observação de Sachs, ”A Amazônia tem condições de prestar um duplo serviço à humanidade: ambiental e econômico. É legítimo reivindicar a remuneração dos serviços ambientais prestados pela floresta amazônica mantida em pé a todos os passageiros da nave espacial Terra, inclusive aos brasileiros que vivem fora da Amazônia, idealmente por meio de uma parcela de um imposto universal sobre o carbono emitido [8].”
A integra do artigo que servirá de base para o seminário Outra Amazônia - laboratório das biocivilizações do futuro, que acontecerá em Brasília (12/11 - UnB) e São Paulo (17/11 - Tuca/PUC), pode ser lido no link, http://diplo.uol.com.br/2008-11,a2646.

Belém- amanhecer do dia
















Amanhecer do dia em Belém. É pouco mais de cinco horas. Os carros ainda não se apressam e enchem o dia com as suas buzinas. Pela cor das nuvens as coisas parecem agitadas lá em cima. Espero que seja um bom dia.

Coisas cotidianas



O Ver o Peso é o lugar mais visitado na cidade de Belém. Vira e mexe uma equipe de filmagem de algum lugar do mundo baixa na feira. Diz a lenda que a cidade começou por lá. O logradouro fica no bairro chamado de Cidade Velha, vigiado pela baía do Guajará.
Ontem uma dessas equipes de filamgem, segundo o vendedor de CD´s "piratas" o pessoal falava português, perdeu parte do equipamento ao tentar captar imagens dos barcos que chegam do município de Barcarena. Parece-me que foi uma lente especial.
R$50,00 foram ofertados a quem conseguisse achar o equipamento nas águas barrentas e agitadas pela maré de lua. Alguns se candidataram. Passados mais de 60 minutos nada foi achado.
Três policiais faziam a escolta da equipe. O fato irritou D. Mira, veterana barraqueira do pedaço, que argumentou indignada, " sempre que a gente precisa não tem um FDP desses por aqui".
Duas horas de viagem de barco separam Belém de Barcarena. No percurso, furos, mangues e assoreamento.
A cidade abriga duas indústrias de produção de alumínio da Vale, que deseja erguer uma poluente usina termoelétrica, para suprir com energia a gula das gigantes do setor do mercado nacional.
A energia é o principal insumo para a produção de alumínio.
As empresas consomem mais energia que a cidade de Belém, que soma mais de um milhão e meio de habitantes.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Amazônia Sustentável



As amazônias inquietam uma diversidade de interesses e disputas nos mais diversos campos e tendências políticas e ideológicas. Passa pelas corporações da mídia grandalhona, como o grupo Globo, e vara a partidos políticos, a exemplo do PC do B. O primeiro abriu um portal somente para tratar do assunto, já o segundo tentou uma revolução socialista nas matas do Araguaia no fim da década de 1960.

Com a aproximação do Fórum Social Mundial, http://www.fsm2009amazonia.org.br/forum-social-mundial, parece que todos se apressam na demarcação do território na fronteira da região, tão incompreendida e terra incógnita para nativos e estrangeiros daqui e de além mar. Na noite o setor de mineração inaugurou um evento nacional, em Belém. Ao mesmo tempo, na mesma cidade, os sem terra abriram um seminário sobre cultura brasileira.

Nos dias 28 e 29 de novembro, o PC do B realiza o Seminário Amazônia Sustentável. Ana Júlia Carepa, governadora do Pará, e Walmir Ortega, da pasta de meio ambiente do estado, são alguns dos animadores do debate. A Ortega caberá o espinhoso debate sobre gestão de florestas. Adalberto Val, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), vai fazer provocações sobre as riquezas, desafios e particularidades das amazônias. http://www.pcdob.org.br/seminario/

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Tragédias amazônicas

Bateria de fornos no sudeste do Pará- Arquivo do Cepasp-Marabá-PA

Na noite de abertura da Exposição Internacional da Mineração da Amazônia, promovido pelo Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), em Belém, 51 trabalhadores são libertados de seis carvoarias no sudeste do Pará em condições análogas a escravidão pelo Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE).
Os operários estavam em carvoarias nos municípios de Abel Figueiredo e Rondon do Pará. Entre os libertos adolescentes de 15 anos e mulheres. Noticia o site Repórter Brasil, em matéria de Bianca Pyl.

As carvoarias alimentam com carvão vegetal o pólo de gusa de Carajás no município de Marabá, no sudeste do Pará e Açailândia, oeste do Maranhão. O pólo responde por cerca de 60% da produção ferro-gusa do país. O setor de gusa anima um processo de desmatamento e trabalho escravo.

Em questão de trabalho escravo o Pará é top de linha. Além do trabalho escravo, a região detém boa parte dos municípios que mais desmatam na Amazônia. Um outro passivo que não deverá ser lembrado na reunião de 85 empresas de vários estados do país e do exterior é que a região também lidera o ranking dos municípios mais violentos.

A renúncia fiscal através de programas federais deu uma baita de uma mão para que os empreendimentos surgidos lá no Vale do Rio Doce, prestes a óbito, em Minas Gerais, aportassem em terras amazônicas.

Uma brisa da crise afeta o setor na região, que já promoveu férias coletivas. Ralé em tecnologia, sem dinamizar a economia local, isento de impostos de exportação por conta da Lei Kandir, as grandes empresas advogam que é possível a geração de um desenvolvimento sustentável como nunca se viu.

Tudo isso depois de mais de duas décadas de cláusulas não cumpridas, entre elas o reflorestamento.

Ampliado até 14 de novembro o prazo de inscrições para atividades no FSM 2009


O prazo para a inscrição de organizações que desejam propor atividades autogestionadas durante o Fórum Social Mundial 2009, em Belém, foi ampliado até o dia 14 de Novembro. Nesta primeira etapa, apenas organizações, redes e movimentos da sociedade civil estão convidados/as a fazer o registro. Em breve estarão abertas também as inscrições de participantes individuais, veículos de imprensa e atividades culturais, além das atividades descentralizadas de Belém Expandida.

O FSM 2009, que acontecerá entre 27 de janeiro e 01 de Fevereiro de 2009, em Belém (Pará, Brasil) terá centenas de atividades autogestionadas, propostas e realizadas por organizações da sociedade civil de todo o planeta.A inscrição de organizações deve ser feita através do site http://inscricoes.fsm2009amazonia.org.br/. O cadastro de organizações permite também a inscrição de uma ou mais atividades autogestionadas para o território do FSM. Organizações inscritas até o dia 14 de Novembro podem alterar ou cadastrar atividades até o dia 30 de Novembro.

Frei Betto e Deus


Uma pequena maldade com Frei Betto, lendo sua homilia de domingo na “Folha” (clique aqui), “Valoriza o Teu Voto”:
“Nas eleições deste ano, não te submetas ao desencanto, à inércia, à frustração, fraudando o teu voto como moeda sem valor."
Certa vez, Frei Betto chegou para o romancista Raduan Nassar e perguntou: “Raduan, o que eu faço para escrever como você?”. E Raduan: “A primeira coisa é parar de falar em Deus nos seus escritos”.
Luis Nassif

Novo documento pode comprovar a participação de mais um fazendeiro no assassinato da missionária Dorothy Stang


As freiras Rebeca Spires e Julia Depweg, que trabalharam durante 30 anos com a missionária Dorothy Stang, mostram documentos que pode comprovar a participação de mais um fazendeiro no assassinato da religiosa Foto: Roosewelt Pinheiro/Abr
Um documento recebido no final da tarde de 7/11, pelas freiras Rebeca Spires e Julia Depweg – que trabalharam durante três décadas com a missionária Dorothy Stang – pode mudar os rumos do processo do assassinato da freira.


A cópia da ata de uma reunião, enviada via fax, comprovaria que o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, acusado de ser o principal mandante do crime, procurou o escritório do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Altamira (PA), no último dia 28, para doar parte do lote onde Dorothy foi morta e que ele mesmo afirmava que não estava mais em seu nome.


Em entrevista à Agência Brasil, no dia 8/11, as religiosas explicaram que a proposta de Galvão ao Incra consiste em doar parte do lote 55 – que até então, ele dizia ser do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida. Em troca, ele pediu autorização para colocar gado na outra porção da terra.


O documento indicaria que Galvão, ao contrário do que vem afirmando desde 2004, mantém o controle do lote e, portanto, segundo as freiras, teria motivos para encomendar o assassinato da missionária.


Em Anapu, cidade do interior do Pará onde Dorothy vivia, cerca de mil pessoas participam no sábado, 8/11, de audiência pública que discute o caso. Uma cópia da ata da reunião no Incra e de comprovantes de compra e venda do lote 55 entre Galvão e Bida,serão apresentadas.na audiência. A idéia, de acordo com as religiosas, é mostrar que os documentos são contraditórios e que o lote nunca foi propriamente de Bida.


“Irmã Dorothy era muito danadinha e ia mesmo atrás. Depois que ela morreu, foi anunciado pelo Incra que o lote 55 estava seguro e não está. Muita coisa foi anunciada, muitas promessas foram feitas. O Incra trabalha com duas bocas e o povo está continuando o que Dorothy começou”, disse a irmã Rebeca.

Para ela, a missionária estava “incomodando demais” porque queria desmanchar o esquema de falsificação de documentos e de impunidade dos fazendeiros no Pará. Ela reforçou que Bida não morava no lote 55 e que seu nome apareceu apenas após a denúncia contra Galvão. A religiosa lembrou que Bida é conhecido na região “por ter dado fim a muita gente” e que, por essa razão, teria sido contratado por Galvão para orquestrar o crime.

“Foi dito em Anapu: temos que liquidar esta irmã [Dorothy] para ter paz”, relatou irmã Julia, sem citar nomes. As religiosas estão em Brasília, onde permanecem até amanhã (9), quando retornam ao município paraense.

A expectativa é que, uma vez na capital federal – onde estão localizadas as sedes do Incra e do

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), além da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH) – elas consigam “dar um empurrão” no caso.


“Não podemos reduzir tudo isso a uma questão ambiental. Foi uma violação terrível dos direitos humanos e queremos acabar com a impunidade. Que as autoridades tomem as devidas providências para que o povo viva em paz. Regivaldo nunca deveria ter recebido o habeas corpus, deveria ter aguardado preso”, afirmou irmã Rebeca.

“Trouxemos [nos documentos] 27 casos de morte no Pará. Todo mundo sabe quem fez isso. Impunidade gera mais impunidade e mais eles [os fazendeiros da região] terão liberdade de matar pessoas. Não sei se a ata vai reverter o julgamento [de Bida], mas deve levantar muitas perguntas”, finalizou irmã Julia.


O fazendeiro Vitalmiro Bastos Moura, o Bida, foi absolvido em maio, num segundo julgamento, da acusação de mandante da morte da missionária americana Dorothy Stang. O julgamento ocorreu na 2ª Vara do Juri de Belém (PA).


Na ocasião, os jurados mantiveram a condenação de Rayfran das Neves, apontado como o executor do assassinato. Ele foi condenado a 27 anos de prisão no primeiro julgamento e teve a pena aumentada para 28 anos, no segundo. No primeiro julgamento, Valdomiro Bastos havia sido condenado a 30 anos de prisão e, hoje, está em liberdade.


A missionária Dorothy Stang foi morta com seis tiros em Anapu, a 300 quilômetros da capital paraense, em fevereiro de 2005. Ela participava da Comissão Pastoral da Terra e trabalhava em constante diálogo com lideranças camponesas, políticas e religiosas, na busca de soluções para conflitos relacionados à posse e à exploração da terra na região.

Matéria de Paula Laboissière, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 10/11/2008

domingo, 9 de novembro de 2008

Semana da Cultura Brasileria e da Reforma Agrária

Mestiça- Candido Portinari

O papel da cultura e da comunicação popular, história da Amazônia e a disputa pelo território, a importância da arte na construção do conhecimento são algumas das mesas que serão realizadas durante a Semana da Cultura Brasileira da Reforma Agrária, que inicia no dia 10, segunda feira, no Centro Cultural Tancredo Neves (CENTUR), às 19h em Belém. A semana é uma iniciativa MST do Pará. A semana encerra no dia 16.

O paraibano Chico César vai a ser a grande atração da evento, que tem como objetivo dá visibilidade à diversidade da cultura popular, com ênfase nos aspectos históricos, culturais, sociais, econômicos e políticos da Amazônia. O evento tem apoio das secretarias de governo do Estado do Pará de Comunicação e a de Cultura.


As atividades serão desenvolvidas durante todo o dia. As manhãs serão dedicadas para reflexão, enquanto a parte da tarde serão ocupadas pelas oficinas na área de fotografia, dança, música, teatro de bonecos, pintura, grafitagem, culinária regional e mostra de filmes ligados á questão da terra.


PROGRAMAÇÃO
MANHÃ
10/11- Abertura oficial- 19 h- CENTUR
11/11- Mesa: História da Amazônia: um território em disputa - 9 h
professor Élder Paula (UFAC), professor Aloísio Leal (UFPA), Charles Trocate (MST-PA)
12/11- Mesa: O papel da cultura e comunicação na construção de um projeto popular- 9 h
Rosa de Fátima (SDDH), Keila Negrão (SECON), Francisco Gonçalves (UFMA), Miguel Stédile (MST)
13/11- Mesa: A arte como instrumento nos processos revolucionários- 9 h
Joãozinho Ribeiro (Secretário de Cultura-MA) , Francisco Alembert (USP), Rafael Vilasboas (MST),
Célia Maracajá (Fundação Curro Velho).
14/11- Mesa: A importância da arte na construção do conhecimento- 9 h
Ricardo Leitão (UERJ), Maria Raimunda (MST), Clei de Sousa (UFPA), Beto Almeida (TELESUR)
15/11- Mesa: América Latina e poder popular: integração dos povos da Amazônia- 9 h
Gilmar Mauro (MST), Ulisses (MST), representantes da Bolívia, Venezuela, Colômbia, Paraguai,
Peru, Equador e Cuba.
16/11 - Marcha: "Os povos da Amazônia e a Cultura de Resistência"- ato cultural
TARDE - Festa de encerramento
NOITES - Shows, tributos, recitais, grupos de danças, e teatro.
DURANTE O EVENTO NO PERÍODO DA TARDE: Realização de oficinas: dança, Música, teatro, bonecos, inclusão digital, fotografia,
artes visuais, pintura, culinária regional, rádio, painéis, grafitagem, audiovisual, entre outras. CINEMA DA TERRA: das 14h15 às 17h.
DIA: 15/11 SHOW NACIONAL COM CHICO CÉSAR E BANDA (em comemoração aos 25 anos do MST)
LOCAL: Pier do Complexo Onze Janelas
INÍCIO: 19 horas

Missionária pede apoio para que crimes cometidos no Pará sejam esclarecidos




A absolvição do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de ser o responsável pelo assassinato da missionária Dorothy Stang, gerou um clima de impunidade no estado do Pará. A afirmação foi feita hoje, 7,pela religiosa Rebeca Spires, que trabalhou por mais de três décadas com Dorothy, e esteve durante toda esta semana em Brasília em busca de apoio para solução dos crimes cometidos naquele estado.

Após entregar um relatório com os casos de assassinatos que não foram elucidados no Pará ao ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, a religiosa cobrou justiça das autoridades. “Sentimos pela nossa irmã e queremos justiça. Mas como o caso dela, que ficou sem solução, existem milhares de casos de gente anônima que não são elucidados. E o nosso relatório trás alguns desses anônimos junto com o caso da irmã Dorothy”, disse Rebeca Spires.

Para ela, o desfecho do caso Dorothy é um “exemplo da impunidade no estado”. “Com certeza, como esse caso foi muito notório e ele [Vitalmiro Bastos] ainda foi absolvido na frente de todo mundo, com muita publicidade, ficou a sensação de que tudo pode e nada acontece e essa é a nossa preocupação”, afirmou a missionária acrescentando que ainda acredita na anulação do julgamento.

A missionária Dorothy Stang foi morta com seis tiros em Anapu, a 300 quilômetros de Belém, em fevereiro de 2005. Ela trabalhava com a Pastoral da Terra e comandava o programa em uma área autorizada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Ivan Richard - Agência Brasil