Sebastião Rodrigues de Moura, conhecido como “Curió” é mineiro de São Sebastião do Paraíso, sul de Minas Gerais. Ele iniciou sua carreira política em 1982, ao ser eleito deputado federal pelo PDS partido de sustentação dos militares. Uma candidatura motivada muito mais como uma missão a ser cumprida, do que uma inclinação política.
Em 1982 como os generais Octávio Medeiros e Newton Cruz, ministro chefe e chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Informação (SNI), respectivamente, ordenaram que o coronel saísse candidato, em uma celebração conhecida com o uísque das oito. Na edição do Jornal do Brasil de outubro de 1986, o coronel lembrava: “é missão? Se for missão, sou candidato” ,indagava Curió aos seus superiores após receber a ordem : - Você vai ser candidato. Setenta e oito mil votos asseguraram a sua eleição e em termos proporcionais, ele foi o deputado mais votado da época.
Um dos colegas de farda de Curió, o Coronel –Aviador- Pedro Corrêa Cabral de Araújo, que ficou 13 meses na região, entre janeiro de 1974 a fevereiro de 1975, na derradeira fase da Guerrilha do Araguaia, aponta-o como o responsável pela “Operação Limpeza”, destinada a apagar qualquer vestígio que indicasse a existência de uma guerrilha no local.
Cabral que hoje é evangélico, se diz arrependido e escreveu um livro sobre o assunto: Xambioá: Guerrilha do Araguaia. Em depoimento registrado com o número de 429/01, dado à Comissão de Direitos Humanos da Câmara (CDH), no dia 23 de maio de 2001 ele rememora detalhes desta operação. A derradeira fase da operação tinha por finalidade eliminar da área de qualquer vestígio que ali havia acontecido uma guerrilha. “A descaracterização das aeronaves, das pessoas que ali combateram também tinha esta finalidade: não caracterizar, jamais, perante a opinião pública nacional como também perante a internacional, de que havia uma situação de guerrilha no nosso país”, relata
No depoimento ele conta que a operação durou uns 10 dias, e sua missão era pilotar um dos dois helicópteros que teriam transferido os corpos dos guerrilheiros para um local conhecido como clareira de Manoel das Luas, na Serra das Andorinhas, entre Xambioá (TO) e Marabá (PA). O aviador não soube precisar a quantidade de viagens, ressaltando que transportava de dois a três corpos em cada vôo.
CHAFURDO NA SELVA
“Chafurdo” foi o primeiro código repassado a Cabral quando aportou na região da Guerrilha. A palavra designa o encontro de militares com guerrilheiros. E que havia tido combate. Mas nem sempre era isso ao pé da letra. Cabral rememora que: “quando se usava a palavra “chafurdo” estava dizendo que uma patrulha encontrou guerrilheiros e que teve combate. Em uma das suas primeiras missões, recebeu mensagens via rádio, de uma patrulha chamada Curió. “Perguntei sobre sua missão – perguntei o que tinha que perguntar-, e me disseram, entre outras coisas, que houve chafurdo. Voltei a Marabá. Cheguei ao comando, vamos dizer assim, eufórico, e disse que a Patrulha Curió teve chafurdo. Ninguém deu a mínima.Ao voltar ao alojamento e contar o fato, o pessoal falou: Cabral, fica na sua. Essa patrulha aí o chafurdo dela é entre aspas. Essa patrulha saiu de manhã com dois ou três prisioneiros, e eles viajaram. Eles foram eliminados”, recorda
O depoimento dado por Cabral foi reforçado três anos depois, em março do ano de 2004, quando um soldado identificado apenas por Ferreira, confirma ao Procurador Republica do Estado do Pará Adrian Pereira Ziemba, que oficiais e sargentos cometeram torturas e mortes de guerrilheiros.
Fragmento de texto sobre a Guerrilha do Araguaia do livro Araguaia-Tocantins - fios de uma História camponesa que pode ser baixado no blog