quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Tapajós em questão: mulheres ativistas protagonizam encerramento de seminário sobre grandes projetos

"Unificar as lutas dos povos tradicionais é a nossa saída" defende Leuza Munduruku

 


 
Mulheres predominaram na mesa de encerramento do seminário Direito e Desenvolvimento, organizado pela Ong Terra de Direitos e a Universidade Federal do Oeste do Pará, (Ufopa). Entre os dias 16 a 18, pesquisadores, estudantes, comunitários e ativistas e advogados trataram sobre as violações dos direitos humanos que os mega projetos agendados para a região do Tapajós engendram. Em todos os dias o auditório do Campus Rondon esteve lotado. O público ocupou o chão e apanhou cadeiras apanhadas das salas de aula.


Maria Leuza, índia Munduruku, com a filha apoiada em sua cintura, recuperou o processo de luta de seu povo. Maria esteve em Paris, durante a COP 21, no fim o ano passado. Como outras ativistas, a Munduruku defende a necessidade de unificação da luta de todos os povos que serão impactados pelo conjunto de projetos desenhados para a região.

O território ocupado há mais de 140 anos pelo povo Munduruku na região de Mangabal não foi reconhecido pelo governo Dilma, apesar dos relatórios concluídos. Por conta da medida interministerial, de número 419, que ataca de morte as comunidades tradicionais, o governo não deu andamento ao processo. O auto reconhecimento do território tem sido realizado pelos próprios indígenas, que enfrentam grileiros e madeireiros.

Ameaçados pelo Estado, grileiros e madeireiros, as populações locais, indígenas e ribeirinhos, auto identificados como beiradeiros, de forma inédita, alinharam-se pela primeira vez. “Iremos morrer caso fiquemos calados e com os braços cruzados. Somos todos irmãos” argumenta Leuza.

Darcilene Godinho, uma senhora de estatura miúda e posições firmes, representante do Movimento Tapajós Vivo (MTV), segue a mesma linha de raciocínio da indígena Munduruku, e defende a unificação da luta dos povos da floresta contra os grandes projetos.

“Necessitamos agregar pescadores, agricultores e indígenas em defesa de nossas riquezas, sob o mote da água como direito universal. Nós temos um projeto de desenvolvimento que é a partir de nossas realidades. Nossa luta é em defesa da vida em todos os sentidos”, defende a espirituosa ativista.

Coube a Elisângela Barros, reassentada do município de Altamira, por conta da barragem de Belo Monte, ativista do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), relatar parte dos passivos que o empreendimento promoveu na região. “Vivemos num ambiente marcado por todo tipo de violência. Aumentou a violência física contra as mulheres. As nossas crianças vivem ameaçadas pela prostituição” relatou a militante negra.

“O projeto do complexo hidrelétrico do Tapajós é um projeto de morte. Caso se efetive irá transformar o rio num lago. A medida irá sucumbir mais de 10 mil anos de conhecimentos tradicionais” sentenciou o professor Mauricio Torres.

Na mesma perspectiva do professor Sérgio Sauer, que esteve na mesa de ontem, Torres alerta que as hidrelétricas são apenas uma perna dentro do conjunto de grandes projetos, que envolve além do avanço da fronteira do agronegócio, corporações do setor mineral, entre elas a Vale, empresa top em violação de direitos humanos.

Energia é o principal insumo das empresas de eletro intensivos, como tem alertado em inúmeras falas o pesquisador Célio Berman, especialista no assunto, que defende a repotencialização das hidrelétricas mais antigas do sistema. Berman esteve em Santarém para a audiência pública animada pelo Ministério Público Federal (MPF), no início do ano.
 
O advogado  e professor da Ufopa, Sérgio Martins , ao fim dos trabalhos, leu uma moção de apoio ao ativista do MAB de Tucuruí, Roquevan Alves, condenado por reivindicar seus direitos como impactado pela barragem de Tucuruí. Coincidentemente, hoje Alves celebra anos.
Criminalizar a luta popular e militarizar o licenciamento ambiental tem sido a regra do governo federal na agenda amazônica.

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