Sol quente. Perto de
40º na Praça da República. Cerveja no Bar do Parque é o socorro. Apesar das
férias o local tá cheio. Uma turma do Projeto Rondon circula na área. Ceará, um
senhor encorpado, entre um gole de água e gracejos ironizando o Paysandu, comercializa
triturador de verduras. Ao fim do expediente ele joga fora a tritura de dia
inteiro: repolhos, cenouras, couves e beterrabas. Penso que poderia ter um
destino mais nobre.
Taxistas, profissionais
do sexo flutuam ali. O espaço na década de 1980 foi local de agrupamento de
ativistas políticos e artistas. Duas vezes por mês, desde o ano passado, um
coletivo intitulado Canalha ocupa a praça ao fim da tarde. Faz rodas de
samba, choro e afoxé. Manifestos disso e daquilo e coisa e tal.
Não há energia
elétrica. Gelo socorre o freezer. Um senhor de estatura modesta, cabeça branca
disputa espaço no pequeno balcão. Ceará brinca com ele. Diz que uma senhora com
quem ele fez sexo na semana passada foi a óbito, e que a causa mortis foi a língua. A língua do Orlando parece ser célebre
entre os habitues do bar. Todos
brincam.
Segunda cerveja. A
prosa desfila. Iolanda, negra de uns 40 anos, corpo esguio engrossa o coro.
Vestido negro com flores em cinza não oculta o sutiã e toscas tatuagens. A
migrante de São Luís defende-se como profissional do sexo. Ela morou no bairro
chamado Anjo da Guarda, próximo ao porto do Itaqui, que escoa o minério
saqueado na Serra de Carajás, a sudeste do Pará.
Iolanda pede cerveja
para Orlando. Causos pipocam no intervalo de goles de cerveja. Ela alisa o pau
do Orlando. Amassa. Ele ri. Fica vermelho. Não é de vergonha. Ela explica que é
do trecho. Já andou meio mundo entre o Maranhão e o Pará.
Conta que um francês de
70 anos banca o apartamento dela. Orlando é aposentado e conhecedor de todos os
puteiros do circuito da Cidade Velha. É uma pessoa habilitada para consultor no
assunto, e a produção de guia de puteiros na Cidade Velha de Belém.
E tome amasso de Iolanda
no pau de Orlando. Até o papo ser interrompido por um anão embriagado. O
pequeno cidadão traja somente um short verde. Ele reclama por uma dose de
cachaça. No Bar do Parque não vende pinga. Somente ovos coloridos, café,
conhaque e coisa e tal. Conhaque para o anão.
Toma a metade do copo de única vez.
O nanico que diz já ter
sido atleta do time de futebol Gigantes do Norte, um escrete de anões
organizado pela Tuna Lusa faz graças para Iolanda. Elogia. Diz que ela é gostosa
e coisa tal. Fica inconveniente, faz flexões com uma das mãos nas costas.
Após quase meter a
cabeça contra a parede no Bar do Parque resolve ir embora. A energia volta. O problema
ocorreu na Av. José Malcher. Uns três caminhões operavam para equacionar o
sinistro.
Terceira cerveja. Orlando
aconselha que o melhor dia para visitar a Praia do Outeiro é segunda feira. Ele
explica com entusiasmo o modus operandi. "A
gente chega na barraca, pede uma cerva, algo para comer. Não tarda as meninas
encostam e pedem algo. Meu chefe, a trepada morre por no máximo vinte contos. E
todos ficam felizes”, arremata Orlando.
Pago a cerveja e sigo
para contemplar a baía do Guajará no Ver o Peso. Mais cerva na barraca do
finado PC. O carimbozeiro Curuperé e trupe encostam e puxam o som. Tento ajudar
na percussão. Curiosos espiam. Vez em quando o chapéu circula. É mais de treze
horas. A Preta chega. Pago a conta e vou embora para uns dedos de prosa. e coisa...e coisa...
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