53 artigos do educador Rogerio Almeida, distribuídos por cinco seções dão alma e tutano ao livro gestado e produzido fora do eixo
Bispo do Rosário – Educador
Um conjunto pulsante de relatos colhidos
direto do front, o livro Amazônia (s): pequenas inflexões sobre
grandes abacaxis reúne 53 artigos agrupados em cinco seções i) Amazônia, ii) Nas terras dos Carajás, iii)
Caso Dorothy, iv) Comunicação em
pauta e v) Licenças nem tão poéticas.
A obra é uma produção da Editora Iguana,
originada no sudeste do Pará. Obra e editora são iniciativas fora do eixo. Um
intento alinhado à vida dos segmentos historicamente marginalizados. Um sopro
de denuncia, urgência, ternura e poesia conferem ao livro certa unidade.
Assinada pelo educador Rogerio Almeida
[Universidade Federal do Oeste do Pará], boa parte do conteúdo tem como origem
uma coluna no site do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
(IBASE), ONG com sede no Rio de Janeiro, fundada pelo sociólogo Betinho
[Herbert de Souza].
Em textos curtos, carregados em dados,
algumas inflexões acadêmicas untadas por doses de ironia, o autor narra as disputas
pela terra no Bico do Papagaio (sul do Pará, norte do Tocantins e oeste do
Maranhão), e outros fronts. Os
alinhavos contemplam a saga de camponeses em defesa de seus territórios, bem
com as pelejas da categoria com a mineradora Vale, e questionamentos sobre a
parcialidade e as limitações da mídia ao tratar temas complexos na Amazônia.
Os escrevinhamentos ligeiros de Almeida
contextualizam as violências protagonizadas por fazendeiros, madeireiros,
jagunços, pistoleiros e órgãos de segurança e a parcialidade do judiciário
nestas tramas. Este, - via de regra - célere em expedir medidas de reintegração
de posse, e, moroso em apurar chacinas e execuções de camponeses e seus
apoiadores.
Apesar da região do Bico do Papagaio
configurar o principal ambiente do conjunto de textos, constam inquietações
sobre o Baixo Tocantins, Baixo Amazonas, Belém e São Luís, e algumas licenças
poéticas [pura pretensão] fora do esquadro das disputas territoriais e
simbólicas que cercam a região.
Algumas narrativas alumiam intervenções das
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e Comissão Pastoral da Terra (CPT), e sobre
o caso do assassinato da missionária Dorothy Stang. Ao lado do Movimento de Educação de Base
(MEB), as CEBs e a CPT encarnaram a santa trindade da fração da Igreja Católica
aliada à luta camponesa. Prática que iniciativas como a encíclica Laudato
si e o Sínodo Pan amazônico buscam recuperar.
Os dias manifestam-se tensos na
fronteira amazônica. De novo, no front,
tem-se o aprofundamento da hegemonia dos setores mais retrógrados da sociedade
nos mais variados campos. Em ações marcadas pelo obscurantismo, a aversão à
educação, à cultura e à arte, onde frações de classe ameaçam as parcas
conquistas consagradas na Constituição de 1988, em franco discurso de ódio a
indígenas, quilombolas e campesinos, entre outros.
É tempo de resistir, como realça o
artigo que trata do Boletim Resistência, periódico editado pela Sociedade
Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SPDDH), em tempos sombrios, na capital
do Pará.
Sobre o autor
Rogerio
Almeida é maranhense de São Luís/MA. É devoto do samba,
maracatu, jongo, ciranda, tambor de crioula e outras manifestações de matriz
africana. Possui graduação em Comunicação Social pela UFMA. Cursou
especialização e mestrado em Planejamento do Desenvolvimento pelo NAEA/UFPA.
Atualmente cursa doutorado em Geografia Humana, DINTER USP/UNIFESSPA/UFOPA e
IFPA. É professor do Curso de Gestão Pública e Desenvolvimento Regional da
Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).
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