Há 10 anos vinha ao mundo, puxado a fórceps, o meu
primeiro livro: Araguaia-Tocantins: fios de uma História camponesa. O Bico do
Papagaio, norte do Tocantins, sul do Pará e oeste do Maranhão, região imortalizada
pela violência cometida contra trabalhadores (as) rurais e a pessoas simpáticas
a causa da reforma agrária, defesa do meio ambiente e dos diretos humanos serviu
de pano de fundo.
Nesta latitude esgrimam pelo controle do território
grileiros de terras, pecuaristas, madeireiros, grandes corporações minerais, barrageiros,
sojicultores, populações indígenas, trabalhadores (as) rurais, pescadores,
ribeirinhos, e por ai vai. Aqui, literalmente, o filho chora e a mãe não vê.
A rede Fórum Carajás, a CPT de Balsas\MA e a Cooperativa
de Serviços, Pesquisa e Assessoria Técnica (Coospat) bancaram a empreitada.
Francisco Carlo e Luciana Carla (não é uma dupla sertaneja) ajudaram na
carpintaria dos nove textos que integram a cria, que teve a diagramação e arte assinadas
por Joacy Jamys (in memória), desenho de capa do Rildo Brasil, e prefácio do dirigente
do MST/PA, Jorge Néri.
Cederam fotos: Cepasp/PA, Centru/MA, CPT/Marabá/PA
e Antônio Marques/PA (Gordo). O histórico dirigente sindical camponês maranhense,
Manoel Conceição é o homenageado na obra, pelo 40 anos de militância.
Poemas de Mário Quintana e Ferreira Gullar abrem os
textos que cotejam numa narrativa jornalística parcela das realidades daquele
momento histórico. Ali estão contemplados compassos e descompassos do movimento
camponês, momentos de agudização da violência e novas estratégias de resistências
e enfrentamentos.
Assim, estão sublinhados o caso do morte do líder sindical
José Dutra das Costa (Dezinho), executado na porta da própria casa, no município
e Rondon do Pará. A justiça nunca alcançou principal acusado da encomenda da morte,
o fazendeiro Delsão.
Sobre o mesmo tema, o capitulo Sangue, suor e lutas narra sobre o recrudescimento da violência ocorrida
no início da década, onde o dirigente camponês José Pinheiro Lima (Dedé),
esposa e o filho de 15 anos foram executados por pistoleiros na periferia de
Marabá. Execuções, reintegrações de posse e prisão de ativistas motivaram a
realização de uma audiência pública da Câmara Federal.
Na mesma obra pode ser encontrado o registro sobre
a experiência de camponeses do oeste e sul do Maranhão, onde os próprios
trabalhadores (as) coordenam uma ONG, o Centro de Educação e Cultura do
Trabalhador Rural (CENTRU). Os mesmos (as) tocam ainda um centro de difusão de
tecnologias, através de sistemas agroflorestais e várias cooperativas
organizadas em uma central. Parada de Manoel Conceição e seus pares. O Centru abrigou o lançamento do Araguaia.
A peleja que envolve a edificações de hidrelétrica
na Amazônia é registrada tendo como ênfase a hidrelétrica de Estreito, erguida
na fronteira do Maranhão com o Tocantins, no rio Tocantins.
Um tema quase sempre secundado pelas entidades de representações
dos trabalhadores, a comunicação, tem um robusto capítulo que pinça sobre
inúmeras iniciativas ocorridas no sul e sudeste paraense, trabalho publicado
num espaço acadêmico.
Demais capítulos mereceram destaque na Revista
Cadernos do Terceiro Mundo/RJ, Revista Sem Terra/SP e Democracia Viva-IBASE/RJ.
Outros
filhos estão na algibeira ao lado do Araguaia-Tocantins, a exemplo de Territorialização
do campesinato do sudeste do Pará e Pororoca pequena: marolinhas sobre a(s)
Amazônia (s) de Cá. Os interessados podem baixar os livros em PDF.
Cá encontra-se o autor,
cabeça caiada de branco, outros quilômetros somados por outras quebradas que
não somente Carajás, olhos cansados a matutar uma série de três volumes batizada
de Arenas Amazônicas, onde labuta tratar de comunicação popular (vol I),
grandes projetos na Amazônia (vol II) e negros/as, periferia, cultura e resistências
(vol III).
Bora lá, que a areia da ampulheta do tempo não cessa o cair.
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