quinta-feira, 11 de julho de 2013

Marabá – relatos de pessoas nem tão invisíveis assim


Ribamar da Conceição tem 58 anos. É pai de sete filhos fruto de relacionamentos com seis mulheres diferentes. Diz ter 13 netos. Conceição é natural da cidade de Carolina, sul do Maranhão, região do cerrado. Um conjunto de cachoeiras é o principal atrativo da cidade, sendo Pedra Caída a mais festejada.

Aos 13 anos Ribamar já era órfão de pai e mãe. Junto com ele quatro irmãos. Todos estão dispersos pelo mundo.  Desde então não tem notícias deles. Sabe que uma irmã mora em Xambioá, no estado do Tocantins. O rio Araguaia separa Xambioá do município de São Geraldo do Araguaia, no Pará. Conceição ambiciona rever a irmã. Um recado num programa de rádio é a opção adotada.   

Ele conta que assim que a orfandade aportou um senhor o levou para Belém.  Não se adaptou e desceu para Marabá, local conhecido pela migração de maranhenses.

Na década de 1970 labutou de tudo. O ciclo da castanha e o movimento da Guerrilha do Araguaia pulsavam. Os rios eram as principais vias de comercio e comunicação entre a região,  a capital e o exterior. Tempo de batelão. Foi catador de ouriço da castanha. Um símbolo de riqueza da época escoado pelo caudaloso rio Tocantins.

Conceição tem os dentes em desalinho e o traje roto. Não refuga um trago de pinga. Ri fácil. Já foi juquireiro. Uma espécie de mato comum em pastos de fazendas locais. Hoje ele trabalha como cuidador de sítio. É caseiro. E sempre que pode faz roça nas vazantes do rio, onde planta de um tudo: milho, melancia e maxixe em particular. Nestes dias de sol deixou o local para receber o troco e tomar umas em Marabá.

Pezão Por um instante Pezão, como é conhecido o negro João Batista não nasceu no dia de São João. Veio ao mundo uma hora depois. Na madruga do dia 25 de junho. Ele tem 66 anos. Como Conceição trabalhou em castanhais da região.

A frondosa castanheira e o mogno abundaram no sul e sudeste do estado, até o fim da década de 1970, antes dos incentivos econômicos e fiscais promoverem a pecuária extensiva.   No auge do ciclo da castanha a safra boa alcançava até 50 mil hectolitros, conta Batista.

Pezão parece bem articulado. Relembra histórias de pessoas afortunadas e de outras nem tanto assim. O negro conta que um senhor de sobrenome Almeida era mais rico que os Mutran nos tempos dos castanhais.  

Ele lembra que Almeida morrendo de amores por uma senhora casada solicitou a Pezão que o ajudasse no processo de galanteio. O afortunado Almeida prometia tudo. Um belo dia o marido da senhora viajou e a empreita foi realizada. O destino foi uma fazenda. Final de semana em festa.

Na volta não contavam que o marido chegasse tão cedo. A moça foi expulsa de casa e acolhida pelo rico Almeida. Deu casa e dinheiro. A maranhense de cor branca hoje é dona de hotel em beira de praia em São Luís, conta Batista.  

Pezão foi jurado de morte pelo corneado, promessa que não se realizou. O nosso interlocutor é um fumante contumaz.  O papo rola em momentos diferentes. Um no bar da Ana.

O bar fica na beira do rio, no bairro do Cabelo Seco. Ana é uma negra encorpada, irmã de Batista. O outro dedo de prosa ocorre no dia seguinte num boteco que abriga os “pés inchados” da comunidade.

A história do bairro Cabelo Seco se confunde com a fundação da cidade de Marabá, forjada a partir da dinâmica de trocas comerciais ocorridas no rio Tocantins. O bairro fica na parte antiga da cidade, conhecida como Cidade Velha, que concentra o comércio, bancos e o estádio de futebol da cidade.

A sociodiversidade do bairro reflete o processo de migração da região, marcada pela presença de nordestinos com ênfase no estado do Maranhão, em particular população negra.  

Os varais de roupa nas ruas é uma marca do logradouro. Apesar de algumas vias serem barrentas e não indicadas para abrigar varais.  

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