domingo, 29 de julho de 2018

Luta pela terra no Pará: dedo de prosa sobre pistolagem e resistências camponesas


Massacres e ataques contra sem terra  marcam a história de luta pela terra no sudeste do estado, bem como a resistência camponesa
 
“ A gente é que nem bambu, verga, mas não quebra”.  A máxima fazia parte da oratória de sindicalistas ligados à luta pela terra na bacia do Araguaia-Tocantins. É terra encharcada de sangue de posseiro. É terra onde mais se matou gente na peleja da luta pela terra no Brasil desde os anos de 1980. Período considerado o mais violento. 

Passados mais de 40 anos, a violência se mantém, a exemplo dos ataques de pistoleiros no acampamento Hugo Chaves, na cidade de Marabá, ocorrido na madrugada do último dia 27. 

Barracos, lavouras, roupas foram queimados e os sem terra ligados ao MST expulsos. Não é a primeira vez que o episódio ocorre. Soma-se ao fato, a chacina de Pau D´arco, ocorrida em maio de 2017, que terminou com o massacre de dez sem terra ligados à Liga dos Camponeses Pobres.  

Ao se deparar com as presentes ações, soa que estamos a visitar registros de jornais da burguesia e boletins populares que denunciaram a grilagem de terras, violência de pistoleiros e policiais da década de 1980, entre eles o Jornal Resistência e o Grito da PA 150, este último produzido na região de Marabá.

O cenário externaliza a fragilidade da nossa democracia. Sob o caos fundiária, morosidade e anuência do judiciário, coerção pública e privada, endosso de cartórios uma imensidão de terras foi grilada. Mas, apesar das adversidades, parte deste campesinato da fronteira se territorializou. 

Tanto resultado da organização dos “de baixo”, quanto pelo movimento contraditório do capitalismo, que o cria e recria.  Ele controla mais de 52% de mais de 30 municípios do sul e sudeste do estado Pará. São mais de 500 projetos de assentamento.

Assim, sob o decreto de número 3938, no dia 15 de janeiro de 1987, numa área de 5.058.4728 hectares foram assentadas 92 famílias do que veio a ser o primeiro PA da reforma agrária no sudeste do Pará, o Castanhal Araras, localizado no município de São João do Araguaia.  Dava-se o início da desconstrução do que ficou conhecido como polígono dos castanhais. Fruto de atos de ocupação por posseiros da terra indígena do povo gavião e inúmeros acampamentos em órgãos públicos. 

Cupuaçu, castanha do Pará, pupunha, açaí constavam na flora do lugar. Um experimento de modelo de organização social e política através de fomento de caixa agrícola, organização de movimento de mulheres, realização de festival ecológico foram realizados no PA Araras, 40 km de Marabá. A ONG Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular (CEPASP) foi um dos principais animadores no PA. 

Pelo pioneirismo a comunidade acabou por servir de berço a vários dirigentes que ocuparam e ainda ocupam cargos na Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Pará (Fetagri) e na central de cooperativas da região. Conseguiu eleger vereadores e até um vice-prefeito. A experiência de Araras se alastrou para os municípios vizinhos de Nova Ipixuna e Eldorado do Carajás.  

O prognóstico na fronteira não previa a permanência do campesinato. Sucedia afirmar que o mesmo seguiria em itinerância cedendo lugar à “eficiência capitalista”. Mas, o que se desnudou no sudeste seguiu o sentido contrário,  partir da mediação de frações da Igreja Católica, partidos políticos, intelectuais orgânicos, ONGs, e por aí vai, feito bambu, que verga, mas, não quebra.

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