terça-feira, 14 de outubro de 2008

Amazônias, quantas são?


Armando Dias Mendes é um professor universitário aposentado na Amazônia.

Certa vez foi consultado para produzir um relatório sobre determinado assunto para uma instituição. Um desses muitos relatórios que mofam nos porões.

A praxe desses relatórios é um termo de referência repleto de exigências mil. Parece-me que o professor fez tudo ao contrário. Oxalá ainda exista herege. Recebeu um mundo de críticas dos tecnocratasMas, manteve a versão do trabalho.

A invenção da Amazônia – alinhavos para uma história do futuro é a saga do relatório que virou livro. Destino honroso.

A obra é uma referência interessante para se consultar sobre a Amazônia A primeira edição data da década de 1970. Por que do preâmbulo? Porque ainda hoje a região é uma terra incógnita para a maioria dos brasileiros. Isso se nota no artigo de Roger Agnelli publicado na Folha de São Paulo do dia 12 de outubro. E também no site do MST sobre os projetos de assentamento (PA´S) na Amazônia. Soa que a brecha ideológica preponderou ante o bom senso.

O cardeal da Vale, inspirado num catatau de desencontros de dados sobre desmatamento, dana a sentar falações sobre o assunto. O especialista em mega-transações no mercado mundial, não economizou a indicar saída para os PA´s na região. Claro, sem fazer referência aos enclaves que a empresa mantém na mesma.

Ancorado na confusão sobre o assunto na mídia grandalhona, o chefe da Vale trombeteou que é necessário o zelo pelo meio ambiente, numa clara renúncia aos passivos sociais e ambientais que as operações de muitos dos braços da Vale provoca na região.

A exemplo da tensão que ocorre em Ourilândia do Norte, sudeste do Pará, onde a Vale, através da Onça Puma, que explora níquel. Ou mesmo a exploração de bauxita, matéria prima para a produção do alumínio, no município de Paragominas, nordeste do Pará. O duto que escoa o minério tem impactado terras quilombolas no município de Moju, norte do estado.

Parece que o principal executivo da Vale não sabe das cadeias de devastação ambiental e trabalho escravo que o pólo de siderurgia de Carajás (MA/PA) desencadeia sobre a floresta e o cerrado, para manter os fornos em operação.

O executivo dispara que é a sociedade que arca com os custos dos PA´S, ora pois. Quem na região sabe do custo que a sociedade paga para subsidiar a energia para as fábricas de alumínio (ALBRÁS/ALUNORTE), no município de Barcarena, norte do Pará? Não é o Estado (BNDES) o principal agente o financiador das obras de integração? Não é o BNDES o grande credor das grandes corporações?


Já a reportagem no site do MST, do dia 14 de outubro, palmilha vereda similar a de Agnelli ao tentar refletir sobre os assentamentos na Amazônia. Parecem ambos descuidados com as realidades que norteiam os mundos amazônicos.

A matéria argumenta que o governo federal fez reforma agrária na região e que tudo ganhou proporções há 12 anos atrás. A matéria desconsidera os processos pretéritos de luta pela terra na região.

Ainda que situe que o reconhecimento de áreas ocupadas iniciou há 12 anos atrás, não reflete que o RECONHECIMENTO de áreas ocupadas na Amazônia foi uma ação reativa do governo federal ante os massacres de Corumbiara/RO,1995 e Eldorado do Carajás/PA,1996.

Uma outra seara delicada quando se busca compreender a Amazônia são as fontes das informações, quase sempre falhas, sem falar nas sobreposições dos dados (IBGE/IBAMA/GOVERNOS ESTADUAIS,ONG´s).

A questão que inquieta é interrogar se o mais prudente não seria refletir que o que ocorreu na Amazônia foi um reconhecimento massivo de terras ocupadas?

Vale lembrar ainda que a região compreende mais de 50% do território do país, o que empurra o debate para uma questão de escala, que creio, não seja o caso.

Terra na Amazônia, reforma agrária, projeto de desenvolvimento para a região, são temáticas caras, e reflito, devem ser tratadas com mais carinho.

Afinal, qual o projeto de desenvolvimento que os amazônidas podem protagonizar?

Por ora, o extrativismo segue sendo o diapasão.

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