domingo, 10 de janeiro de 2016

Há 10 anos vinha ao mundo Araguaia-Tocantins: fios de uma Histórica camponesa


 

Há 10 anos vinha ao mundo, puxado a fórceps, o meu primeiro livro: Araguaia-Tocantins: fios de uma História camponesa. O Bico do Papagaio, norte do Tocantins, sul do Pará e oeste do Maranhão, região imortalizada pela violência cometida contra trabalhadores (as) rurais e a pessoas simpáticas a causa da reforma agrária, defesa do meio ambiente e dos diretos humanos serviu de pano de fundo.

Nesta latitude esgrimam pelo controle do território grileiros de terras, pecuaristas, madeireiros, grandes corporações minerais, barrageiros, sojicultores, populações indígenas, trabalhadores (as) rurais, pescadores, ribeirinhos, e por ai vai. Aqui, literalmente, o filho chora e a mãe não vê.

A rede Fórum Carajás, a CPT de Balsas\MA e a Cooperativa de Serviços, Pesquisa e Assessoria Técnica (Coospat) bancaram a empreitada. Francisco Carlo e Luciana Carla (não é uma dupla sertaneja) ajudaram na carpintaria dos nove textos que integram a cria, que teve a diagramação e arte assinadas por Joacy Jamys (in memória), desenho de capa do Rildo Brasil, e prefácio do dirigente do MST/PA, Jorge Néri.

Cederam fotos: Cepasp/PA, Centru/MA, CPT/Marabá/PA e Antônio Marques/PA (Gordo). O histórico dirigente sindical camponês maranhense, Manoel Conceição é o homenageado na obra, pelo 40 anos de militância.

Poemas de Mário Quintana e Ferreira Gullar abrem os textos que cotejam numa narrativa jornalística parcela das realidades daquele momento histórico. Ali estão contemplados compassos e descompassos do movimento camponês, momentos de agudização da violência e novas estratégias de resistências e enfrentamentos.

Assim, estão sublinhados o caso do morte do líder sindical José Dutra das Costa (Dezinho), executado na porta da própria casa, no município e Rondon do Pará. A justiça nunca alcançou principal acusado da encomenda da morte, o fazendeiro Delsão.

Sobre o mesmo tema, o capitulo Sangue, suor e lutas narra sobre o recrudescimento da violência ocorrida no início da década, onde o dirigente camponês José Pinheiro Lima (Dedé), esposa e o filho de 15 anos foram executados por pistoleiros na periferia de Marabá. Execuções, reintegrações de posse e prisão de ativistas motivaram a realização de uma audiência pública da Câmara Federal.

Na mesma obra pode ser encontrado o registro sobre a experiência de camponeses do oeste e sul do Maranhão, onde os próprios trabalhadores (as) coordenam uma ONG, o Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural (CENTRU). Os mesmos (as) tocam ainda um centro de difusão de tecnologias, através de sistemas agroflorestais e várias cooperativas organizadas em uma central. Parada de Manoel Conceição e seus pares. O Centru abrigou o lançamento do Araguaia.

A peleja que envolve a edificações de hidrelétrica na Amazônia é registrada tendo como ênfase a hidrelétrica de Estreito, erguida na fronteira do Maranhão com o Tocantins, no rio Tocantins.

Um tema quase sempre secundado pelas entidades de representações dos trabalhadores, a comunicação, tem um robusto capítulo que pinça sobre inúmeras iniciativas ocorridas no sul e sudeste paraense, trabalho publicado num espaço acadêmico.

Demais capítulos mereceram destaque na Revista Cadernos do Terceiro Mundo/RJ, Revista Sem Terra/SP e Democracia Viva-IBASE/RJ. Outros filhos estão na algibeira ao lado do Araguaia-Tocantins, a exemplo de Territorialização do campesinato do sudeste do Pará e Pororoca pequena: marolinhas sobre a(s) Amazônia (s) de Cá. Os interessados podem baixar os livros em PDF.

Cá encontra-se o autor, cabeça caiada de branco, outros quilômetros somados por outras quebradas que não somente Carajás, olhos cansados a matutar uma série de três volumes batizada de Arenas Amazônicas, onde labuta tratar de comunicação popular (vol I), grandes projetos na Amazônia (vol II) e negros/as, periferia, cultura e resistências (vol III).
Bora lá, que a areia da ampulheta do tempo não cessa o cair.  

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