A invasão do STTR de Santarém não representa um fato isolado no avanço da fronteira do grande capital sobre o Baixo Amazonas.
As
águas do Tapajós estão elevadas. Estão a
beirar o asfalto. Pela manhã abundam
aracu e pacu, enquanto à noite pescada branca, explica um experimentado
pescador. Ao apontar uma espécie de ilha
na outra margem do rio, conta que daquele lado de lá é possível encontrar tucunaré.
Faz-se necessário atenção para enxergar a outra margem do rio. Desanuviar a
neblina capital.
As
águas do Tapajós não respeitam as barreiras artificiais. O mundo do Tapajós anda agitado, as agendas
capitais tendem a agudizar as situações de conflitos. Ao centro, terra,
subsolo, floresta e as águas do mundo da imensa bacia do Amazonas, onde se
projeta igualmente represar rios para a geração de energia, para edificar
complexos portuários, estações de transbordo de mercadorias. Soja na jogada. Encruza civilizatória. Cilada. Tocaia. Arapuca
para leso apanhar.
A
ideia é transformar a região num imenso corredor de mercadorias. Uma passagem
que a tudo desorganiza: território, laços de amizade, solidariedade, fronteiras,
tambores, rimas e bandeiras. A tendência
é a apropriação privada de terra comunal. É transformar terra de trabalho em
terra de negócio.
As
gentes de cá contam nestes planos como um empecilho à racionalidade do grande
capital, articulado em conglomerados, como ocorre no Distrito de Miritituba, na
cidade de Itaituba. O capital sem
concorrência. Tudo ajeitadinho. Tudo amiguinho: Bunge, Cargil, e coisa e tal.
As
gentes daqui, sequer aparecem nos mapas dos projetos. As gentes daqui aos olhos
dos estranhos de lado de lá representam uma pedra no caminho do acumulo de
riquezas nas mãos de poucos.
Entrincheirar-se
é necessário, de sabença, de prudência e cuidado. Para que a gente não conte
corpos sobre corpos, como sucede com a pandemia. Como historicamente tem
ocorrido nas Amazônias.
O
capital quando aporta na quebrada não dá ponto sem nó. Vai chegando e fazendo quiproquó.
Coloca em desalinho os laços de solidariedade, desarruma a família dos
parentes. Quem sabe dos garimpos em terra Munduruku em Jacareacanga sabe bem do
riscado. Uma pororoca de intrigas.
No
derradeiro dia 03 de maio, dois dias após do dia dedicado ao trabalhador e à
trabalhadora, ocorreu de um grupo invadir a sede do Sindicato dos Trabalhadores
e das Trabalhadoras Rurais (STTR) de Santarém, oeste do Pará ou o Baixo
Amazonas, como preferem alguns.
O
STTR é uma instituição histórica e combativa da classe trabalhadora do mundo
das terras do Tapajós e outros rios.
Não
se trata de fato isolado a violência capital em oposição as representatividades
da sociodiversidade da região. Noutro dia,
forjaram um flagrante com vistas a criminalizar a ação de brigadistas da Vila
de Alter do Chão, ao mesmo em que invadiram a sede da ONG Projeto Saúde e
Alegria.
Noutro
extremo, fazendeiros empreenderam o Dia do Fogo em Novo Progresso. O nome da cidade já soa
como ironia. Coisas dos tempos dos milicos. Como se diz nestas paragens: tu tá
ligado mano?
O
presente (des) governo empenha todos os esforços em tudo desmantelar.
Instituições que tratam da terra, das florestas, dos direitos humanos não contam
com orçamento. O corte é sucessivo e
mais profundo a cada ano. Até provocar hemorragia e tudo findar. Na missão em tudo destruir, nomeia uns bocós
que de um nada sabem do riscado. Estão nos postos a cumprir a missão em tudo destruir.
Nesta
direção, tacou um general sabido em riscar meio fio na pasta da Saúde, um cabra
preto que odeia preto na Fundação Palmares, uma pomba lesa na pasta da
Cidadania, um grileiro para cuidar da questão Agrária, uma fazendeira doida por
veneno e monocultivos para a Agricultura.
As
águas do Tapajós andam agitadas. As violências desavergonhadas explodiram o
armário. Estão por canto. Afrontam todas as cidadelas. Urge as gentes o cuidado
pelas próprias gentes. As gentes é o alvo. A bala, a fome e a justiça as armas
dos contrários.
Tapajós
faz banzeiros nos dias de hoje. Agitado riomar
de disputas territoriais, a exigir navegadores atentos e uma boa lamparina da sabença
para alumiar o navegar até a outra margem do rio, para se festejar em ciranda
uma boa Piracaia.
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