Seminário organizado pela ONG Terra de Direitos e Ufopa encerra hoje. O auditório, dominado por faixas de protesto contra os grandes projetos, esteve lotado em todos os dias.
Encerra hoje no
auditório do Campus Rondon, da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), o
seminário Direito e Desenvolvimento, que discute a agenda e os passivos sociais
e ambientais advindos dos grandes projetos para a região do Baixo Amazonas.
A mesa de encerramento,
que inicia as 19h, contará com o professor da Ufopa, Maurício Torres, que
assina a organização do livro Amazônia Revelada, que trata sobre a BR 163. A
obra tem entre os colaboradores o geógrafo Ariovaldo Umbelino, da USP. O
extenso texto de Umbelino recupera os antecedentes econômicos e sociais que
conformaram a região, até alcançar os dias atuais.
Além do professor Torres
integrarão a mesa de hoje representantes do Movimento Atingidos por Barragens,
a ONG Terra de Direitos e movimento indígena.
Grandes obras de
infraestrutura no Baixo Amazonas
Na mesa de ontem, o
professor da Universidade de Brasília (Unb), Sérgio Sauer, refletiu que o
conjunto das obras de infraestrutura visam a aprofundar o acesso aos produtos
primários da região, a exemplo do minério, e a redução dos custos de circulação
de commodities para os centros do capitalismo mundial. “O que vem ocorrendo de
forma radical par o setor primário da economia. Isso não desenvolve lugar nenhum. Tais projetos engendram a apropriação privada do bem comum ”,
taxou o professor.
Jesus, representante
dos quilombolas advertiu que para os técnicos responsáveis pela elaboração dos
estudos ambientais as populações do Lago do Maicá não existem. O lago está localizado
em Santarém, onde um conjunto de empresários do setor de grãos, organizado a
partir da empresa Embraps, visa construir um complexo portuário. 59 comunidades
quilombolas e 9 bairros devem ser afetados pelo empreendimento. “Nós existimos.
Nós estamos aqui. E não somos gramíneas, como diz o estudo ambiental”, criticou
o quilombola Jesus.
No conjunto de obras de
infraestrutura para o Baixo Amazonas, constam o complexo portuário de
Miritituba, localizado no município de Itaituba, controlado pela empresa estadunidense
Bunge, a duplicação e melhoria da BR 163, o complexo de portos do Lago do Maicá, foco de interesse de sojicultores, além do complexo hidrelétrico no
Tapajós e Teles Pires.
Ione Nakamura, promotora
da Vara Agrária do Ministério Público do Estado (MPE) alertou para um limite
que existe do processo de licenciamento ambiental, que tem sido realizado de
forma que não contempla o efeito cumulativo do conjunto de empreendimentos. A promotora
alertou ainda sobre o lobby de vários setores que busca rever resolução do
Conselho Nacional de Meio Ambiental (Conama), no sentido de afrouxar o processo
de licenciamento ambiental.
Auricélia Arapiuns,
representante indígena e estudante de direito da UFOPA, recuperou algumas vitórias,
a exemplo da suspensão da decisão do juiz Airton Portela, que havia negado a
existência de indígenas na região do Moró. “O Estado tem negado o nosso direito em ser ouvido, aos
nossos moldes, conforme estabelece a resolução 169, da OIT, onde o país é
signatário” alertou a indígena.
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