segunda-feira, 16 de maio de 2022

Bandeira 3, jornal editado na década de 1970, por Lúcio Flávio Pinto e uma intrépida trupe tratava das grandes transformações que precipitavam sobre a Amazônia e a capital do Pará.

Três fases marcam a vida do Bandeira 3. A primeira entre os anos de 1971/1972, como encarte do jornal Província do Pará. A segunda como independente, que corresponde ao ano de 1975, e uma tentativa de relançamento em 1991. 


A edição de nº 02 contempla em sua capa a obra Verde Vagomundo,  de Benedicto Monteiro. Na edição consta uma entrevista e uma resenha sobre Minossauro.  

Amarrada por barbantes, impregnada por poeira, jogada em uma estante dedicada ao Pará, desprovida do cuidado que merece, na biblioteca Arthur Vianna, vinculada ao Centro Cultural e Turístico Tancredo Neves (Centur), na Av. Conselheiro Furtado, assim a hoje jornalista Camila Barros encontrou a coleção completa da segunda fase do jornal Bandeira 3, na cidade de Belém, no ano de 2011.

Barros na época era estudante de jornalismo na Unama, no imponente prédio em Ananindeua.   Antes da universidade ser repassada a um grupo, que a transformou em um arremedo de instituição de ensino, onde impera a precariedade.  

O jornal era editado pelo jornalista Lúcio Flávio Pinto na década de 1970. Em sua primeira fase foi encartado no falecido jornal a Província do Pará (1971-1972), e em seguida de forma independente no ano de 1975 teve sete edições. Consta ainda uma edição única no ano de 1991, numa tentativa de retomar o semanário. 

Barros acessou a coleção da segunda fase do jornal, a considerada independente. Sobre ela se debruçou para a produção de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que teve como membro da banca examinadora o professor e experimentado jornalista Antônio Carlos Pimentel. Maria Barbalho assina o TCC ao lado de Camila.  Todavia, foi Barros quem mais empenhou esforços em viabilizar o trabalho.

Capa do TCC de Camila Barros, apresentado em 2011. 

Há caldo para a produção de mais interpretações em diferentes campos do conhecimento sobre o Bandeira 3, citado numa obra considerada referência sobre a comunicação alternativa do Brasil, assinada por Bernardo Kucinski.

Em formato tablóide, com edições semanais, os números tinham vinte e quatro páginas, tiragem de dois mil exemplares e contava com uma diagramação moderna, na época em que a impressão em offset ainda era uma novidade no país.  

A caricatura do político Gerson Perez ilustra a capa de nº03, que contempla ainda debate sobre a questão indígena, 

Grandes projetos de desenvolvimento, questão indígenas, violência policial, a cena política do estado, a reorganização do espaço urbano de Belém, bem como aspectos culturais da capital compunham a pauta.  

Sublinho aqui a edição de número de 2, onde o boletim entrevista o militante e escritor de verve comunista Benedicto Monteiro, que naquela época lançava Verde Vagomundo (1972), que faz parte de uma tetralogia que inclui ainda O Minossauro (1975), A Terceira Margem (1983) e Aquele Um (1985). Uma referência sobre a vida na Amazônia.

Em 1975 a ditadura civil militar galopava a plenos pulmões. Sequestro, prisões, torturas e assassinatos tomavam o país de Norte a Sul. A integração subordinada da Amazônia tinha nos polos de produção uma das suas colunas, além da construção de rodovias, que remodelaria as feições física, política, social e econômica da região. Enquanto nos beirais do Araguaia, jovens do PC do B empenhavam esforços em barricadas de uma guerrilha sob a inspiração de Mao.

A trupe do Jornal

As editorias eram divididas por temáticas: “Nacional/Internacional” cabiam a Guilherme Augusto; “Amazônia” a Raymundo Costa; “Cidade” a Raimundo José Pinto (irmão mais velho de Lúcio); “Especial” a Walter Rodrigues e “Artes/ Espetáculos” a Regina Alves. Ademir Silva era o repórter fotográfico do. Na diagramação, o B3 contava com a colaboração de Antonio Carlos Guimarães. A ilustração era de Luis Antonio Pinto.

Nesta edição a capa é dedicada ao debate sobre a questão indígena e o Projeto Grande Carajás. 


Entre os repórteres constavam no escrete de prima  Nélio Palheta, Paulo Roberto Ferreira, Elias Pinto Jr., Fernando Lima e Francisco Guerra. Mas a redação do B3 se estendia por municípios do Pará e do Brasil. No Estado, eram correspondentes Manuel Dutra, em Santarém, e José Ademir Braz, em Marabá. Em Manaus (AM), havia a colaboração de Manuel Lima. Outro repórter responsável pela cobertura dos fatos na região Norte, era o jornalista Elson Martins, sitiado em Macapá (AP). Do Rio de Janeiro (RJ), as reportagens eram enviadas para a redação, em Belém, por Hamilton Bandeira. Na capital paulista (SP), eram correspondente Sérgio Buarque e Palmério Vasconcelos.

Arquivo sobre o Bandeira 3

Ao chafurdar em caixas com materiais que carrego ao longo de várias mudanças de  cidades e casas que já protagonizei, deparei-me com a versão impressa do TCC de Camila, bem como com um caderno de uma cópia em xerox da coleção do Bandeira 3. 

Ao comentar o assunto com o Elias Pinto, colunista do Diário do Pará, irmão caçula de Lúcio Flávio e parte da história do jornal, decidi escanear o material e disponibilizá-lo a quem interessar possa.  

Por fim, na algibeira da memória recordo que Camila havia manifestado um certo descontentamento pelo fato em não ter alcançado a nota máxima na avaliação da defesa do trabalho.  A consolei argumentando que ao menos um artigo a gente conseguiria publicar.

A seguir disponibilizo o artigo assinado por Camila Barros e por mim, o TCC e a coleção do Bandeira 3. Informo que a digitalização foi realizada em uma impressora doméstica a partir de uma matriz de xerox. O que pode comprometer a leitura do conteúdo.   

 

Acesso aqui o artigo

Acesse aqui o TCC

Acesse aqui a coleção do Bandeira 3

 

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