domingo, 29 de maio de 2022

Vale mantém perseguição contra professor no interior do Pará, apesar de duas derrotas na Justiça

A mineradora processa o professor Evandro Medeiros cível e criminalmente por conta da participação dele em manifestação em solidariedade aos atingidos pelo crime que a Vale cometeu em Mariana/MG em 2015. O ato de solidariedade ocorreu em Marabá, sudeste do Pará.

Evandro Medeiros na EFC. Foto: Alexandra Duarte

No começo do mês de maio a Vale teve mais um recurso contra a vitória dos advogados do professor Evandro Medeiros negado. Na decisão do procurador do Ministério Público do Pará, Hezedequias Mesquita da Costa, ele sublinha a ausência de materialidade dos crimes que a mineradora imputa ao professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), onde realça que “Observa-se que o acervo probatório foi vastamente analisado pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Pará, que concluiu pela inexistência de provas da materialidade do crime e indícios suficientes de autoria contra EVANDRO COSTA DE MEDEIROS.” Veja a íntegra do documento AQUI

A Vale processa cível e criminalmente o professor pelo fato dele participar dele participar de um ato em solidariedade às pessoas atingidas pelo crime da Vale em Mariana, Minas Gerais, ocorrido em 2015. 

Após mais uma derrota a mineradora resolveu mobilizar esforços no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A sanha da Vale contra o professor Medeiros iniciou em 2015. O processo teve impacto da saúde do educador, e acarretou em obstáculos quando o mesmo cursava doutorado, além de constrangimentos dos filhos. 

Sobre as acusações da Vale contra o professor Evandro Medeiros leia mais AQUI.

Vale processa quase 200 pessoas - Espionar movimentos sociais, dirigentes, educadores e processar quem denuncia os abusos que a mineradora promove em seus locais de operação tem sido um modus operandi da Vale.  O total beira a casa de duas centenas, conforme reportagem da Agência Pública de 2017.

 

Posseiros, sem terra, lavradores, quilombolas e  educadores de pequenas cidades e vilarejos da área de influência da Estrada de Ferro de Carajás (EFC) são alguns dos alvos preferências da mineradora.

A ferrovia de aproximadamente 900 km, liga o sertão do Pará, a região de Carajás, sudeste do Pará, ao litoral do Maranhão, São Luís. A EFC foi duplicada por conta do maior projeto da Vale, o S11D, que explora ferro na cidade de Canaã de Carajás. As cifras do projeto são de bilhões de dólares. 

O mercado asiático é o maior consumidor do minério extraído no Pará. As duas cidades de Carajás, Parauapebas e Canaã juntas exportam mais que o município de São Paulo. No ano passado o Pará contou com o maior saldo na balança comercial do país. Tudo por conta da exportação de minérios. Situação que não se reflete na melhoria de indicadores socioeconômicos da região e do estado.

O economista e professor da UFPA, Gilberto Marques, alerta que a se considerar os indicadores do último censo do IBGE de 2010, o Pará ocupa a antepenúltima colocação em Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), apesar de toda contribuição do PIB nacional, e do fato de ter superado o estado de Minas Gerais na exportação mineral. 

Um quadro que alerta sobre o cenário marcado pela pilhagem, saque e violências, estas traduzidas com assassinatos e chacinas de camponeses, ambientalistas, defensores dos direitos humanos, trabalho escravo, desmatamento e grilagens de terras.

Sobre grilagens de terra em Carajás, vale a pena a leitura da tese em Geografia apresentada na USP do professor Marcelo Terence, do IFSP. Baixe AQUI

Espionagem de movimentos sociais – o mesmo site do jornalismo independente alertava em 2013 para o serviço de espionagem que a Vale mantinha contra movimentos sociais, educadores, ativistas, religiosos, e mesmo jornalistas.

Segundo a reportagem, constavam na lista de espionados o educador Raimundo Gomes, radicado em Marabá/PA, o militante do Movimento pela Soberania na Mineração (MAM), Charles Trocate, residente em Parauapebas/PA, padre Dário, missionário Camboniano, na época morador da cidade de Açailândia/MA e um dos animadores da rede Justiça nos Trilhos, além do reconhecido jornalista especialista em Amazônia Lúcio Flávio Pinto.  Leia AQUI

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