A revisão do Plano Direitor representou o azeitamento para a territorialização do capital no município.
Maio. Mês de Maria. Quadra das noivas. Chove diariamente. O rio alcançou o
asfalto. As águas do Tapajós encontraram o esgoto na avenida homônima. Tudo
agora é pura merda no cartão postal da Pérola do Tapajós. Um mundo de buracos por todas as latitudes. Queijo suíço dos trópicos. A realidade das ruas contraria os reclames da prefeitura. Poças d´água dominam
a cidadela de um hotel e restaurante, que possui no nome um apelo de brasilidade:
Mistura Brasileira. Marombas acodem o transeunte. Todavia, o fedor impregna
tudo ao redor. Bombas insistem em um trabalho de Sísifo na retirada das águas do rio sobre o asfalto.
A céu aberto o esgoto faz festa mesmo nos beirais do hospital
municipal, em sua parte que dá para a Av. Pres. Vargas. Mato, parte do muro caído,
pintura em frangalhos. Quadro de abandono.
O atendimento é terceirizado. Trabalho precário. Precarizado, espelha a gestão do alcaide.
Mancomunação capital. A revisão do Plano Diretor que o diga. A tudo explicita.
É médico o prefeito da urbe, que vez em quando, com a sua trupe, se
refastela em butecos. Com a desenvoltura de craque de futebol, impõe a agenda
musical. Duvidoso gosto. Costura tramas com edis. Vis. Face a face. Baronato de
bufões a celebrar a estupidez. Com a mesma desenvoltura beija pés de adversários
políticos em ritos religiosos. Cerra fileiras no Círio, congregações
fundamentalistas e Çairé. Como diria Tim Maia: vale tudo!
Um dos escudeiros conclama a presença do chefe do Executivo da
cidade à mesa. Desprovido de qualquer constrangimento, um assessor em alto tom,
assim o convoca: “oh prefeito, libera logo a verba para está criatura”. Até o surdo escutou.
Alta, esguia e clara, uma secretária é alvo de assédio dos homens. Era um tal de passa mão aqui, passa mão ali e
acolá, aperta, apalpa e chafurda. Vexame nenhum. O que ocorrerá no privado?
Cedo do dia, a rádio executa o Guarany de Carlos Gomes. Apesar de todo
o descaso com a cidade, a horda de comunicadores baba a bajular o médico que “comanda”
pela segunda legislatura a cidade polo do Baixo Amazonas.
Boca de rio. Boca de forno. Calada da noite. Chuva na taba. Águas sem
fim. Jacaré Açú a caçar turistas em Alter. Ah, minha Nossa Senhora de Nazaré, ah meus tambores do candomblé. . Várzea encharcada por abismos de abandonos. O rio que mata a
fome, morre envenenado: grilo, cimento e mercúrio.
Quem nos ajudará a não ser a própria gente? Chove na taba. Calada
da noite. Boca de rio. Bajara ao riomar....esgoto por todos os cantos..cuieiras ...terras
caídas...vidas sem abrigo..veias abertas...
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