É
possível ouvir o apito do trem da Vale na Folha 20. No núcleo urbano da Nova
Marabá as ruas não são nomeadas. Eleger folha e quadra foi o método adotado. A
ideia do desenho do núcleo se assemelha a uma castanheira. Daí opção
por folhas. A medida tem inspiração em Brasília.
Em
tempos idos o extrativismo da Castanha do Pará fez a fortuna de algumas
famílias. Conforme reflexões da professora Marília Emmi, oligarquias que
passaram a controlar vastas extensões de terras, maioria grilada.
O mogno
também abundou na floresta do Tocantins-Araguaia. A mata que um dia foi
frondosa cedeu lugar ao boi. A pecuária extensiva é a uma das bases da economia
local.
Em
alguns quintais é a cerca de madeira que separa o público do privado. As ruas
são barrentas. Neste período viram um lamaçal. A arquitetura de madeira povoa a
periferia de Marabá, encharcada de migrantes, maranhenses em sua maioria. Alvo constante
de piadas pejorativas.
A
Feira da 28 é a principal da nucleação. Em tempo de chuva acessar o local sem
meter o pé na lama é uma missão quase impossível de quem mora em algumas transversais da proximidade.
Conheci
duas versões sobre o surgimento do espaço da Nova Marabá. A primeira narra que
o espaço foi pensado para receber pessoas que vieram engrossar o quadro da
sociodiversidade das terras dos Carajás em grandes projetos. Em particular no extrativismo
do minério de ferro e nas obras de infraestrutura que os mesmos exigiram:
Ferrovia de Carajás e a Hidrelétrica de Tucuruí, no estado do Pará, e Porto do
Itaqui em São Luís, capital do Maranhão, por exemplo.
A
segunda que o setor foi criado por conta da cheia dos rios Tocantins e Itacaiúnas.
É tempo de chuva em Carajás. As águas estão altas.
A
Transamazônica atravessa o Núcleo. Aparta a Feira da 28 do Campus da
Universidade Federal. A decisão por rodovias para a integração subordinada da
economia local foi a medida tomada pela ditadura civil militar. Ela acelerou o processo
de migração. Redefiniu espaços. Concentrou vastas extensões de terras nas mãos da União.
Intelectuais como a geógrafa Bertha Becker e o sociólogo José de Souza Martins notam que a Amazônia foi a derradeira fronteira de expansão do capitalismo. Expansão que combina a sua reprodução ampliada com o modo de acumulação primitiva como processo que fomenta a expropriação dos meios de sobrevivência das populações locais e a super exploração da força de trabalho, além da escravidão por dívida. Difícil e polêmica equação.
Não
há grandes distensões sobre o desenho de exploração dos recursos naturais
conferido à Amazônia. O desenvolvimento econômico imposto a tem consagrado como
uma colônia exportadora de commodities. E
o trem da Vale, o maior do mundo, segue a rasgar o sertão. Faça chuva. Faço sol. A cada dia mais apressado. Carregado de riquezas, vidas e mortes.
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