terça-feira, 13 de junho de 2017

Fórum sobre a Amazônia realizado na Unb repudia modelo de desenvolvimento



Na última sexta-feira, dia 9, dia em que a Justiça (TSE) nacional, sob a direção de Gilmar Mendes acenava a favor do crime organizado como comandante nacional, no auditório da Faculdade de Saúde, Maria da Graça, uma quilombola do município de Alcântara, Maranhão, roubava a cena na mesa de encerramento do Seminário Internacional sobre a Amazônia (FIA), organizado pelo Núcleo de Estudos Amazônicos (Neaz) da Universidade de Brasília (Unb). 

O evento comemorativo pelos 30 anos do núcleo, tinha à mesa o notório economista londrino, autor de cinco livros sobre temáticas amazônicas, o professor Anthony Hall. Entre as publicações, a mais referenciada, trata sobre o programa Grande Carajás, publicada na década de 1990. 

Mas, foi Maria da Graça que tomou conta do território. Ela alertou sobre a perspectiva de desenvolvimento das populações locais da Amazônia. “Para nós a referência sobre desenvolvimento é a beleza da natureza. É poder abrir a janela e contemplar o sol, o rio, a floresta. É poder pescar, coletar frutos, cuidar da roça, compartilhar com o vizinho um punhado de arroz ou farinha”, falou em seu discurso.

Na mesma pegada, a maranhense criticou o esvaziamento de ações dos movimentos sociais durante os governos petistas, e a necessidade de se reorganizar a luta no atual cenário marcado pelo desmonte das conquistas asseguradas na constituição de 1988. “ O cenário é de fragilidade. Não temos representação no Congresso, tomado de assalto pelo agronegócio, pastores e militares” argumenta Graça.

A ativista chamou atenção ainda para as inúmeras medidas provisórias que colocam em xeque a reprodução econômica, política e social dos camponeses na Amazônia, bem como as comunidades tradicionais em sua diversidade. Sobre a chacina de Pau D´arco, ocorrida no dia 24, do mês passado, onde 10 camponeses foram mortos pelas policiais do estado do Pará, sinalizou pela necessidade de não se naturalizar tais fatos. 

Outra questão na agenda de inquietações da quilombola é o novo projeto do governo federal para a base de Alcântara. “Não somos contra a ciência, mas aquilo não serve pra gente. O ministro (Justiça) Jungmann esteve lá, e os moradores não possuem a menor ideia do que o governo planeja. Não fomos ouvidos, denuncia Graça.   

FIA – O Fórum Internacional sobre a Amazônia (FIA) contou com mais de 800 inscrições com representação de todos os estados da Amazônia Legal, e ocorreu entre os dias 06 a 09 de junho, com três mesas, apresentação de trabalhos, oficinas e rodas de conversa.

Ao fim do vento, uma carta sublinha sobre a necessidade da defesa das populações tradicionais da Amazônia, e contra a agenda de desenvolvimento marcada pela presença de grandes projetos foi lida e acatada pela plenária. 

O documento final, que deve ser traduzido para inúmeros idiomas, repudiou o governo Temer, considerado golpista e ilegítimo. Vale uma ressalva sobre as mesas de debates. Em todas elas as populações locais tiveram assento.