O avanço do grande capital sobre os territórios ancestrais é um dos motivos para a criação do canal de comunicação popular.
O rio encanta. Arapiuns, Jamanxim,
Crepori, Juruena, Arapiuns, Curucu, rio das Tropas, Maicá, Tapajós, Amazonas, onde,
a depender do local de partida, leva mais de dia para se alcançar o local de
destino, e a imposição em experimentar variadas modalidades de transporte. Por cá, o rio é mar. O rio é a rua do meu lugar.
Igarapés, furos, paranás,
rios e gentes que poucos que pleiteiam a instalação de grandes projetos
conhecem. Não sabem do que existe para além dos rios, das florestas que os
comprimem, dos peixes e outros bichos que lhe conferem vida. Ignoram os
encantados, as magias, bem como a dinâmica do ciclo da lua, que guia o plantar
e o pescar das gentes de cá desta margem do mundo.
E, se conhecem, demonstram-se
indiferentes. Relatos e mais relatos a perder de vista aos montes seguem a mesma trilha, a invisibilidade ou a desqualificação. Relatos de religiosos,
saqueadores, viajantes, naturalistas e escritores.
Nos dias de hoje, realidades
estas marcadas pela pressão do grande capital, que coloca em xeque a
sobrevivências dessas gentes de saberes milenares. “É mais belo o rio que corre na minha aldeia.
É mais livre e maior o rio da minha aldeia”, fraseia Pessoa. Balsas e navios de soja não sabem da ternura e vida do rio da minha aldeia.
Em corrente inversa aos
estranhos que pretendem a posse das terras ancestrais, três jovens filhos
destes rios e destas gentes indígenas, campesinas e quilombolas abriram uma
janela para o mundo sobre suas realidades. E, decidiram em cantar a (s) sua (s)
aldeia (s) a partir de um site de
jornalismo, batizado de Tapajós de Fato.
A janela que se abriu no
ano passado, tem como linhas de frente o artista, devoto do samba, Clara de
Nunes e do candomblé, o publicitário Marcos Wesley. O comunicador foi embalado em sua infância pelas
pelejas sindicais da sua família na cidade de Belterra, vizinhança de Santarém,
a cidade polo do oeste paraense.
Ele explica que o avanço da fronteira do grande capital sobre a região o inquietou, e junto com outros amigos resolveram em criar o canal de comunicação. Wesley integra inúmeros coletivos da região, e já assessorou o Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais (STTR) de Santarém. Em uma prosa ligeira manifestou interesse em incrementar os seus conhecimentos com uma pós graduação em que possa refletir sobre os territórios comunais da região.
A produção dos podcast do
canal Tapajós de Fato é de responsabilidade de Isabelle Maciel. As mulheres
arretadas da família servem de farol para a apresentadora do programa Voz para
Todas na rádio Geração FM, da cidade de Mojuí dos Campos. A cidade, assim como Santarém
e Belterra, experimenta a reconfiguração do seu território por conta do avanço
do monocultivo da soja. A emancipação
feminina é a pauta preferida da jornalista.
Gabriel Siqueira é o
terceiro combatente da comunicação popular do site. O estudante de jornalismo,
como os demais, além de integrar coletivos de comunicação, faz parte de fronts
de resistência como o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), e do
Tapajós Vivo.
Em comum, além da idade, 23 anos apenas, os jovens destoam da maioria das pessoas da sua geração. Cá, o trio mobiliza o coletivo de comunicação e empenha esforços em correr o trecho da região, em conhecer e narrar as lutas das suas gentes, e em interpretar as ameaças que nublam a vida dos rios em que foi criado e vive. Rios, ora, ameaçados de todas as formas pelo avanço do grande capital. Rios, suas gentes, fortunas e encantados.
Tal experiências pretéritas, a exemplo do boletim do STTR de Santarém, Lamparina, o jornal dos movimentos populares do sudeste do Pará, o Grito da PA 150, o Jornal Resistência produzido em Belém, o Varadouro do Acre, e tantos outros, o site Tapajós de Fato tem a possibilidade de espelhar as principais pelejas das gentes ancestrais das terras, florestas e rios das bandas do Baixo Amazonas.
A exemplo da cobertura sobre o transbordamento da bacia de rejeitos da mineração Alcoa, em Juruti. Corre, espia AQUI.
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