quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Reforma Agrária - PA tem 38 pessoas ameaçadas de morte, afirma CPT

Nessa semana, a Comissão Pastoral da Terra está tornando público um diagnóstico sobre a situação de lideranças e trabalhadores (as) rurais ameaçados (as) de morte na região sul e sudeste do Pará. O levantamento foi realizado durante o período de janeiro a junho de 2012 e constatou a existência de 38 pessoas ameaçadas nas duas regiões. Já foram protocalados cópias do diagnóstico no Ministério Público Federal, Delegacia de Conflitos Agrários, IBAMA, Ministério Público do Trabalho, Justiça do Trabalho entre outras instituições. Leia mais em Amazônia

terça-feira, 7 de agosto de 2012

SDDH celebra 35 anos

A história de lutas contra violações de direitos humanos no Pará se confunde com a própria história da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), que completa 35 anos neste dia 8 de agosto. A instituição foi pioneira no processo de organização da sociedade civil paraense e no Brasil de forma geral. É uma das cinco organizações não governamentais mais antigas do país, que surgiu para aglutinar as pessoas e movimentos que se opunham à repressão do regime militar na segunda metade da década de 70. Leia mais em SDDH

Jornalistas do site Pública realizam grande reportagem sobre Carajás


Não é somente os desafios geográficos que tornam a cobertura jornalística na Amazônia um desafio. O aspecto exuberante e exótico ainda predomina em boa parte da limitada e precária cobertura sobre a região considerada estratégica em várias dimensões.  Má formação profissional, distância física entre as regiões, condição de periferia mesmo em relação ao país, o que poderia explicar o cenário?

Os principais veículos quando fazem alguma cobertura acabam reeditando a perspectiva das primeiras narrativas dos colonizadores. E contemplam a região como algo estranho, atrasado e que necessita ser enquadrada sob os auspícios da civilização.  Há exceções. É certo. Mas, até entre os veículos considerados “alternativos” a região é invisibilizada. 

Neste sentido a jornalista Marina Amaral e o fotógrafo estadunidense Jeremy Bigwood ficaram uns 18 dias percorrendo a região de Carajás, sudeste do Pará, oeste do Maranhão e norte do Tocantins.  Os dias aqui são de sol extenuante. Uma sensação de mais de 40º. Ambos estão vinculados ao site Pública, que tem como pauta a defesa dos direitos humanos.
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Amaral foi repórter por uns 10 anos da revista Caros Amigos. E teve o texto lapidado pelo craque e inventor de publicações Sérgio de Souza, já falecido.  Bigwood cobriu guerras em alguns países da América Latina. O conteúdo sobre os grandes projetos é multimídia. Os jornalistas conheceram entre outras cidades Marabá, Canaã dos Carajás e Parauapebas no estado do Pará e Açailândia no estado Maranhão. Ambos são cortados pela Ferrovia de Carajás, que escoa o minério extraído na serra paraense.

A dupla percorreu perto de 2.500 km entre rodovias e estradas vicinais. Ouviram autoridades, militantes de movimentos sociais, assessores de ONG´s e pessoas de alguma forma impactadas pelos grandes projetos na região, que tem como principal ponta de lança a mineradora Vale, numa jornada de labuta que durava até 12h por dia. Horas que os jovens candidatos a jornalistas dedicam ao cibermundo.  

Amaral conta que foram  coletadas mais de trinta horas em vídeo e trinta e sete em áudio. Um excelente material a ser decupado num momento em que a região passa por um cipoal de redefinições no plano econômico e político. É como se outro projeto Carajás estivesse sendo editado: ampliação do processo de extração mineral na própria região e em outros municípios, duplicação em quase sua totalidade da Ferrovia de Carajás, projeto de porto e hidrelétrica em Marabá, duplicação da capacidade da hidrelétrica de Tucuruí. 

Antes da pauta sobre Carajás o Pública veiculou uma série de matérias sobre educação. O conteúdo é aberto e pode ser replicado, desde que citada a fonte.

A dupla agora faz o processo de apuração, e em breve irá disponibilizar o conteúdo resultado da empreitada.  Aguardemos.                                                                                             

Amazônia, jornalismo e a peleja de Lúcio Flávio Pinto

Num dia qualquer de maio Lúcio Flávio Pinto foi indicado por unanimidade para receber a chancela mais importante relacionada com a defesa dos direitos humanos e a cidadania do país, o Prêmio Wladimir Herzog, versão 2012. Lúcio, com quase 50 anos de profissão, desta feita foi apontado, ao contrário de outras ocasiões em que enviou produtos.

Além da qualidade do trabalho, pesou a favor do autor de mais de 15 livros, o número de processos que o mesmo responde, por pautar em seu quinzenário, o Jornal Pessoal (JP), assuntos de interesse público, tais como: desvio de recurso público, grilagem de terras, condutas suspeitas de magistrados e políticos, e por aí vai.      

O jornalista mais importante em assuntos amazônicos foi ladeado pelo octogenário Alberto Dines, o coordenador do Observatório da Imprensa (OI). Dines é o responsável pela melhor fase do JB nos gloriosos anos do jornalismo brazuca. Trata-se de uma fase de incremento editorial e gráfico, que ocorreu nos fins dos anos 1950 e meados de 1960. Odylo Costa Filho levantou a bola, que foi chutada para frente por Dines, no caso do JB.  No mesmo cenário, mas, em outros jornais, estavam figuras que colaboraram para a profissionalização da carreira, entre eles Samuel Weiner, Danton Jobim e Pompeu de Souza.  

Em entrevistas recentes Dines rememorou um fato inusitado, a demissão do hoje senador pelo PMDB do Amapá, o maranhense José Sarney. O então correspondente do JB no Maranhão e também deputado da província tinha por hábito emplacar matérias elogiosas a ele mesmo.

É creditada a Dines a criação do caderno de cultura, bem como o caderno de estudos em comunicação. A iniciativa do caderno de cultura foi replicada de Norte a Sul do país. Ferreira Gullar, Clarice Lispector, Mário Faustino e Eneida de Moraes figuravam entre os colaboradores. Já o segundo buscava refletir de forma crítica sobre o cenário da imprensa nacional.  Dines emerge no campo da comunicação como uma espécie baluarte do jornalismo nacional. Uma reserva moral.

Hoje o experimentado jornalista responde pela coordenação do OI. A produção do programa veiculado nas noites de terça feira na TV Cultura amiúde tentou contar com a participação de Lúcio. No entanto, a rotina jurídica do jornalista o impediu de comparecer fisicamente. Contudo o editor do JP nunca deixou de ser citado, a exemplo de uma edição do OI dedicada a refletir sobre a cobertura jornalística sobre a Amazônia. A motivação da pauta foi a execução do casal de extrativistas no município de Nova Ipixuna, sudeste do estado.    

O programa analisou a precária e má qualidade da cobertura jornalística dos principais veículos de comunicação dos centros econômicos do Brasil sobre a região. Uma contradição foi erguida, como explicar a má publicação do jornalismo sobre a Amazônia, cumprindo a região um papel estratégico em diferentes campos? Assim como o Estado, a imprensa tem “descoberto” a região sempre após as tragédias sacramentadas.

Alguns elementos foram consensuados na tentativa de explicar o fato. Um deles é a formação do profissional. O assunto é espinhoso e complexo, demanda tempo e disciplina para coletar dados, ler tratados, ouvir especialistas e as partes em geral envolvidas nas contendas diárias. Outra dimensão levantada é o custo para efetivar viagens em processo de apuração dos fatos na região que responde por mais de 60% do território nacional.   

Em solidariedade e respeito ao labor de Lúcio, Alberto Dines ousou fazer uma edição do OI aqui em Belém. Ela foi toda dedicada ao trabalho do paraoara, que mais tarde conseguiu participar de uma edição do OI no Rio de Janeiro. Quando a pauta é a Amazônia ele é referência indicada. Seja como fonte para pesquisadores ou correspondentes internacionais.    

É neste cenário que há 25 anos o JP segue uma caminhada pedregosa. A mim surpreende empreendedorismo do jornalista, que bem poderia comercializar a sua capacidade intelectual para consultorias de políticos. No entanto decidiu esgrimar com assuntos indigestos. No que pese os processos e a produção do JP, foi capaz de publicar ainda no primeiro semestre dois dossiês: um sobre a grilagem de terras e um sobre a Vale. Sem falar em pelo menos dois livros, sendo um autoral sobre a hidrelétrica de Tucuruí e outro em parceria com um professor.

Uma matéria de Mário Sérgio Conti na excelente Revista Piauí, edição de julho, ilumina a trilha de bons profissionais que optaram pelos cifrões em consultorias de campanhas. Soma que sempre ultrapassa a casa do milhão. Com a capacidade e estrada que Lúcio Flávio é tributário poderia gozar de tal zona de conforto, ao mesmo no que tange ao numerário.

Qualquer pessoa medianamente informada sabe do relevante papel que o outsider  Lúcio exerce em visibilizar atos secretos ou ocultos das representações de poder no estado e na região.  

Assim tem conseguido se indispor com empresários, como no caso do Cecílio Rego de Almeida, que o processou por conta do JP denunciar a maior grilagem de terra já ocorrida no país. E  magistrados, políticos e com donos de empresas de comunicação do estado, como o Grupo Maiorana, que controla a repetidora da TV Globo, canal por assinatura, rádios AM e FM e jornais. O grupo rivaliza com a família Barbalho o controle dos principais meios de comunicação no Pará.

E foi uma contenda com o grupo Maiorana que gerou o mais novo revés jurídico contra Lúcio Flávio Pinto. Na edição de nº 518 do quinzenário JP o jornalista esclarece os meandros do processo que o condenou a indenizar a família em cerca de R$500 mil reais.   

O jornalista nascido em Santarém, no Baixo Amazonas, oeste paraense, sublinha sempre que a ele interessam os fatos e o interesse público, bem como o contraditório. No entanto, além dos processos já sofreu espancamento físico por parte de um dos Maiorana. Fato amplamente divulgado.   

Outro dia encontrei o editor do JP na Gráfica Smith, na caótica Av. Pedro Álvares Cabral a revisar uma edição do jornal. Estava num canto. Quieto. O cumprimentei. Trocamos umas impressões sobre assuntos variados.

Aos olhos meus pareceu desprovido de soberba, coisa tão comum entre os pares de profissão ou acadêmicos. A ele pedi um texto para a orelha do livro Pororoca pequena: Marolinhas sobre a(s) Amazônia (s) de Cá, de minha autoria que pretendo lançar ainda este mês. Prontamente fui socorrido. E aqui agradeço novamente a gentileza. A obra foi selecionada para publicação em edital do Banco da Amazônia.     

Existem discordâncias sobre o viés de análise do jornalista. Mas, é fato. O nome do mocorongo Lúcio Flávio Pinto já consta nos anais da história sobre Amazônia e o jornalismo. E isso pode ser verificado com os prêmios nacionais e internacionais, os livros, a colaboração em veículos de comunicação da grande mídia e os considerados alternativos. E ainda a experiência como educador no Brasil e exterior. Para não falar em processos.