6h da manhã. Tudo escuro
ao redor. Mangas no chão do caminho até a padaria. Pão doce para Docinho. Na copa
das mangueiras garças aninhadas. Lembra véu de noiva. Sobre o asfalto o branco
de fezes das aves impera. No meio fio o esgoto corre para o rio. Cachorros latem
ao longe. Mio de gatos em cio. Telhados. Nada de eira, nem beira. Matos em
telhas.
A cidade acaba de sair da
bandeira preta da pandemia. Soma perto de 600 mortos. Famílias em luto. Governo
de antas. Uns bostas. Incertezas. Avizinha-se de Manaus a cidade
Orvalho nos meus olhos. Na
parte superior de prédio ecoa um som alto dos tempos da discoteca. Ruas vazias.
Um segurança atravessa a larga avenida sem pressa. Segue de bicicleta rumo ao
trabalho.
Feira da Candilha. Tudo quieto.
Silêncio quebrado pelas sirenes de ambulâncias e das viaturas de polícia. O som
potente de um carro explode como se bomba fosse. Sertanejo. Uma praga daninha. Danosa.
Ao redor, hospitais, laboratórios e delegacia de polícia. Vargas com Silvino
Pinto. Encruza. Ah, tem o comércio do senhor Alves e pés de cabaça. Alves vende
de tudo, de pão a parafuso.
Espio os postes. Monte de
fios em nós. Estranha rede. O advento da fibra ótica transformou as estruturas.
Soa como uma intervenção artística. Aquelas que a gente não entende nada. O sentido
da coisa. Tudo entrelaçado. Lembra o cu
do diabo ou da gia, diria Mainha.
Frestas de luz no céu da
cidade. Passa um pouco das 6h. Caminho sem pressa. O asfalto além de mangas
caídas e fezes de garça, guarda os sinais da chuva da madrugada. Uma serenata.
Bom para dormir. A chuva da madrugada abole o uso do ventilador. A chuva da
madrugada acalenta a alma.
Domingo. A chuva agiganta a preguiça. Espio Ouricuri, documentário sobre João Vale. Comovido.
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