domingo, 29 de novembro de 2015

Os heróis do Bar da D. Neusa


 

Pitolé tem um metro e meio. O homem magro adota o grisalho cabelo sempre curto. Bebe todo dia. Religiosamente paga com o dinheiro adquirido em sua transportadora uma buchudinha no buteco da D. Neusa.  

Pitolé é um empreendedor do setor de transporte. É um “burro sem rabo”.  Aquele que faz frete em uma carroça de madeira. No caso dele, um carro de mão. Devidamente identificado. Trata-se da Transpitolé.  

O autônomo mora na Rua do Fio, bairro da Guanabara, quebrada de Ananindeua, região metropolitana de Belém. Pitola, como é tratado pelos íntimos, cumpre a rotina em comprar a pinga e apostar no coelho.

Todos na comunidade comentam que ao contrário dos demais papudinhos, Pitolé nunca pede. Defende o troco na estiva sob o céu inclemente ou a chuva torrencial.

Vez em quando o senhor que deve somar umas 50 primaveras aparece com a face em desgraça. Resultado de algum acidente movido pela embriaguez. Louro, que encontra-se na mesma faixa etária, rivaliza no ramo de negócios de Pitolé. 

Ao contrário de Pitolé, sempre que sobra algum troco, Louro toma uma breja e fuma um preto.  Desinibido, pede cigarro e cerva. Não é tão magro como Pitolé. Em comum, os empreendedores da quebrada possuem como hábito exibir o corpo. Quase sempre estão desprovidos de camisa.  

O Bar da Neusa é a referência para encontrar os dois, além de aposentados, desempregados, funcionários públicos, professores, policiais e gente com dívida com a justiça. Alguns com o tornozelo ornado por uma pulseira preta.
 
É o Bar da D. Neusa uma catedral de vencidos? Ali divirto-me com as narrativas de Dicó.  Um senhor de mais de 70 anos. Aporta no lugar sempre de bike cargueira. A magrela é um instrumento usado pelos idosos que trocam um dedo de prosa ali.

Dicó é atravessador no negócio de filé. Já mexeu com rinha de galo, onde cumpria o papel de treinador e negociante, onde orgulha-se em ter feito inúmeras estrelas. Ele é doutor em puteiros da Pedreira. Um dia quero roubar essa história. Vai custar uns litrões de breja, consumo favorito do bem humorado senhor.

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