O rio Tapajós toma a rua - Santarém/PA. Foto |Thulla Esteves
As
águas do Tapajós tomaram o asfalto. Havia tempo não subiam tanto. Desde
2009. Tudo anda muito estranho no
planeta. Sempre que as águas sobem neste patamar implica em aperreio para
comerciantes que operam na orla na cidade.
Sempre
que as águas sobem é aperreio para os menos abastados. Onde é possível, marombas
(pontes improvisadas) socorrem em alguns trechos. Fato que não ocorre nas
quebradas, a exemplo de logradouros como Juá e o Salvação (Minha Casa, Minha
Vida), entre outros. No Salvação o socorro é a oração. Na quebrada, desprovida de asfalto e do serviço do
saneamento, tudo vira um rio de lama. Um rio de merda.
Águas
altas. As embarcações de madeira ficam rente ao asfalto. São elas que carregam o povo de várias
comunidades da cidade, a exemplo de Arapiuns, Boim, Lago Grande; e de outros municípios,
como Juruti, Monte Alegre, Manaus, Macapá, Oriximiná, Óbidos...o povo viaja em
rede. Longas horas.
As
embarcações de madeira é que socorrem as comunidades locais. Num fluxo trazem
as pessoas e as suas produções; noutro, levam gêneros necessários ao cotidiano
dos moradores ribeirinhos. Não raro, apesar do risco, carregam botijões de gás.
Apesar do elevado preço. Carregam ainda produtos que alimentam os comércios das
localidades ribeirinhas. E, ainda eletrônicos, cachaça, cervejas e
refrigerantes.
Na
intenção em minimizar a tensão das águas sobre o asfalto e o comércio, as
autoridades implantam bombas para devolver as águas ao rio. Uma estranha engenharia. Inúmeras bombas passam
a integrar o desenho na orla da cidade.
Nesta época do ano, comentam os antigos, o normal seria ás aguas já terem recuado. O normal seria não ocorrer tanta chuva. Todavia, como tem chovido esses dias. Nas águas altas os antigos recomendam passeio na Floresta Encantada, bandas de Alter. Réu confesso, anuncio, ainda não o fiz.
As
aguas altas fazem as letras que nomeiam as embarcações flutuarem. Como se um
balé fosse. Alaranjado horizonte, rosa, multicor de fim de tarde remete a uma
explosão de luz. A fumaça dos churrasquinhos inebria os locais de embarque.
Tudo
anda muito estranho ultimamente. Estruturas de metal afrontam o rio. O afã da
administração pública reside em organizar o espaço da orla a partir do tamanho
das embarcações, onde conforme o tamanho de cada uma, é estipulado um
local. O que não existia antes.
Sejam
as águas baixas ou altas, sempre que ocorre a lua cheia, o rio fica uma beleza.
E, sempre que a lua alumeia o rio, é o melhor momento para pescar, o cultivar a
terra, o universo de encantados a zelar tudo ao redor. É sabença.
As águas altas do rio enchem o meu peito de melancolia. Lavam, levam o teu retrato. Enquanto o punhal da luz do sol vaza oszoio.
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