terça-feira, 24 de março de 2020

Planalto Santareno: notas sobre um visita em Ipaupixuna

Foto: caminho para Paupixuna
Cazula é sobrenome de ascendência Italiana e lusa, conta dona Irani, que vem a ser a mãe de Leandro, este professor de Geografia da UFOPA.  Os ancestrais da família baixaram em terra brasilis ao apagar das luzes do século de XIX, cuja missão consistia em substituir o braço escravo de África na cultura do café em solo paulista. 

Dava-se assim a origem ao colonato, como explica José de Souza Martins, em  Cativeiro da Terra. Tão explorados, quanto aqueles, os migrantes europeus ajudaram a operar a máquina da cadeia do café, esta responsável pelo processo de “modernização” do país.

Martins dispara que a racionalidade do trabalho do colono continuou a ser a mesma realizada pelo escravo, mudando somente a forma de organização social do trabalho, do trabalho coletivo do eito, para o trabalho familiar.

A migração subsidiada pelo Estado colaborou na conformação na nova mão de obra, e consequentemente, no cálculo capitalista da produção cafeeira, que antes residia no tempo de vida do escravo, este considerado como capital fixo na contabilidade da época. O escravo integrava o patrimônio. O Museu do Migrante, localizado em São Paulo, evidencia parcela da história.

Irani baixou Santarém outro dia. Leandro a levou para conhecer o povo Munduruku do planalto.  Visita mediada pelo cacique Manoel da aldeia Ipaupixuna. Ela faz fronteira com o território de remanescentes de quilombolas do Tiningu.  Aproximadamente, uns 40km de lonjura da sede do município. 

O planalto sofre influência do mundo das águas do rio Amazonas e do Tapajós. Ali abundam igarapés, furos e rios, e o formoso Lago do Maicá, objeto de disputa e saques de diferentes frentes. Açaí, pescado, floresta secundária ajudam na composição da várzea.

A missão consistia em levar uns canos para dá vazão à água do poço da comunidade, que irá alimentar um roçado. No caminho apanhamos uma boia para o almoço. Um cadinho de carne. A recepção para a dona Irani foi a melhor possível.

A senhora assaltou acerola no meio do caminho, degustou da refeição produzida pela indígena Graciene, provou da pupunha, iguaria que não conhecia. Trocou prosa, tomou café.  Os distantes mundos não pareciam estranhos.

Talvez aproximados pela dor e agruras pretéritas, soavam antigos parentes.  Não foi possível provar do açaí, nesta época do ano, rareia. Nas aldeias e quilombos, o tempo passa desaperreado. As crianças correm desinibidas pelo chão de terra, despreocupadas com a dinâmica dos ponteiros dos relógios dos não índios. 

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