A integração da Amazônia cimentou um histórico de violência sobre as populações locais e as que para cá migraram
Imagem apanhada do google
O Brasil é o país que
mais matou defensores do meio ambiente e de terra no mundo no em 2017. A maior
parte das pessoas assassinadas residia na Amazônia. A informação é da ONG Global
Witnes, divulgada no início desta semana. Conforme o relatório 57 pessoas foram
executadas no Brasil, sendo 80% da Amazônia.
Por trapaça da sorte os
dados foram apresentados quando no sertão da Amazônia, na cidade de Anapu,
sudoeste do Pará [o estado é líder imbatível em mortes no campo] sem terra e
assentados da reforma agrária, defensores do meio ambiente celebravam a memória
da missionária Doroth Stang [assassinada em 2005], e de camponeses e camponesas
executados em disputas por terra.
Além de celebrar a
memória dos que tombaram por defender a reforma agraria, meio ambiente e
direitos humanos, o ato teve como objetivo protestar contra a prisão do Pe
Amaro. O agente pastoral da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entre outras
pessoas é quem tem tocado o trabalho da missionária. Amaro foi preso pela
justiça do Pará às vésperas da semana santa deste ano. Ficou encarcerado por
uns três meses.
Nada de novo front na
quebrada amazônica desde a integração [física e econômica] subordinada da
região ao resto do país e do mundo, ocorrida nos anos de exceção. O avanço do
modo de produção de capitalista sobre a fronteira da Amazônia cimentou um
rastro de crime de toda a ordem contra as populações locais, e as que para cá
migraram, onde constam execuções, expropriações e espoliações. Nos dias atuais,
além de execuções, os adversários agregaram ao cardápio a criminalização das
ações dos movimentos populares.
Não sem motivo, além de execuções,
a região lidera desmatamento e os indicadores de trabalho escravo. As disputas
por terra e os recursos que cá abundam mobilizam inúmeras redes de ilegalidade.
O rosário de crimes agrupa empresas dos mais diferentes setores, grileiros de
terra, escritórios de advocacia, agentes do judiciário, “puliça” de variadas
patentes e segmentos [militar, civil, e por aí vai], empresas travestidas de
prestadoras de serviços de segurança. Um
trem a perder de vista.
Amazônia
– terra das mortes sem fim
É emblemático, os anos
1980 entraram para a história como o período mais violento na Amazônia, em
particular, no estado do Pará. Trata-se do instante em que os setores
ruralistas se mobilizam para impedir a reforma agraria, a partir da conjunção do
que existe de pior em nossa sociedade sob a legenda de Centrão. O setor emergiu
em defesa das bandeiras mais conservadoras do país. Assim como hoje.
Ao mesmo tempo grupo
criou o lado “b”, a União Democrática Ruralista (UDR). A UDR foi/é uma espécie de
braço armado, incentivado em particular por Ronaldo Caiado, político goiano. Assim
foram executados daquela época, os advogados Gabriel Pimenta, João Batista,
Paulo Fontelles no estado do Pará, o padre Jósimo no interior do Maranhão, os
sindicalistas Expedito Ribeiro, e boa parte da família Canuto, no município de
Rio Maria, no sudeste do Pará e a irmã Adelaide, também no Pará. Apenas para
lembrar uns casos. Sublinhe-se: maioria
dos casos é coberto pela impunidade.
Mídia e a sociedade
tendem a naturalizar tais episódios, o que acaba por motivar novas chacinas e execuções,
a exemplo do assassinato de nove pessoas adultas executadas por pistoleiros a
350 km da zona urbana de Colniza,
município a 1.065 km de Cuiabá, no dia 19 de abril de 2017. Dois dias após a
passagem de 21 anos da chacina de Carajás. Os corpos apresentaram sinais de
tortura, segundo os técnicos da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) que realizaram os exames de necropsia.
Já no dia 24 de maio,
após tortura, policiais civis e militares executaram 10 camponeses no município
de Pau D´arco, no sul do Pará. Trata-se da mesma data do assassinato do casal
de extrativistas José Cláudio e Maria do Espírito Santo. Morte ocorrida no ano
de 2011, no projeto de assentamento Praia Alta Piranheira, no município de Nova
Ipixuna, a sudeste do estado.
Quem diz a canção [Saga
da Amazônia] do nordestino Vital Farias : “ quem hoje é vivo corre o perigo.” Até quando?
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