Foto: caminho para Paupixuna
Cazula
é sobrenome de ascendência Italiana e lusa, conta dona Irani, que vem a ser a
mãe de Leandro, este professor de Geografia da UFOPA. Os ancestrais da família baixaram em terra
brasilis ao apagar das luzes do século de XIX, cuja missão consistia em
substituir o braço escravo de África na cultura do café em solo paulista.
Dava-se
assim a origem ao colonato, como explica José de Souza Martins, em Cativeiro
da Terra. Tão explorados, quanto
aqueles, os migrantes europeus ajudaram a operar a máquina da cadeia do café,
esta responsável pelo processo de “modernização” do país.
Martins
dispara que a racionalidade do trabalho do colono continuou a ser a mesma
realizada pelo escravo, mudando somente a forma de organização social do
trabalho, do trabalho coletivo do eito, para o trabalho familiar.
A
migração subsidiada pelo Estado colaborou na conformação na nova mão de obra, e
consequentemente, no cálculo capitalista da produção cafeeira, que antes
residia no tempo de vida do escravo, este considerado como capital fixo na
contabilidade da época. O escravo integrava o patrimônio. O Museu do Migrante,
localizado em São Paulo, evidencia parcela da história.
Irani baixou Santarém outro dia. Leandro a levou para conhecer o povo Munduruku do
planalto. Visita mediada pelo cacique
Manoel da aldeia Ipaupixuna. Ela faz fronteira com o território de remanescentes
de quilombolas do Tiningu. Aproximadamente, uns 40km de lonjura da sede do município.
O
planalto sofre influência do mundo das águas do rio Amazonas e do Tapajós. Ali abundam
igarapés, furos e rios, e o formoso Lago do Maicá, objeto de disputa e saques
de diferentes frentes. Açaí, pescado, floresta secundária ajudam na composição
da várzea.
A
missão consistia em levar uns canos para dá vazão à água do poço da comunidade,
que irá alimentar um roçado. No caminho apanhamos uma boia para o almoço. Um cadinho
de carne. A recepção para a dona Irani foi a melhor possível.
A
senhora assaltou acerola no meio do caminho, degustou da refeição produzida pela
indígena Graciene, provou da pupunha, iguaria que não conhecia. Trocou prosa, tomou
café. Os distantes mundos não pareciam estranhos.
Talvez aproximados
pela dor e agruras pretéritas, soavam antigos parentes. Não foi possível provar do açaí, nesta época do
ano, rareia. Nas aldeias e quilombos, o tempo passa desaperreado. As crianças
correm desinibidas pelo chão de terra, despreocupadas com a dinâmica dos
ponteiros dos relógios dos não índios.
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