domingo, 20 de julho de 2025

Jabuti acadêmico: obra que retrata saga de extrativistas assassinados no Pará é semifinalista do Jabuti

O professor  da UFBA, Felipe Milanez, assina a obra Lutar com a floresta, publicada pela Editora Elefante



José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo foram assassinados em uma manhã do dia 24 maio de 2011, no município de Nova Ipixuna, sudeste do Pará. Região imortalizada onde mais se mata em disputas pela terra no Brasil.

Quando do anuncio do caso na Câmara Federal, a bancada ruralista festejou como se fosse uma final de campeonato. O mesmo Legislativo que acaba de passar a boiada sobre o licenciamento ambiental no ano em que a Amazônia sedia a COP. 

Como outros casos de execução de dirigentes sindicais, ambientalistas e defensores de direitos humanos, todos sabiam, até os carrapatos dos bois das terras griladas.

O nome do casal constava em lista de pessoas ameaçadas de morte,  a cada ano divulgada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Nada foi feito.  José Cláudio chegou a denunciar as ameaças que o casal vinha sofrendo durante o evento Red Amazônia, realizado em Manaus, meses antes da tocaia.

Os extrativistas moravam no Projeto de Assentamento Agroextrativsita (PAE) Praialta Piranheira.  No contexto das contradições das disputas pela terra, o sul e o sudeste do Pará contabilizam um pouco mais de 500 projetos de assentamentos da reforma agrária (PAs).

Maria do Espírito Santo e José Cláudio. Foto: Felipe Milanez


O Praialta Piranheira é o único projeto com esse viés ambientalista. Até a criação do PAE os moradores contaram com a mediação de inúmeros sujeitos do campo democrático, onde constam frações da Igreja Católica, a exemplo da CPT, UFPA, Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), ONGs, partidos políticos, Conselho Nacional dos Seringueiros, entre outros sujeitos.  

Por longo tempo o Laboratório Socioambiental do Araguaia-Tocantins (LASAT) prestou assessoria com relação ao manejo florestal de base comunitária.  Na época o Lasat era vinculado a UFPA. Com relação ao manejo florestal de base comunitária, um conjunto de instituições propõe há mais de dez anos a efetivação de uma política estadual.  Saiba mais AQUI

A obra – o jornalista, documentarista e sociólogo Felipe Milanez assina a obra Lutar com a floresta, lançando em maio de 2024, pela Editora Efefante.

Ela resulta de trabalho de doutoramento realizado no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, sob a orientação de um time de primeira linha, onde constam o economista Martinez Alier (Universidade Autônoma de Barcelona), a historiadora ambiental Stefania Barca (à época Universidade Coimbra) e o antropólogo Alf Hornborg (Universidade de Lund), em 2015.

O professor da Universidade Federal da Bahia esclarece que não se trata de uma biografia ou trabalho etnográfico. Mas, sim de um esforço em dialogar com as ideais do casal em defesa da floresta e a mobilização em um projeto para além das fronteiras do Antropoceno.

Sob a inspiração do sociólogo José de Souza Martins, Milanez sintetiza na apresentação do livro que “Não se trata apenas de um estudo de caso, mas também de um estudo a partir de um caso, uma investigação que utiliza um caso crucial enquanto analisador-revelador das contradições da sociedade capitalista”.

Com vistas a manter acesa a luta do casal, as famílias dos extrativistas criaram um instituto em defesa da memória dos mártires. Entre outras atividades, todo mês de maio a instituição realiza a Romaria dos Mártires da Floresta.  Ano passado Milanez lançou o livro em Marabá.

O livro de Felipe Milanez para além de iluminar sobre o martírio de José e Maria, a inoperância do estado em garantir a vida dos extrativistas, alerta para a possibilidade da construção de um projeto para além da apropriação privadas das riquezas e dos saberes da região.

O livro ombreia outras contribuições que buscam a edificação de um diálogo marcado pela horizontalidade entre os sujeitos e os diferentes saberes.


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