segunda-feira, 4 de março de 2024

Raimundo Gomes da Cruz Neto, manifesta suas impressões sobre o livro Crônicas sobre o trecho.

 A cultura, a arte, a revolução: um passo adiante.

 

Bar da Ana e do Orlando, Cabelo Seco.  Lançamento do livro Crônicas sobre o trecho. Gilberto Leite, no primeiro plano e o educador Raimundo Gomes, no plano de fundo. 



Rio Tocantins, Marabá/PA. .Foto: Eric Belém

Esta noite de sábado, segundo dia do mês de março, do ano de 2024, não deverá cair no esquecimento tão cedo. Noite de poucos barcos navegando no rio Tocantins, de poucas estrelas, sinais de chuva, uma brisa leve, um calor amazônico tolerável, no cabelo seco, “bar da Ana”(da Ana e do Orlando).  Ali chegavam pouco a pouco, professores, estudantes, militantes históricos das lutas populares para prestigiarem o glorioso lançamento do recente livro do companheiro Rogério Almeida. Um dia após o lançamento do belíssimo livro do companheiro Ceará, intitulado: A destruição da Amazônia pela besta fera do capital e outros cordéis.

Sob o som de músicas de diversos gostos aos arredores de nossa concentração, com prazerosos goles de cerveja, cachaça, refrigerante, água,  acompanhados de tira gosto à moda da casa, servido pela sorridente companheira Ana, transeuntes movimentando a noite daquele trecho, a companheira Rose Bezerra com precisas palavras fez a abertura do que foi o lançamento do livro AMAZÔNIA: crônicas sobre o trecho, bulinações e alguns afetos.


Como em 2012, quando do  Lançamento do Pororoca Pequena, os educadores Rose Bezerra e Raimundo Gomes  foram fundamentais para o nosso encontro. Foto: Eric Belém

O autor, com sua simplicidade que lhe é peculiar, discorreu sobre a simbologia do lançamento ser naquele trecho, bairro que mesmo com todas as influências do avanço devastador do capital, não perdeu muitas de suas características de onde inicia a cidade, pelos idos de 1898. Bairro composto de grande maioria de negros e negras, que em lutas procuram manter tradições do trecho onde surgiu o boi bumbá, o rouxinol, as lendas como a “porca de bobe” e a primeira escola de samba de Marabá.

Tratou sobre a construção do livro, das influências e sugestões brotadas das encruzilhadas e trincheiras de dias e noites vividas entre desprazeres e prazeres, próprios de quem se propõe a “cair no trecho” sem se perder nos impostos limites do cotidiano, mas ter como princípio norteador para a vida de labor e afeto, o horizonte.


Bar da Ana e do Orlando, por ocasião do lançamento Crônica sobre o trecho. No primeiro plano, Gilberto Leite, amigo de Almeida, desde os tempos de república, na década de 90; e Raimundo Gomes, ao fundo.Foto: Eric Belém 

É como diz Rogério Almeida: “O Trecho nasce no caldo do desmatamento, da floresta que sucumbe em nome do saque, colocando sob ameaça todos os seus encantados e saberes ancestrais com os quais ela conflui. Saque permanente: vidas, terra, floresta, minério, água, energia...”

Usando da possibilidade de fala, o militante das Brigadas Populares, em nome da equipe do CEPASP (Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular), Raimundinho, agradeceu por mais uma contribuição que Rogério Almeida para a região de Carajás, com a entrega pública de mais um livro com grandioso  conteúdo, depois de nove anos atrás ter lançado o valioso Pororoca Pequena, não mais e nem menos maior que o de agora.

Enfatizou a tamanha perspicácia com que Rogério Almeida trata o cotidiano, na forma de observar, registrar e relatar, dando visibilidade às pessoas, aos gestos, aos tratos com solidariedade, que se somam e se dividem no trecho. Próprio de um militante, marxista, revolucionário, que avança fronteiras convivendo e compartilhando saberes necessários para os grandes saltos rumo a humanidade, rompendo as amarras impostas pela ideologia burguesa.

Pausamos com a poesia, pag. 149, Alguém Mandou. No morro, entre rimas, lágrimas, zincos e madeiras/Balas, balas, balas, aos montes/Como se fossem nuvens e gafanhotos/Balas, balas, balas em toneladas/A cada instante, todos os dias, durante todo o ano/Balas, balas, balas de todos os calibres/Sobre o alvo do corpo negro/Balas em crianças, balas em adultos e balas em velhos/A bala mata toda a família com único disparo/A bala abala a quebrada inteira/O surdo/Cansado, silencia velório das derradeiras crianças alvejadas/Flor da idade/Morte à queima roupa/Alguém mandou.../Mandou matar de bala, de raiva e de fome...

Recomendamos a imediata aquisição e leitura dos valorosos livros. Como disse o próprio Rogério, no lançamento: “não tem fins econômico, o que for arrecadado é para tomarmos de cerveja e cachaça, passem a grana ao companheiro Eric.”

Marabá 02 de março de 2024.

Brigadas Populares

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Puxirum de Ideais – docentes e técnicos da UFOPA organizam lançamento de livros de forma coletiva

 

Operários, 1933. Tarsila do Amaral

Puxirum de ideias é uma iniciativa de docentes do curso de Gestão Pública e Desenvolvimento Regional e convidados.  O princípio é tornar pública a produção da Ufopa para além dos muros da instituição, com vistas a estabelecer trocas e s diálogos com a sociedade do município.  O lançamento coletivo também consiste em uma singela homenagem aos 43 anos de existência do Instituto Cultural Boanerges Sena (ICBS), iniciativa animada pelo Cristovam Sena e família.

O evento ocorre na noite do dia 07 de março, a partir das 19h, no Quintal Sapucaia, localizado na Av. São Sebastião, nº 1233 (entre 7 de Setembro e Morais Sarmento), na semana da agenda pela passagem do Dia da Mulher.

Entre os livros que serão comercializados e expostos, constam:

Autora: Lene Oliveira – técnica da assessoria de comunicação da UFOPA – Doutora Universidade Fernando Pessoa (UFP) e a UFRGS

“O mundo encantado do Catalendas” é resultado da dissertação de mestrado defendida pela jornalista e pesquisadora Jorgelene Santos, em 2008, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais – área de concentração Antropologia Social – do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal do Pará.  A obra foi editada e produzida pela Imprensa Oficial do Estado (IOE).

 

Autora: Gisele Alves – Gestão Pública

Pós-desenvolvimento e Bem Viver na Amazônia: aspectos teóricos e perspectivas aplicadas é fruto de um trabalho colaborativo entre docentes e discentes da Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA, que nasceu a partir das atividades do grupo de pesquisa CADES – Críticas e Alternativas ao Desenvolvimento na Amazônia, criado em 2017. O grupo nasceu com o objetivo de estudar, descrever e analisar as práticas sociais comunitárias vivenciadas na Amazônia, em específico na região Oeste do estado do Pará, sob a lente teórica do pós-desenvolvimento, e sob a perspectiva prática das experiências de Bem Viver ao redor do mundo; registrando práticas sociais de comunidades que possuem formas alternativas de organização da vida social, distantes dos ditames do desenvolvimento hegemônico.

Autora: Raimunda Monteiro – docente do curso de Gestão Pública cedida ao governo federal, ex reitora.

“Amazônia: espaço-estoque, a negação da vida e esperanças teimosas”. A obra trata do modelo de integração da Amazônia ao Brasil e ao mundo, e das consequências para os seus povos, no contexto dos 50 anos de construção da Rodovia Transamazônica. Exploração, ocupação desordenada, violência contra os povos, devastação e destruição ambiental ocupam muitas das páginas, que abrem espaço também para falar de esperança. O livro é o resultado no âmbito de estágio pós-doutoral na Universidade de Coimbra.

Autores/organizadores: Anselmo Alencar Colares e Maria Lília Imbiriba Sousa Colares

“A Pérola do Tapajós em Verso e Prosa” a publicação é uma homenagem à cidade de Santarém, reúne trabalhos em diferentes formatos cujo enfoque é a Pérola do Tapajós. Os professores organizadores são do  Instituto de Ciências da Educação (Iced).

Autores: Florencio Vaz e Luciana Carvalho – docentes do curso de Antropologia

 “Isso tudo é encantado: Histórias, Memórias e Conhecimentos dos Povos Amazônicos”.  Produzida pelo projeto de extensão “Hora do Xibé”, vinculado ao Núcleo Sacaca, a publicação reúne relatos feitos por indígenas e moradores de comunidades tradicionais da região sobre suas crenças e suas culturas.

Autor: Márcio Benassuly – docente do curso de Gestão Pública

“Santarém: dinâmicas da ocupação e uso do território (1542 - 2020). Editora CRV, Curitiba, 2021”. A publicação é abordado as dinâmicas da ocupação e uso do território em Santarém, estado do Pará no período entre 1542 - 2020, o que é justificado por ser 1542 a data do primeiro relato de contato entre europeus e os índios Tupaius em território santareno, a pesquisa de tem como marco temporal final o ano de 2020. A obra está estruturada em sete capítulos.

Cristovam Sena, editor e mantenedor do Instituto Cultural Boanerges Sena (ICBS)

"Tupaiulândia" - Paulo Rodrigues dos Santos é uma das principais obras que contam a história do município fundado em junho de 1661, pelo padre jesuíta de Luxemburgo, João Felipe Bettendorff. Publicado originalmente em 1972, ganhou outras edições em 1974 e 1999. Foi o resultado de mais de 40 anos de anotações e pesquisas do escritor Paulo Rodrigues dos Santos, falecido ainda nos anos  70, mas que deixou um profundo legado para a memória e cultura local.

Autor - Rogerio Almeida – docente do curso de Gestão Pública

“A Destruição da Amazônia pela besta fera do capital e outros cordéis”, do dirigente sindical e ambientalista Francisco Valter Pinheiro Gomes, o Ceará do Pará é o segundo livro do projeto de extensão Luta pela terra na Amazônia.  Coordenado pelo coordenador pelo Rogerio Almeida, teve  a contribuição das extensionistas Glenda Flávia Guimarães Cunha, Luana Vitória de Sousa Brito, Bianca Emanuelle Bezerra da Silva e Yasmin de Souza Corrêa em dialogo com o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Marabá e docentes da Faculdade de Educação do Campo da Unifesspa (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará).

“Crônicas sobre o trecho”.   70 crônicas reunidas ao longo de várias jornadas em diferentes regiões do estado do Pará e vizinhança dão corpo ao livro.  As anotações encarnam uma espécie de diário de bordo. Em períodos curtos e urgentes, assim como a maioria dos parágrafos, os escritos são registros telegráficos, como se o escriba estivesse em fuga. Em suas errâncias (flanêur), Almeida manifesta o zelo pela arte da escuta e da observação.

 

Maiores informações

Rogerio Almeida (93) 99228 1379

Rita Peloso -93 99122 6622

Márcio Benassuly - 91 982111961

 

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Livro de crônicas sobre a Amazônia tem no trecho a sua inquietação central.

70 crônicas dão corpo à obra do professor da Ufopa, Rogerio Almeida, do curso de Gestão Pública



70 crônicas dão corpo ao livro Amazônia: crônicas sobre o trecho, bulinações e alguns afetos. Assinado pelo professor Rogerio Almeida, do curso de Gestão Pública,  da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), o projeto foi selecionado pelo edital da Lei Paulo Gustavo. 

Os lançamentos ocorrerão em Marabá e Santarém. Na primeira cidade o evento será na noite do dia 02 de março, no Bar da Ana, no bairro do Cabelo Seco, núcleo Velha Marabá, a partir das 19h. Já em Santarém, ocorre na noite do dia 07, no espaço cultural Quinta Sapucaia, localizado na Av. São Sebastião, nº 1233 (entre 7 de Setembro e Morais Sarmento), a partir das 19h.  O livro fará parte de evento coletivo denominado de Puxirum de Ideias, que contará com lançamentos de obras de professores/as  e técnicos/as da Ufopa.  

Peão de trecho, assim é tratada a polissêmica categoria fronteira pelas pessoas que se mobilizam em busca de trabalho em grandes obras na região. Bem como por riqueza “fácil” em garimpo, fuga de secas e outras privações ou algum tipo de oportunidade longe de seus locais de origem.  

No livro, os períodos curtos imperam. Urgentes, assim como a maioria dos parágrafos. Registros telegráficos, como se o escriba estivesse em fuga. Em suas errâncias (flanêur), Almeida manifesta o zelo pela arte da escuta e da observação. Andar só é uma preferência. Ele acredita que a opção favorece o deslocamento. Referências a feiras, botecos fuleiros e puteiros são recorrentes em sua escrevivência.   

 Entre coisas vividas, vivenciadas e inventadas, o “vadio”, tal uma tia velha fuxiqueira, tece, uma aquarela dos vencidos em lonjuras (fronteiras) marcadas pela gula do capital, que a tudo fagocita, até o sorriso da tapuia após o coito matinal.  O recado consta em um poema.  

Nas geografias das errâncias, as estações do ano na Amazônia emergem ao queixar-se do sol inclemente, ou ao retratar as agruras dos tempos de cheia. O trecho é a questão que o inquieta, bem como os personagens que conferem forma, moldura e possível poesia e alma à obra.  

No trecho, o filho chora, e a mãe não faz ideia dos aperreios. Garimpos, grandes obras de infraestrutura, empreendimentos agropecuários funcionam como uma espécie de imã de errantes.  Tais sujeitos migram em busca de dias menos doridos. As privações que a maioria experimenta é combustível de canções populares, muito bem sublinhadas em suas anotações. Zé Geraldo, Elino Julião, Adelino Nascimento, Raimundo Soldado, Bartô Galeno estão entre os cantadores citados.

O trecho é bruto, avalia o autor. Todavia, para além das agruras, como acredita uma filha de garimpeiros de Itaituba, a educadora Rose Bezerra, a quem a obra é dedicada, é possível encontrar laços de solidariedade e amizades que perduram ao longo do tempo. Rogerio crê que as andanças representam uma faculdade sem parede. Em conversa sobre a origem da cria, ele explica que após atividades laborais precárias, havia uma necessidade de fazer apontamentos sobre o que observara.  

Em escrita ligeira, o professor tece a trajetória de garimpeiros, donas de bar, bravas mulheres que o iluminam, a exemplo da genitora e o matriarcado em que foi criado.   

Em texto de orelha, Charles Trocate, filosofo e poeta, sobre a obra considera “este livro tem a totalidade de uma obra inigualável, seja pela experiência de escrever reportagens – a primeira experiência literária do autor e a sofisticada paciência de compor o enredo que a vida transborda aos que vivem mais da falta do que do excesso. Diria que este livro expõe uma espécie de filosofia do trecho ou manual do que é não viver vivendo. Do começo ao fim, de trás para frente, ou inverso, ou do meio para o início, é como se percorrêssemos os milímetros, sem cansar, uma jornada de desapego”.

O pdf do livro pode ser baixado AQUI

Projeto Luta pela terra na Amazônia lança livro do cordelista e dirigente sindical Ceará do Pará (Francisco Gomes) do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA).

Lançamentos ocorreram em Marabá e Santarém em março




O livro A Destruição da Amazônia pela besta fera do capital e outros cordéis, do dirigente sindical e ambientalista Francisco Valter Pinheiro Gomes, o Ceará do Pará, será lançado no dia 01 de março no Hall Central do Prédio da Reitoria, Unidade/Campus 3, da Unifesspa (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará), em Marabá, no dia 01 de março, a partir das 9h. 

Já em Santarém, o evento ocorrerá na noite do dia 07, no espaço cultural Quintal Sapucaia, localizado na Av. São Sebastião, nº 1233 (entre 7 de Setembro e Morais Sarmento), a partir das 19h.  O livro fará parte de evento coletivo denominado de Puxirum de Ideias, que contará com lançamentos de obras de professores/as da Ufopa.  

Para a impressão da obra, o projeto contou com o apoio da Cese (Coordenadoria Ecumênica de Serviço) e a Cafod, uma agência internacional de desenvolvimento ligada à Igreja Católica. 

O livro resulta do projeto de extensão da UFOPA, Luta pela terra na Amazônia, coordenador pelo Rogerio Almeida, do curso de Gestão Pública, e a contribuição das extensionistas Glenda Flávia Guimarães Cunha, Luana Vitória de Sousa Brito, Bianca Emanuelle Bezerra da Silva e Yasmin de Souza Corrêa.

 No percurso do projeto, as discentes  além de entrevista com o escritor,  realizaram a leitura de artigos e debates sobre a questão da terra na Amazônia , o que teve como produto dois artigos a partir dos livretos de cordel, onde as autoras relacionam as conjunturas realçadas nos livretos, os sujeitos envolvidos nos processos e as políticas públicas. 

Ambos os trabalhos foram selecionados para a apresentação no Encontro Nacional da Rede Alcar (Associação Brasileira de Pesquisadores da História da Mídia), ocorrido em Niterói, no mês de agosto de 2023. Todavia, o elevado preço das passagens aéreas, além de outros custos inviabilizaram a participação de um autor no evento.  Além dos artigos, Glenda Flávia realizou o trabalho de conclusão sobre a obra do cordelista, a ser apresentado em março.

Para a produção do livro, o projeto estabeleceu diálogo com o escritor, educadores da Faculdade de Educação do Campo da Unifesspa, em particular com o professor Haroldo de Souza, com o Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Marabá.   

Na jornada os professores e pesquisadores Airton Pereira (Uepa) e Fabíola Pinheiro doutorando da Unir (Universidade Federal Rondônia) colaboraram em debates sobre as disputas territoriais no sudeste paraense e sobre escrita científica.  O artista Rildo Brasil de Marabá assina a capa e outras ilustrações do livro, assim como Thulla Christina.

A obra reúne quatro livretos de cordel produzidos pelo escritor desde os anos iniciais da década de 2000. No conjunto da obra, Ceará registra as formas de r-existência dos seus iguais, a exemplo do cordel que recupera a ação direta dos camponeses no início da década de 2000.  Os grandes acampamentos de Marabá, como a ação ficou reconhecida, aglutinava perto de 20 mil pessoas na frente da sede do INCRA. O ato demonstra a enorme capacidade de organização do conjunto dos movimentos sociais ligados à luta pela terra, em plena conjuntura do avanço de políticas neoliberais.

As políticas públicas desenvolvimentistas impostas para a Amazônia também inquietam o cordelista. Nele, Ceará alumeia os sujeitos das pelejas das disputas pela terra, trata das violências, dos crimes contra os camponeses e camponesas e responsabiliza o Estado autoritário pelo avanço do capital sobre a fronteira.

Para além da pecuária, em outra obra, o migrante e sindicalista trata do poder da mineradora Vale, na região sudeste do estado, onde Ceará reside e r-existe.  Por conta da hipertrofia do poder da mineradora, ela é considerada uma empresa maior que o estado do Pará.  A mineradora expropria, proíbe acesso à terra, à floresta e ao rio. Vigia e processa os que ousam denunciar os seus abusos.

Ceará já foi cabra marcado para morrer, como conta em sua entrevista. Atualmente, é estudante do curso de Educação do Campo, da Universidade Unifesspa, Campus de Marabá. Segue a teimar contra os muros altos.

O presente livro encontra-se assim organizado: prefácio, apresentação, os dois artigos produzidos no projeto de extensão, uma entrevista com o autor e os respectivos cordéis. Como alerta o samba enredo da Mangueira de 2019, que exalta os sujeitos historicamente colocados em condições de subalternização: “É na luta que a gente se encontra!”.

Os cordéis de Ceará do Pará é uma lição, que a alerta a todos que a mão que lavra a terra, afronta as cercas do latifúndio e de terras griladas, também se indispõe com as palavras, antes, monopólio de poucos.

 Baixe o livro AQUI

Maiores Informações

Ceará do Pará – (94) 99155-7624

Rogerio Almeida – (93) 99228 1379

Haroldo de Souza – (94) 99145-7737

Glenda Flávia - 93 99653-8900

 

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Reflexões para o 19º aniversário de morte da Irmã Dorothy Mae Stang

O bispo realça o protagonismo das mulheres em defesa da floresta, quando da passagem de mais um ano da execução de Stang 


Arquivo da CPT de Anapu/PA

Dom Erwin 

 

Martírio na floresta

 

Neste dia 12 de fevereiro completam-se 19 anos da morte da Irmã Dorothy Stang. Naquele sábado, bem cedo de manhã, em 2005, Irmã Dorothy foi assassinada com seis tiros à queima-roupa numa estrada do interior de Anapu, município da Transamazônica no Estado do Pará. Tinha 73 anos de idade.

 

Quem derramou o seu sangue pela causa mais nobre, o Reino de Deus, nunca pode ser esquecido. A memória dos mártires faz parte da história e liturgia de nossa Igreja. Esquecer os mártires é ignorar o Sangue derramado do próprio Senhor Jesus, o Mártir por excelência de toda a história.  O martírio é a doação total e irrestrita em favor do Reino de Deus, levada até as últimas consequências. É amar até o fim (cfr. Jo 13,1). Pode haver diversas razões, mas o motivo que leva ao martírio é sempre o mesmo: o amor maior!

 

Na minha homilia na Missa de Corpo Presente em 15 de fevereiro de 2005 contei o que soube dos últimos momentos da vida de Dorothy. Antes de ser assassinada, Irmã Dorothy abriu sua sacola de pano, cumprindo “ordem” de seus algozes que queriam saber se ela estava armada. Mostrou-lhes o que ela chamava de sua arma: a Bíblia Sagrada. Este seu gesto derradeiro é o último recado que Dorothy nos deixou. É sempre a Palavra de Deus que nos inspira e orienta em nosso caminho. „As armas com que combatemos não são humanas, o seu poder vem de Deus e são capazes de destruir fortalezas“ (2Cor 10,4).

 

Nas bem-aventuranças no Evangelho de Mateus (Mt 5,1-12) há várias que se referem explicitamente ao empenho em favor da promoção da justiça e da paz: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça” (v.6), “bem-aventurados os misericordiosos” (v.7), “bem-aventurados os que promovem a paz” (v.9), “bem-aventurados os que são perseguidos por causa de justiça” (v.10). E aos que arriscam a vida em favor da justiça, em favor da promoção humana, da dignidade humana, dos direitos humanos, é afirmado que “deles é o Reino dos Céus”.

 

E tem mais. São considerados especialmente bem-aventurados aqueles e aquelas que sofrem injúrias, perseguição, difamação, calúnia (v.12): “Alegrai-vos e regozijai-vos…” Como alguém pode regozijar-se, ficar alegre quando é perseguido, agredido naquilo que lhe é tão caro, o bom nome, a boa reputação? Há um detalhe significativo no texto sagrado: o motivo da alegria não são as agressões, as hostilidades em si, mas o sofrimento “por causa de mim”. Aí reside a razão profunda do martírio, do martírio do sangue derramado, mas também do martírio que é o testemunho de toda uma vida consagrada ao Senhor e seu Reino. Esse martírio pressupõe uma paixão sem limites como nos revela São Paulo: “Mas o que era para mim lucro tive-o como perda, por amor de Cristo. (…) Por ele perdi tudo…” (Fil 3,7-8). E esse Cristo se identifica com os “excluídos que não são apenas ‘explorados’”, mas considerados “’supérfluos’ e ‘descartáveis’” (Documento de Aparecida, 65).

 

Irmã Dorothy: uma “voz que clama no deserto”

 

Irmã Dorothy me pareceu uma “voz que clama do deserto” (Mc 1,3). O deserto não é uma imensidão de areia a se perder nos horizontes. Na Amazônia é a desgraça de homens sem dó nem piedade desertificarem o outrora inviolado mundo de selvas e águas em que, desde tempos imemoriais, habitavam os povos indígenas e posteriormente ribeirinhos que se alimentaram das frutas da floresta e viviam em paz com a natureza. Em nome de uma equivocada busca de progresso a qualquer preço, homens, apenas guiados pela expectativa de lucros imediatos, entendem “benfeitoria” como sinônimo de “pôr abaixo”, de derrubar e queimar a floresta. Esta perversidade se intensificou a partir da construção da Rodovia Transamazônica no início dos anos 70. Nunca esqueço o delírio do Presidente Medici e de sua comitiva, aplaudindo desvairados à derrubada de uma castanheira-do-pará. Entendiam o tombo fragoroso desta gigantesca árvore no chão previamente desnudado de sua vegetação como marco inaugural de uma nova era. Uma placa incrustada no tronco deveria lembrar o evento em termos bombásticos: “Nestas margens do Xingu, em plena selva amazônica, o Sr. Presidente da República dá início à construção da Transamazônica, numa arrancada histórica para a conquista deste gigantesco mundo verde”. Foi em 10 de outubro de 1970. Mas a placa de bronze permaneceu pouco tempo no tronco. Foi roubada! Ficou apenas o tronco, surrado pelas intempéries tropicais, como trágica recordação de que outrora uma exuberante selva cobria toda a região do Xingu.

 

Irmã Dorothy chegou 1982 na Prelazia do Xingu e viu de perto o frenesi das derrubadas em grande escala. E desde que chegou falou e não mediu esforços, querendo convencer a quem ouvia sua vozinha mansa – mansa era apenas sua voz –  de que, num futuro bem próximo, frequentes calamidades em cada vez maiores proporções serão consequência das violentas agressões de homens insensatos à natureza.

 

Mataram a Irmã, calaram a sua voz profética, mas suas previsões se concretizam de ano em ano sempre mais, nas secas antes nunca vistas na Amazônia, com baixíssimos níveis dos rios e inundações desastrosas nos estados do sul e sudeste.


Romaria em memória da missionária e agente da CPT em Anapu. Foto: Miguel Chikaoka

 

Amazônia para uma vida saudável ou para a exploração inescrupulosa?

 O que há décadas acontece na Amazônia é consequência do que conhecemos dos livros de história que descrevem as conquistas e invasões. A terra conquistada pelo país invasor se torna uma colônia ou província de que se pode arrancar tudo que nela houver ou se descobrir, sem o governo usurpador sentir-se obrigado a uma contrapartida, a não ser que seja para o próprio proveito. A Amazônia até hoje é considerada uma “província”: província mineral, província madeireira, província energética, última fronteira agrícola. A floresta é queimada e a terra arrasada para dar lugar à pecuária ou ao cultivo da soja e outros legumes. Os conflitos com os povos indígenas, os agricultores familiares e os ribeirinhos estão na ordem do dia.

 

Nos primeiros dois governos de Lula divulgaram-se percentagens mais moderados de deflorestação que nem sempre correspondiam à realidade. A questão ecológica ganhou sempre mais defensores na esfera internacional. Provou-se cientificamente que a Amazônia tem uma enorme importância para o equilíbrio climático do planeta. Diante das reclamações vindas do exterior Lula respondeu primeiro com irritação: “Nós precisamos mostrar ao mundo que ninguém mais do que nós queremos cuidar da nossa floresta. Mas ela é nossa! E que gringo nenhum venha meter o nariz onde não é chamado, que nós saberemos cuidar da nossa floresta e saberemos cuidar do nosso desenvolvimento". “Deus lhe ouça!” rezei, pedindo a Deus que finalmente se concretize a promessa de o Brasil cuidar das suas florestas.  

 

A partir de 2018 o governo Jair Bolsonaro fez vistas grossas à legislação ambiental. Favoreceu a expansão de fazendeiros e madeireiros e estimulou o garimpo ilegal em áreas indígenas com todas as tétricas sequelas para a vida, mormente das crianças e  . adolescentes dos povos originários. Durante a pandemia o presidente adotou o mote do ministro Ricardo Salles: “passar a boiada”.

 

Lula, porém, prometeu no discurso de posse “desmatamento zero até 2030”: “Nossa meta é alcançar o desmatamento zero na Amazônia, a emissão zero de gases de efeito estufa na matriz energética, além de estimular o reaproveitamento de pastagens degradadas“ e acrescentou em relação aos povos indígenas: "Ninguém conhece melhor as nossas florestas, nem é mais eficaz em defendê-las, que os que estavam aqui desde tempos imemoriais. Cada terra demarcada é uma nova área de proteção ambiental". Lula foi aplaudido, e com razão, inclusive pela comunidade internacional, pois deu um basta ao desmonte ambiental de seu predecessor.

 

Mesmo assim ficam duas preocupações:

1-       Desmatamento Zero até 2030? O prazo é muito longo e, se nos anos vindouros até 2030 as derrubadas e queimadas continuam no mesmo ritmo do ano 2023, milhões de hectares de floresta tropical serão varridos da face do planeta. Só no prazo de janeiro até novembro de 2023 foram constatados 93.945 incêndios na Amazônia brasileira. Mesmo que em relação aos 11 meses de 2022 (112.027) haja uma diminuição de 16 %, o fogaréu que se alastrou pela Amazônia foi apocalíptico. Quem esteve em Altamira, Pará, na segunda quinzena de outubro e na primeira de novembro lembra com horror essas semanas em que, além de extremamente forte calor, o povo foi condenado a respirar um ar poluído, tão nocivo à saúde especialmente de crianças, idosos e gestantes. E Altamira, mesmo sendo o maior município da Amazônia e do Brasil (159.500 km2), é apenas uma fatia desta Amazônia.

2-      Mesmo que Lula aumentou os recursos para o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para poder fiscalizar com mais afinco madeireiros e fazendeiros e impedi-los a derrubar a floresta, todo o dinheiro não vai garantir o êxito almejado se no Congresso continua a vigorar o espírito de “passar a boiada”. A legislação ambiental fala de derrubada “ilegal” dando a entender que há uma derrubada “legal”, permitida pela legislação ambiental. É uma contradição! Se queremos chegar ao “desmatamento zero”, não pode existir uma derrubada “legal” e outra “ilegal”. Derrubar ou queimar a floresta é “crime ambiental” a ser punido severamente por sanções penais e administrativas.

Em  todos os conflitos está em jogo a legislação ambiental brasileira e a própria Constituição Federal que garante a existência de terras fora do mercado capitalista, por exemplo áreas indígenas (Art. 232 e 233) ou parques nacionais. E é contra estes parâmetros constitucionais que o agronegócio e seus aliados sempre de novo se insurgem. Sua palavra de ordem é: “Nenhuma terra fora do mercado! Todas as terras devem ser usadas e aproveitadas para produzirem e gerarem rendimentos e lucros”. Quem defender o contrário: “Toda a terra é dom de Deus. Os povos indígenas, os quilombolas, os agricultores familiares, os ribeirinhos têm direito às suas terras ancestrais, chão sagrado de seus mitos e ritos e de sua própria subsistência, garantia de sua Vida, também em vista das futuras gerações” sempre correrá o risco de ser taxado de inimigo do progresso e desenvolvimento e, na pior hipótese, de ser “eliminado” como a Irmã Dorothy e tantos outros na Amazônia, por contrariar interesses e a ganância de quem vê na terra, na floresta, na água e até no ar meros artigos de negócio, de mercado, de transações para o proveito próprio ou de grupos, em detrimento de outras camadas sociais e, quase sempre, contra as mais elementares regras de cuidado com o meio ambiente. São dois projetos que estão em confronto: um a favor da terra para a Vida, o outro a favor da terra para o negócio.

 

O protagonismo das mulheres na sociedade e na Igreja

 

Estou há quase 60 anos no Xingu e muitas foram as lutas em favor da dignidade e dos direitos humanos nessas seis décadas passadas. Em todas elas havia uma constante que saltava à vista. Foram as mulheres que tomaram a dianteira. Na época em que Altamira passou uma fase horrorosa por causa dos crimes que vitimaram crianças e adolescentes, as mulheres não apenas prantearam com as famílias os filhos vitimados, mas fundaram o “Comitê em Defesa das Crianças e Adolescentes de Altamira”. Existia em Altamira uma Círculo Operário e há também um Sindicato de Trabalhadores Rurais. Já que o empenho destes órgãos foi pouco eficiente, as mulheres tomaram a iniciativa de criar o “Movimento das Mulheres do Campo e da Cidade”. A grande maioria de conselheiros do Conselho Tutelar nos vários municípios do Xingu e da Transamazônica  é continua sendo de mulheres.

 

Na Prelazia do Xingu surgiram após o Encontro dos Bispos da Amazônia em Santarém 1972 centenas de Comunidades Eclesiais de Base. Na sua maior parte elas foram e são até hoje dirigidas e coordenadas por mulheres. O mesmo se pode dizer dos Conselhos Paroquias e Pastorais e das equipes litúrgicas. Sem as mulheres a nossa Igreja em muitas regiões nem existiria sequer!

 

Especialmente no contexto da construção da hidrelétrica Belo Monte, muitas vezes me perguntei qual seria a razão profunda do protagonismo feminino em todos os protestos, manifestações e passeatas? Os homens de Altamira e municípios circunvizinhos sonharam dia e noite com chuvas de dinheiro e um aumento significativo de chances de empregos bem assalariados. Custou-lhes muito a se darem conta de que seus sonhos foram rasgados em pedaços e deixaram a amarga sensação de terem sido ludibriados com promessas que nunca seriam cumpridas. As mulheres, no entanto, foram desde o início mais “críticas” e não se deixaram enganar. Quando descobriram que as “condicionantes”, elencadas pelo IBAMA e a FUNAI, que deveriam ser cumpridas antes de iniciar a obra, só foram promessas para tranquilizar o povo, passaram a chamar Belo Monte de “Belo monstro”. Não hesitaram em denunciar a deterioração do rio e meio ambiente, o sumiço de vilas inteiras com a promessa de reconstruí-las em outras áreas, a descoberta de toneladas de peixes mortos e, na região, a falta de suficientes postos de saúde e assistência médica, insuficiência de unidades escolares, encarecimento de gêneros alimentícios, falta de saneamento básico, esgotos a céu aberto, aumento da criminalidade na cidade, poluição sonora, e outros itens indispensáveis para o bem-estar das pessoas e uma infraestrutura condigna para a vida urbana.

 

Creio que a mulher, seja ela mãe biológica ou não, é mais propensa a dedicar-se à “prole”, intui perigos e riscos, ameaças e violências, mas seu coração também pressente alegrias e vitórias. Não é mero instinto. É o entrelaçamento do espiritual e do emocional com o racional que é capaz de fazer desabrochar intuições que se situam além do raciocínio lógico de causa e efeito ou de uma conclusão das premissas em um silogismo aristotélico. Em outras palavras: as mulheres do Xingu raciocinam mais com o coração!

 

“Dorothy vive”

 

Irmã Dorothy foi assassinada, mas suas Irmãs de Notre Dame que conviviam com ela continuam o caminho, dedicando-se ao povo que ela não quis deixar entregue à própria sorte. No dia 2 de fevereiro de 2005, dez dias antes de ser morta falou ainda a um jornalista – e eu estava presente e ouvi o que ela disse: “Sei que eles querem me matar, mas não vou fugir. Meu lugar é aqui, ao lado dessas pessoas constantemente humilhadas por gente que se considera poderosa”.

 

Hoje são também leigas e leigos, mulheres e homens, jovens e pessoas idosas que se consagram à nobre causa pela qual Irmã Dorothy não hesitou de doar sua vida. O entusiasmo se manifesta no refrão, repetido ano após ano, sempre de novo, pelo povo reunido nas Santas Missas de aniversário de sua morte: “Dorothy vive, vive! Para sempre!”

 

Altamira, 12 de fevereiro de 2024

 

Erwin Kräutler C.PP.S.

Bispo em. do Xingu

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Prestes a somar quatro meses de paralisação, greve da saúde da cidade de Alenquer continua sendo tratada com indiferença pela gestão do município

A pasta da saúde, administrada por uma pessoa sem qualificação com o tema, tem se recusado a negociar com  a categoria, acusa  Sindisaúde.  


Em uma das tentativas de negociação, no primeiro plano, o deputado Priante (MDB) em passagem pela cidade, a representante do sindicato e o prefeito Tom Farias (MDB). 

Quando da decretação da greve do setor de saúde da cidade de Alenquer, no Baixo Amazonas, em outubro do ano passado, o alerta sobre o incremento dos casos de covid, viroses e a dengue não havia ligado o sinal de alerta.

O setor festejado pelas gestões e a sociedade em geral, por conta do ápice da pandemia, hoje padece com a total falta de respeito, queixam-se os grevistas durante reunião na sede do sindicato no final de janeiro.

Passados quase quatro meses, a gestão do setor do município continua indiferente às demandas da categoria, que amarga perdas salarias por conta de preenchimentos equivocados da pasta no site do Ministério da Saúde, péssimas condições de trabalho, não pagamento do piso nacional de Enfermagem, instituído em agosto de 2023 com caráter retroativo, e o não cumprimento do PCCR (Plano de Cargos, Carreiras e Remunerações).

A Lei nº 14.434/2022 Institui o piso de R$ 4.750,00 para enfermeiros(as), 70% desse valor para técnicos(as) de enfermagem e 50% para parteiras e auxiliares de enfermagem. Em setembro a emenda constitucional normatiza que a União deve colaborar com os custos para as unidades da federação.

O Sindsaúde esclarece que neste sentido, a gestão do senhor Paulo Rocha, um técnico e professor em informática, ou seja, sem conhecimentos da pasta, tem preenchido os dados no sistema do site do Ministério de forma equivocado.


Manifestação da categoria no interior do Legislativo de Alenquer/PA

Ao invés de colocar o salário base, a secretaria tem inserido o salário base mais os penduricalhos, a exemplo de adicional de insalubridade, tempo de serviço, entre outras compensações. Ato que acarreta prejuízo na composição de salário, bem como no recebimento de retroativos.

O PCCR aprovado desde 2020, com agenda para ser viabilizado a partir de 2022 padece de cumprimento. O sindicato denuncia que o mesmo vem sido cumprido parcialmente, onde a progressão por triênio e a insalubridade não têm sido respeitados.  

 “A única implementação das pautas do PCCR realizada pela Administração do Município foi garantir o reajuste do piso salarial dos servidores da saúde com base no INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), contudo, todos os demais pontos estão sendo descumpridos, tais como, gratificação de função, progressão de carreira, concessão de função comissionada apenas a servidores efetivos, adicional de tempo de serviço, entre outros” informa documento do sindicato encaminhado ao Ministério Público.

Os trabalhadores da Saúde avaliam que a gestão além de não ter conhecimento e formação sobre o tema, tem se esquivado continuamente no equacionamento da situação dos servidores. Em documento que decreta o estado de greve, consta que “a medida do secretário Paulo Rocha tem sido em não apresentar nenhuma contra proposta às reivindicações. Ele usa a reunião, para marcar outra reunião, em que nunca sinaliza para a solução do problema, além de se ausentar de muitas agendas que ele mesmo indica”.

Na cidade de que não conta com um hospital público, e sim um privado/conveniado, as condições de trabalho são consideradas as piores possíveis. Profissionais informam que no Centro Municipal de Saúde a sala usada para realização de testes de covid fica em frente a sala de atendimentos de diabéticos e hipertensos, usando assim o mesmo ambiente de espera, colocando todos em risco.

Manifestação da frente da Câmara de Vereadores de Alenquer. 

Geralmente os espaços não contam com a ventilação adequada, estão suscetíveis a vazamento de esgoto e funcionam sem ar-condicionado.  Faz seis anos que o laboratório não funciona, afirma uma técnica em laboratório.

A secretaria tem um quadro funcional estimado em 337 funcionários, sendo perto de 40% dos cargos ocupados com nomeação sem concurso público. O sindicato avalia que o movimento é legítimo e legal. A prefeitura já foi derrotada em três ocasiões no Tribunal de Justiça do Pará, na tentativa em deslegitimar o movimento.

Além de buscar negociações junto à pasta, conselho de saúde e mesmo acionado o Ministério Público, a situação continua num impasse, por conta da ausência de vontade política do atual gestor. 

Péssimas condições de um dos espaços da pasta da Saúde em Alenquer. 

No Legislativo, composto por 15 vereadores, a categoria conta com apoio de parte dos edis. Destes, três possuem parentes na pasta. O que os torna impedidos de participação da votação do projeto de lei na Câmara, contudo, os mesmos, ainda que impedidos por conta de conflito de interesse, votaram.

Durante todo este período de greve os servidores têm realizado atos públicos em frente ao prédio poder legislativo, secretaria de saúde, prefeitura, ministério público, praças e audiência pública com vistas a esclarecer a sociedade local.  

 

Maiores informações

Ariane Araújo da Silva (Enfermeira) 93 991930859

Ana Cristina Primo (Técnica em Laboratório) 991656358

domingo, 28 de janeiro de 2024

Crônicas sobre o trecho: o posfácio que ficou de fora

Um pouco mais de 70 crônicas dão corpo ao livro Amazônia: crônicas sobre o trecho, bulinações e alguns afetos, a ser lançado no mês que vem. Por conta de prazo, o posfácio assinado pelo educador Bispo do Rosário foi concluído somente após o envio do material para a gráfica. Contudo, compartilhamos as impressões do educador sobre a obra. O livro foi viabilizado a partir do Edital da Lei Paulo Gustavo. 



Os períodos são curtos. Urgentes, assim como a maioria dos parágrafos. Registros telegráficos, como se o escriba em fuga estivesse. Em suas errâncias (flanêur), Almeida manifesta o zelo pela arte da escuta e da observação. Andar só é uma preferência. Ele acredita que a opção favorece o deslocamento. Referências a feiras, botecos fuleiros e puteiros são recorrentes em sua escrevivência.   

Entre coisas vividas, vivenciadas e inventadas, o “vadio”, tal uma tia velha fuxiqueira, tece, uma aquarela dos vencidos em lonjuras (fronteiras) marcadas pela gula do capital, que a tudo fagocita, até o sorriso da tapuia após o coito matinal.  O recado consta em um poema.  

Nas geografias das errâncias, as estações do ano na Amazônia emergem ao queixar-se do sol inclemente, ou ao retratar as agruras dos tempos de cheia. O trecho é a questão que o inquieta, bem como os personagens que conferem forma, moldura e possível poesia e alma.  

No trecho, o filho chora, e a mãe não faz ideia dos aperreios. Garimpos, grandes obras de infraestrutura, empreendimentos agropecuários funcionam como uma espécie de imã de errantes.  Tais sujeitos migram em busca de dias menos doridos. As privações que a maioria experimenta é combustível de canções populares, muito bem sublinhadas em suas anotações. 

O trecho é bruto. Todavia, para além das agruras, como acredita uma filha de garimpeiros de Itaituba, a quem a obra é dedicada, é possível encontrar laços de solidariedade e amizades que perduram ao longo do tempo. Rogerio crê que as andanças representam uma faculdade sem parede. Em conversa sobre a origem da cria, ele explica após atividades laborais precárias, havia uma necessidade de fazer apontamentos sobre o que observara.  

A escrita é ligeira. Carrega a urgência de um condenado, onde o caolho pinça a trajetória de garimpeiros, donas de bar, bravas mulheres que o iluminam, a exemplo da genitora e o matriarcado em que foi criado. Em um capítulo, o bulinações, é puro devaneio de Dionisio.  Não só de escassez, violências, camaradagem e trairagem pulsa o trecho.   

 

Bispo do Rosário – educador

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Editora Cabana disponibiliza livro sobre as geografias agrárias da Panamazônia

A coletânea resulta do XXV Encontro Nacional de Geografia Agrária (ENGA), realizado em Belém, no fim de 2022



Temos a honra e a alegria de apresentar o mais recente lançamento da Editora Cabana, a coletânea de textos do XXV Encontro Nacional de Geografia Agrária (ENGA) de Belém do Pará, realizado entre os dias 08 e 12 de dezembro de 2022. Sob o tema “As Geografias Agrárias na PanAmazônia – lutas socioambientais e fronteiras do capital no Brasil”, o evento foi realizado depois de 45 anos de sua existência pela primeira vez na Amazônia brasileira.

Esse hiato espaço-temporal nos induz a refletir sobre alguns elementos do território brasileiro e, em especial, os que tocam a sua Questão Agrária. O livro “AS GEOGRAFIAS AGRÁRIAS A PARTIR DA PANAMAZÔNIA: lutas socioambientais e fronteiras do capital no Brasil”, não existiria sem os esforços dos estudantes, da graduação e da pós-graduação, da UEPA, de cada componente do grupo de pesquisa “Territorialização Camponesa na Amazônia”; de cada movimento social que construiu com o evento.

Nesta gira fizeram parte o FAOR (Fórum da Amazônia Oriental), ao MST, MAB, MAM, Via Campesina, Associação de Mulheres Quilombolas, Sindicato dos Docentes da UEPA – (SINDUEPA), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e CPT.

Bem como as instituições acadêmicas parceiras nesta empreitada: UFPA, IFPA, UNIFESSPA e UFOPA. Às agências de fomento e apoio à pesquisa, como a FAPESPA (Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas), ligada à SECTET (Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Profissional e Tecnológica) do estado do Pará. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Um agradecimento especial à nossa universidade, a UEPA, que, desde o primeiro momento, não titubeou no desafio para promover o evento.

 

Baixe o livro AQUI

Texto enviado pela organização do ENGA. 

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Ensaio de professor da UFOPA sobre a Calha Norte é finalista em prêmio na Europa

 O ensaio trata das tramas/dramas  que conformam a região  



A  5º edição do Prêmio Res Publica, organizada por fundação homônima, tem como tema central alterações climáticas e políticas públicas. E como subtemas orientadores, a conciliação entre a liberdade e a democracia com as limitações dos recursos naturais; o papel da tecnologia como mitigadora das alterações climáticas; a sustentabilidade como meta para o desenvolvimento; conflito entre as trocas comerciais e as relações internacionais; e, as grandes cidades na sua capacidade de autoabastecimento.  O certame distribuirá aos primeiros colocados cinco mil euros.

Segundo o site da fundação com sede em Lisboa, a instituição possui como missão o fomento ao pensamento político e às políticas públicas, sob a inspiração dos valores e princípios da liberdade, da igualdade, da justiça, da fraternidade, da dignidade e dos direitos humanos.

Rogerio Almeida, professor do curso de Gestão Pública, da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), assina o ensaio a primeira versão do Amazônia - Entre Juruti-Santarém:  rebojos sobre um passado que não passa, que foi selecionada para o exame final do concurso junto com mais 34 concorrentes.

 

Em seu resumo o trabalha explicita que o ensaio emergiu como mero relato de viagem, e foi ganhando corpo, adensamento, inflexões, licenças poéticas. Nas entrelinhas sublinha sobre a acumulação primitiva como elemento estruturante da integração tardia e subordinada da Amazônia aos circuitos mundiais de economia, bem como sobre a permanência da condição colonial da região como exportadora de produtos primários.

 

Trata ainda das r-existências dos sujeitos colocados em condições de subordinação a partir de uma totalidade contraditória, em arenas econômicas e políticas marcadas por abissais assimetrias.  

 

O professor explica que o trabalho continua passando por incrementos, e contou com a colaboração da sua versão derradeira da professora Thulla Esteves, com quem realizou atividade de campo na cidade de Juruti, no mês de setembro.

 

Os professores consideram que o relevante do processo é a visibilidade internacional da instituição Ufopa como importante produtora de reflexões e de conhecimento.

Em outro ensaio sobre os dilemas da Amazônia foi laureado com menção honrosa no concurso do Instituto Moreira Salles


domingo, 10 de dezembro de 2023

Solidariedade ao MST Pará



O IALA Amazônico está organizando uma campanha de solidariedade ao Acampamento Terra e Liberdade, onde na noite do dia 9 de dezembro aconteceu uma tragédia que vitimou 9 pessoas.


Aquelas/es que queiram prestar apoio, solicitamos que as transferências ocorram para o pix abaixo.


Caixa Econômica Federal 

Pix: iala.amazonia@gmail.com


Doações de alimentos, roupas e calçados estão sendo recebidas nas escolas do Assentamento Palmares II e no próprio acampamento.