Os anos de 1980 são considerados os mais letais na luta pela terra no Pará. Sequestro, tortura, assassinados e chacinas faziam parte da Doutrina de Segurança Nacional do Estado, onde a coerção pública e privada imperavam contra os posseiros e seus aliados.
Raimundo Ferreira Lima, mais
conhecido como “Gringo” foi executado por pistoleiros no dia 29 de maio de
1980, quando somava apenas 43 anos, em São Geraldo do Araguaia, sudeste
paraense. Além de sindicalista em Conceição do Araguaia, Lima era agente da
Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Junto a outros companheiros, Gringo empenhava esforços em tomar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais das mãos dos pelegos. Tomar os sindicatos era uma das pautas da época do movimento camponês, o que ficou conhecido como Oposição Sindical. Neste período o major do Exército, Sebastião de Moura, Cuiró, pregava o terror contra camponeses e seus apoiadores, em particular contra religiosos.
Gringo foi o primeiro dirigente sindical assassinado na região marcada pela aguda disputa pela terra no sudeste e sul do estado do Pará. Trata-se da região mais violenta do país no que tange à luta pela terra. Após Gringo foram executados membros da família Canuto, a exemplo de João, e em seguida o também dirigente sindical e poeta Expedito Ribeiro na cidade de Rio Maria.
Mais de 40 anos após a execução de Gringo as matanças de dirigentes sindicais, ambientalistas, defensores de direitos humanos e camponeses permanece como marca indelével do avanço do grande capital sobre a fronteira amazônica.
O caso mais recente recai sobre a chacina da família José Gomes, conhecido como “Zé do Lago” (61), a esposa Márcia Nunes Lisboa, (39) e a filha de 17 anos, Joane Nunes Lisboa, ocorrida em São Félix do Xingu em janeiro deste ano. Em 2017 as policiais civil e militar assassinaram na cidade de Pau D´arco 10 camponeses da Liga dos Camponeses Pobres (LCP). E, em seguida, mataram a principal testemunha do caso, o igualmente camponês Fernando Araújo dos Santos em janeiro de 2021.
Os anos da década de 1980 são
considerados os mais violentos nas margens dos rios Araguaia-Tocantins. Anos da
criação da União Democrática Ruralista (UDR), braço armado dos ruralistas.
A organização foi articulada pelo
médico e ruralista Ronaldo Caiado. Hoje, novamente, governador do estado do
Goiás. A UDR assina inúmeras ações de violência que ceifaram a vida de
posseiros, sindicalistas, agentes pastorais, advogados e dirigentes sindicais.
Neste processo de coerção em oposição
à luta pela terra amontoam-se militares de todas as estirpes e
patentes, das forças armadas, relevo ao Exército, e as policias civil e
militar.
Naqueles tempos o ambiente era tomado
pela doutrina da segurança nacional. Tensão agudizada por conta do episódio da
Guerrilha do Araguaia. A militarização imperava, em particular com a presença
do Exército.
O principal suspeito pelo sequestro e
execução do sindicalista Gringo, ocorrido em São Geraldo do Araguaia, quando o
mesmo retornava de evento em São Paulo, recai sobre o fazendeiro Neif Murad,
relata uma das edições do boletim Grito da PA 150. Jornal animados por leigos,
religiosos e camponeses da região.
A formação de consórcio por parte dos
ruralistas para eliminar os seus adversários, assim como hoje, era recorrente.
E, ainda as listas de pessoas ameaçadas pelos fazendeiros e políticos da
região. No caso de Gringo, suspeitas recaiam também sobre o então deputado
estadual, o médico e pecuarista Giovanni Corrêa Queiroz, natural de Minas
Gerais. O mineiro, desde sempre, integrou a “bancada do boi”.
Mais tarde a viúva, Maria Oneide
Costa Lima, e outros agentes pastorais, após o assassinato do sindicalista,
passaram a receber ameaças, e cartas anônimas colocadas sob a porta da casa
pastoral, e ameaças de servidores do Grupo Executivo das Terra do Araguaia
Tocantins (Getat) – instituição sob a tutela do Exército - como alerta a edição
de nº 27 do Grito da PA-150. O nome de Gringo hoje nomeia uma escola pública em
São Geraldo do Araguaia e o caso sobre a sua execução nunca foi a julgamento.
Violências - O boletim Grito da PA
150 ressalta ainda um episódio considerado um dos mais violentos contra os
religiosos engajados na luta junto aos posseiros. No dia 31 do mês de agosto a
Polícia Federal prendeu 13 posseiros do município de São Geraldo do Araguaia e
os padres franceses Aristides Camilo e Francisco Goriou sob a acusação de
incitação à desobediência civil. “Tudo indica que o ministro da Justiça Ibrahim
Abi-Ackel, com base no inquérito realizado pela Polícia Federal e instruído
pelo Departamento Federal de Justiça, avaliou que a presença dos religiosos é
“nociva” aos interesses e segurança nacionais, e sugeriu a expulsão de
ambos”.
Ativistas da época contam que a
prisão dos religiosos provocou uma grande mobilização. Consta no rol de atos
realizados pela soltura deles ocupar a procissão do Círio de Nazaré com faixas
e cartazes pedindo a soltura dos missionários. Prender e torturar fazia parte
do modus operandi dos agentes do regime. Na década de 1970,
quando a agenda residia em sufocar a Guerrilha do Araguaia, o padre Roberto de
Valicourt passou por experiência semelhante.
Tem-se neste contexto o papel
autoritário do Estado, e associação do mesmo com frações de classe do país e o
grande capital nacional e internacional na apropriação de vastas extensões de
terra na Amazônia. Bancos Econômico, Bradesco, Bamerindus e a empresa
Volkswagen figuram como alguns beneficiários. Além de várias famílias das elites
do Centro Sul do país. Muitas presentes na região, ainda hoje. A animar novos
conflitos, execuções e chacinas.
A saga de Gringo, João Canuto, Expedito Ribeiros, Irmã Dorothy, Padre Josimo Tavares, Paulo Fonteles, João Batista, Gabriel Pimenta, dentre outros, integra projeto de extensão da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) sobre a luta pela terra na Amazônia. O livro deve ser lançado ainda em julho deste ano.
Dia 29/05 fazem 42 anos que tiram a vida de Raimundo Ferreira Lima, conhecido como Gringo, de lá até hoje as mortes continuam,os atores são os mesmos de um lado grandes fazendeiros, empresários e pistoleiros, do outro ativistas,lavradores, padres e muitos engajados na luta pelos direitos humanos e pela dignidades dos povos,mas até agora alguns foram julgados e a maioria estão continuando com as mesmas ações. Até quando vamos permitir que isso aconteça!?Gringo presente!Irmãos Canuto Presente! Paulo Fontelle presente!!!
ResponderExcluirEsse foi um homem muito querreiro.forte e objetivos..n luta..
ResponderExcluirLamentável parte da nossa história, e ainda têm pessoas que querem de volta o regime ditatorial daquela época. Deus nos livre!🙌
ResponderExcluirA luta continua Raimundo e todas(os) assassinados(as) por defender a justiça social, economia e politica, assim como igualdade de oportunidades e a democracia com o povo! Suas vidas e lutas me gerou a chama reacendeu!
ResponderExcluirEsse é o meu bisavô. Eu estava a procurar sobre a história de minha família, e encontrei isso.
ResponderExcluirEsse é um homem de respeito e garra! Estarás na história meu bisavô Gringo!
Sua luta ainda não morreu!
Ela está eterna!
Avante!
Esse é o meu bisavô. Eu estava a procurar sobre a história de minha família, e encontrei isso.
ResponderExcluirEsse é um homem de respeito e garra! Estarás na história meu bisavô Gringo!
Sua luta ainda não morreu!
Ela está eterna!
Avante!