quinta-feira, 29 de maio de 2014

Cenas de Belém


13h.  Sol a cozinhar a carapaça cansada.  Faz 40º na sombra. Um jovem cruza a Av. Conselheiro de moletom. Capuz sobre a cabeça.  Depois eu é que sou o maluco.

Daqui a pouco a chuva precipita. O ponto de busão não tem proteção.  Apanho um livro de Mia Couto para presentear uma pessoa especial.

Almoço no terminal rodoviário. Sempre no mesmo lugar. Sempre o mesmo prato: peixe. Um calor segue infernal. A cerva no boteco do Bigode socorre.  Um mala puxa papo.  Tenho ima para malas.  

Ele já soma umas seis garrafas sob a mesa. Bebe com uma prostituta mulata. Ela tem as marcas da noite na face: olheiras e uma baita cicatriz do lado esquerdo do rosto. E outra no queixo.

Não estou afins de papo. Pago a conta. No quiosque da rodoviária latinhas de cerveja. Mesmo canto, mesmo banco, mesmas atendentes. Coisa de velho.

Seu Catiá  cruza o passeio. Tem uns 80 anos. É ás no violão sete cordas. Todo fim de semana baixa no Gilson. Tem fama de mal humorado.

Fico preso por conta da chuva. Perco a soneca pós rango. Quando a chuva se esvai a tarde já caminha para o fim. Um casal de idosos procura o ponto de ônibus. Desfilam de mãos dadas. Ambos com a cabeça branca. Parecem recém enamorados. Morro de inveja.
Décimos, frações de segundos, porções de instantes, coisas desimportantes......

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