Aldo Santos, quilombola do território Saracura, em Santarém/PA foi homenageado
Aldo Santos [sentado], quilombola do território Saracura, o homenageado, e Dileudoo Guimarães [em pé], presidente da FOQS
“Não
tenho nada para dizer para vocês. Tenho para dizer ao INCRA e para este governo:
nos respeitem!” vaticinou o senhor Aldo dos Santos, remanescente quilombola da
comunidade de Saracura, do município de Santarém, no oeste paraense, em evento
de celebração pela passagem Consciência
Negra, ocorrida no território de Bom Jardim, distante cerca de 40 quilômetros
da sede do município.
Santos
foi o ativista homenageado pela sua dedicação à sua luta em defesa do povo
negro no município. No decorrer do discurso,
visivelmente emocionado, ele rememorou ameaças de morte e enfrentamentos com
fazendeiros. “Hoje todo mundo tem a sua casinha em nossa terra, conseguimos isso
graças à nossa luta” realçou Santos.
Assim
como Santos, outros e outras dirigentes passaram pela experiência de ameaça de
morte, entre eles o senhor Pinto e Dileudo Guimarães. O senhor Guimarães é o anfitrião da
celebração. O ativista preside a Federação das Organizações Quilombolas de
Santarém/PA, (FOQS).
Espaço de celebração do dia da Consciência Negra - Quilombo Bom Jardim, Santarém/PA
A
representação aglutina as 12 associações dos territórios quilombolas da cidade.
Ela resulta de um processo de luta iniciado no fim dos anos 1990. O reconhecimento
territorial é a principal bandeira de luta da FOQS. Para além da bandeira da terra, constam
pautas da educação, saúde, moradia, direito, gênero e juventude.
Em
número de 60, é a estima dos territórios quilombolas no Baixo Amazonas, estes
espraiados nos municípios de Oriximiná, Óbidos, Alenquer, Monte Alegre e
Santarém.
O
jovem de prenome Henrique, estudante universitário, realçou a necessidade de
maior engajamento da juventude, e da necessidade em alinhamento de ações que
ocupem as escolas para que os mais jovens conheçam a luta quilombola.
Ao
redor do galpão que abrigou a celebração, professores das escolas em
territórios expunham banners relacionados ao tema. Estudantes quilombolas da
Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) apresentaram resultados parciais
de pesquisas relacionados com a memória de seus territórios.
Além de estudantes e professores da UFOPA , assessores da ONG de Terra de Direitos prestigiaram o ato, que durou todo o dia. A ONG mantém uma parceria que ultrapassa uma década com a FOQS.
Crianças no quilombo Bom Jardim e crianças da Praça da Liberdade, Santarém/PA
As
representações de coletivos de mulheres advertiram sobre a urgência em reorganizar
os grupos de mulheres em cada território, bem como delas ocuparem cargos na
direção das associações.
Canções
de exaltação da raça negra entremearam as falas dos dirigentes. Canções com
Canto das Três raças, e musicas autorais dos próprios moradores dos territórios
quilombolas.
Adversidades
– no decorrer das variadas falas o adverso contexto político do país foi
ressaltado, como o corte dos recursos das instituições como o Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Cabe ao instituto a elaboração dos
laudos antropológicos nos territórios quilombolas.
O
avanço da cadeia da soja a partir da pressão provocada pelo projeto de obras de
infraestrutura, a exemplo de complexo
portuário do Lago Maicá, projetos hidroelétricos, hidrovias, estações de
transbordo de cargas. O pacote visa consolidar o Baixo Amazonas como um grande
corredor de circulação de commodities.
O
conjunto de obras tende a pressionar territórios já consolidados, a exemplo de
quilombos, reservas extrativistas, projetos de assentamentos e um pujante
mosaico de unidades de conservação.
Na
sede da cidade, o coletivo quilombola protagonizou uma agitada agenda da VIII
Semana da Consciência Negra, com o tema: “Negros, o Estado é racista! Ou
reagimos ou morreremos!” que passou por debates na UFOPA, ocupação da Praça
Liberdade, em bairro homônimo com apresentação artística e apresentação de
pesquisas da universidade.
A
professora da Universidade Federal do Pará, Zélia Amador, proferiu a
conferencia de abertura da semana da consciência que se encerra na próxima
sexta feira, com o lançamento do livro Uns contos iguais a muitos, resultado de
pesquisa do professor da UFOPA, Luiz
Fernando de França.
Entre os organizadores constam
o Coletivo de Estudantes Quilombolas da
UFOPA, Grupo de Pesquisa em Literatura, História e Cultura Africana, Kitanda
Preta e o Ministério Público do Estado.
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