sábado, 21 de abril de 2012

Tem Choro na Batista Campos amanhã - uma orquestra inteira

A Orquestra do Choro faz ensaio aberto amanhã na Praça Batista Campos, a partir das 10h. O projeto que nasceu ligado ao Instituto de Artes do Pará (IAP) em 2006, atualmente é vinculado ao Curro Velho. Ele nasceu com  o nome oficial de Choro do Pará. Pelo menos dois meses antecedem o ensaio aberto. 
Perto de 50 pessoas integram o grupo, que ganha corpo com jovens e músicos experimentados. Adamor do Bandolim e Zé Branco estão entre os mais calejados.  
Uma apresentação com pompa e circunstância ocorre no dia 28 no Teatro Maria Silva Nunes.  O ensaio de amanhã é uma homenagem ao gênero, que tem data oficial de celebração agendada no dia 23, segunda, dia de São Jorge.

Casa do Gilson- uma noite de choro


Jacó do Bandolim, Pixinguinha, Ernesto Nazaré desfilam na Casa do Gilson, um reduto do choro, que vez em quando concede uma canja ao samba de raiz. O espaço soma 24 anos de vida na cidade de Belém. Fica num bairro popular chamado Condor. Como outros bairros da capital do Pará, padece com as chuvas intensas.
Noite de sexta. O músico Yuri Guedelha articulou uns pares para celebrar, antecipadamente, o dia nacional dedicado ao gênero. Jovens mais experientes é a maioria do público. Ao contrário do sábado, onde as tardes são dedicadas ao samba de raiz, há espaço até para riscar um salão cimentado.
Não há conforto. Ventiladores tentam amenizar o calor. A música de primeira é o cartão postal do logradouro. Ali músicos e simpatizantes comungam na sexta ou aos domingos o instrumental do Gilson. No escrete três violões sete cordas, um bandolim, cavaquinho, pandeiro e surdo se espremem num palco modesto.
Além de músico, Gilson é artista plástico. Na entrada do espaço quadros do dono da casa ficam expostos e podem ser adquiridos. O ambiente é familiar. Quase nunca ocorre confusão. É comum a visita de políticos do campo democrático. Em particular em ano de eleição.
Tem gente que é habitué do lugar desde a fundação, quando tudo ainda era cercado de madeira. Os antigos frequentadores e músicos que já executaram a passagem estão celebrados em bonecos de papel, numa galeria póstuma suspensa.  Não raro músicos de outras latitudes quando baixam em Belém visitam a casa.

Tudo parece antigo. Até o garçom João. Um senhor baixinho de óculos. Um jeitão bem folgado. Faz graça com os frequentadores mais antigos. Tira as damas para dançar. Toma cerveja. E coisa e tal. A música segue entrecortada por causos e poemas. Um sarau. Guedelha anuncia as canções, os convidados e homenageados.
Catiá é um deles. É um senhor ranzinza. É baixinho. Encurvado pelo tempo, mas não usa óculos, assim como Geraldão. Ambos executam com maestria o sete cordas.  Eles são os homenageados. Somadas as idades dos dois, mais de século e meio. Catiá sempre anda de calça e camisa de botão. Geraldão é do tipo desleixado, bermuda e qualquer camisa o acodem.
No palco do Gilson muitas gerações. Tem Marcelo, um jovem magro que manda bem em tudo que tem corda.  Paulo Moura é mais antigo e domina o sete cordas, e tem outros jovens que não memorizei o nome. A flautista do grupo Charme do Choro tem cabelos pintados de vermelho. Outros jovens mais antigos cabelos caiados de branco. A música segue. Como segue a vida, a nau, a dor. A música segue. Por motivo de saúde Tereza não veio.
Um casal ataca na dança. Ele é baixinho e roliço. Parece mais velho que ela. Uma moça renascentista de uns quarenta e poucos. Tem um riso generoso. Mais alta que ele. Lembra uma matriarca italiana. É bem redonda. Uma fofura. Aos moldes da minha simpatia.
Um casal menos antigo invade a arena. Gente de academia. Executa passos milimetricamente ensaiados. Acho sem graça. Mas, todos parecem apreciar o desempenho, quase olímpico. A música segue. A noite se adianta. Eu também. E sigo. Com a pororoca de minhas dores, que não vale um lamento.    

Iara - a menina que adora ler

A mãe tem feição indígena. Garante o sustento numa bodega simples, escondida numa viela próxima a uma BR. Entende-se melhor com os números. Desde os 17 anos de idade trata com o assunto. Pedreiro, aposentados, funcionários públicos e biscateiros frequentam o lugar.  A filha, ao contrário, parece uma jovem saída de romance parnasiano.
Iara, a rainha das águas, tem 16 anos. Nunca fumou. Mas, padece de enfisema e outras chagas da respiração.  É bem clarinha e magra. Cabelos encaracolados. Nos derradeiros dias tem se indisposto com Maquiável, O Príncipe. Até onde a minha ignorância deixa alcançar, - tão robusta - a obra é fundamental para se entender coisas sobre a política.  
Em tempos de hiperconectividade, Iara parece uma menina fora do comum, fora do eixo, fora do esquadro. A mãe da adolescente gasta tempo em visitas a sebos. Explica que o quarto é cheio de livros. Queixa-se dos preços dos livros novos.
A jovem que se declara incondicional admiradora de Clarice Lispector aguarda a digestão de O Príncipe para encarar Utopia de Tomas Morus.  Alan Poe já foi devorado pelo apetite literário da rainha das águas, que aprendeu inglês por conta própria, e exercita a língua estrangeira com os filhos do pastor da igreja que frequenta. Um estadunidense.
A menina que adora ler, quase nunca ver TV, surpreende com a intenção profissional. Ela deseja ser engenheira civil. As primeiras pedras para a construção do alicerce são as melhores, uma leitura bacana, ainda que ela confesse simpatia por Agatha Christie.

Justiça condena pecuaristas que fraudaram a Sudam a devolverem R$ 4,7 milhões

A Justiça Federal condenou a Agropecuária Pinguim S.A, seus acionistas – Rui Denardin, Armindo Dociteu Denardin e Ilvanir Dalazen Denardin – e a contadora Maria Auxiliadora Barra Martins a devolverem aos cofres públicos R$ 4,7 milhões desviados da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia).  Leia mais em MPF

Documetário sobre o Pasquim

Documentário em tom de bate-papo de botequim, realizado em 1999, revela os bastidores do tabloide O Pasquim. São dois volumes: “O Pasquim: A Revolução pelo Cartum” e “Humor com Gosto de Pasquim”. Este primeiro volume, aqui dividido em 4 partes, aborda o nascimento do jornal em Ipanema, os aspectos formais do cartum como foi empregado no jornal e a sua relevância cultural.

Hidrelétricas na Amazônia - pesquisa alerta sobre os impactos cumulativos

Uma das regiões de maior biodiversidade do planeta, a Amazônia está sofrendo grande pressão por conta da construção de hidrelétricas. Estudo [ Proliferation of Hydroelectric Dams in the Andean Amazon and Implications for Andes-Amazon Connectivity ] publicado nesta quarta-feira (18) na revista “PLoS ONE” revela que há projetos para 150 novas barragens nos seis maiores rios que conectam os Andes à Amazônia. Isto representa um aumento de 300% em relação às já existentes em uma área que se espalha por cinco países: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. Leia mais em Ecodebate

Belo Monte - trabalhadores rejeitam proposta e continuam em greve

Pedro Peduzzi
De acordo com o Sintrapav, a greve só será suspensa, caso o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) apresente uma nova proposta, já que a proposta final da CCBM foi rejeitada pelos trabalhadores. Ela previa, entre outras medidas, manter o período de intervalo das baixadas [período em que os trabalhadores podem visitar as famílias] em 180 dias, mas aumentando a duração de nove para 19 dias. Leia matéria da EBC replicada no IHU

Questão indígena - A Ditadura Militar e os Waimiri - atroari

“Os índios waimiri-atroari são desaparecidos políticos, como os demais que desapareceram no rio Araguaia”, defende Egydio Schwade (foto), ex-secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário – Cimi. É a partir desta denúncia que ele reivindica que o massacre contra aproximadamente dois mil índios waimiri-atroari, ocorrido no período da ditadura militar, faça parte da Comissão da Verdade, que tem a finalidade de examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas entre 1964 e 1985. Schwade participou do processo de alfabetização dos waimiri-atroari entre 1985 e 1987 e conta que, a partir de desenhos, os indígenas começaram a contar “as atrocidades que haviam ocorrido no período militar”. E enfatiza: “Eles desapareceram porque resistiram contra os projetos do governo militar. (...) Muitos indígenas foram mortos, uns com napalm, outros eletrocutados, uns com armas de fogo”. Leia mais no IHU

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A insustentabilidade da Vale - conheça o relatório

A Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale lançou no dia 18 de abril o Relatório de Insustentabilidade da Vale 2012. Trata-se de um documento inédito no Brasil, também conhecido como relatório sombra, que se utiliza da mesma estrutura do Relatório de Sustentabilidade da mineradora para contrapor, ponto a ponto, os eixos abordados pela empresa. Veja em anexo o relatório completo. Leia mais no Justiça nos Trilhos

MPT firma TAC com a HYDRO ALUNORTE beneficiando cerca de 1000 trabalhadores portuários

ALUNORTE – Alumina do Norte do Brasil S.A. firmou com o Ministério Público do Trabalho termo de ajustamento de conduta (TAC) no qual se compromete a cumprir integralmente a legislação trabalhista e previdenciária em vigor, em todo território nacional onde exerça atividades. A refinaria, que atua na cadeia produtiva do alumínio, assinou acordo extrajudicial depois que um inquérito civil público instaurado pelo MPT constatou irregularidade nos portos de Barcarena, a 40 km de Belém, onde está localizada a planta industrial da empresa. Leia mais no blog do Rogilson

MPF e Funai pedem retirada de invasores de terras do povo Kayapó no PA

O Ministério Público Federal e a Fundação Nacional do Índio pediram à Justiça Federal de Redenção que determine a reintegração de posse, em favor dos índios Kayapó, da Terra Indígena Kayapó, entre os municípios de Tucumã e Cumaru do Norte, no sudeste do Pará. Invasores não-índios chegaram ao local conhecido como Motayto, dentro da Terra Indígena. Leia a íntegra no MPF

Após oito anos, STF julga ação sobre titulação de terras quilombolas

Após oito anos tramitando, a ação direta de inconstitucionalidade (Adin) contra o Decreto 4.887/2003, que regulamenta a titulação dos territórios quilombolas, será julgada hoje (18) pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O relator do processo é o ministro Cezar Peluso, que também é presidente do STF. Leia mais em Amazônia

Bispos criticam STF em assembleia da CNBB

O arcebispo de Campo Grande (MS), d. Dimas Lara Barbosa, e outros três bispos criticaram, durante a 50.ª Assembleia-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Aparecida (SP), os ministros do Supremo Tribunal Federal que aprovaram a interrupção da gestação de fetos portadores de anencefalia. Leia mais AQUI

Titularização de terras quilombolas ainda enfrenta resistências

Dezenas de quilombolas de várias partes do país comaram a desembarcar em Brasília no início desta semana. Eles querem garantir um bom quórum – e muito barulho – numa grande manifestação planejada para esta decisiva quarta-feira (18/04) em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Leia mais IHU

Trabalho escravo no MA - Crianças bebiam a mesma água que o gado

Crianças bebiam a mesma água que o gado na fazenda Bonfim, zona rural de Codó, Estado do Maranhão, de onde foram resgatadas sete pessoas de condições análogas às de escravo após denúncia de trabalhadores. Retirada de uma lagoa suja, ela era acondicionada em pequenos potes de barro e consumida sem qualquer tratamento ou filtragem, a não ser a retirada dos girinos que infestavam o lugar. Os empregados também tomavam banho nesta lagoa, e, como não havia instalações sanitárias, utilizavam o mato como banheiro. Leia matéria do blog de Sakamoto replicada no IHU

RJ - mais de 100 pessoas protestam contra impactos da Vale

Nesta quarta, 18, representantes de comunidades e trabalhadores de vários estados brasileiros e do Canadá, afetados pela Vale, fazem um grande protesto em frente à sede da empresa no Rio de Janeiro. A manifestação ocorre concomitantemente à reunião anual de acionistas da mineradora. Leia mais AQUI

Belo Monte e seu rastro de caos e destruição

O Greenpeace sobrevoou a Usina Hidrelétrica de Belo Monte no dia 10 de abril e essa atividade fez parte das programações que envolvem o navio Rainbow Warrior, que na perna amazônica tem dado ênfase à campanha da Lei do Desmatamento Zero. Até o momento, mais de 93 mil pessoas assinaram a petição online que objetiva coletar no mínimo 1,4 milhão de assinaturas para esse projeto de lei de iniciativa popular. Matéria do Greenpeace replicada no IHU

Belo Monte demite 60, agride e manda prender trabalhadores

Ruy Sposati
O Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), responsável pelas obras da terceira maior usina hidrelétrica do planeta, na região de Altamira (PA), demitiu ao menos 60 operários que participaram da última greve que paralisou a obra por sete dias, entre os dias 5 e 12 de abril. Leia mais AQUI

terça-feira, 17 de abril de 2012

“Triunfalismo do agronegócio” ameaça direitos territoriais no país

Najla Passos
Uma verdadeira ofensiva dos setores mais conservadores da sociedade coloca em risco os direitos territoriais previstos pela Constituição de 1988. Foi o que deixou claro a audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, nesta segunda (16), para debater a Ação de Inconstitucionalidade (Adin) movida pelo Partido dos Democratas (DEM) contra o Decreto 4.883/2003, que prevê o reconhecimento, a delimitação, a demarcação e a titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades quilombolas. A Adin está na pauta de julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) desta quarta (18). Leia matéria da Carta Maior replicada em IHU

Massacre de Eldorado - uma vergonha nacional


A construção da impunidade teve início minutos após o fim do massacre. Mesmo sabendo da ilegalidade, os policiais removeram todos os corpos da cena do crime e com este ato, impossibilitaram a realização de perícias eficazes para a localização dos autores dos disparos. Leia mais em IHU

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Massacre de Eldorado - 16 anos de impunidade


MPF denuncia quatro por desmatamento ilegal na terra indígena Suruí-Sororó

O Ministério Público Federal (MPF) em Marabá denunciou à Justiça Federal três moradores do assentamento Gameleira e o fazendeiro Josiel Cavalcante Silva por extração ilegal de madeira na Terra Indígena Suruí-Sororó, dos índios Aikewara, entre São Domingos e São Geraldo do Araguaia, no sudeste do Pará. Leia mais no MPF

UFPa debate do centenário do cine Olympia a partir do dia 20

erdadeiro símbolo da cultura belenense, o cinema mais antigo em funcionamento no Brasil completa um século de história. Para comemorar esta data, o Instituto de Ciências da Arte (ICA) da Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio do curso de Cinema e Audiovisual, organiza o Seminário 100 anos de Cinema Olympia: histórias, desafios e perspectivas, um espaço para pensar sobre a realização audiovisual e de valorização do próprio Olympia, patrimônio histórico e cultural de Belém. Leia mais em UFPA

Belo Monte avança, mas Altamira vive impasse

Daniela Chiaretti e André Borges
O marco divisório foi a decisão de instalar na região a terceira maior hidrelétrica do mundo, Belo Monte. Na cidade, a vida segue sem saneamento básico, a educação é precária, água limpa é para poucos, o sistema de saúde funciona mal para todos. Enquanto isso, a algumas dezenas de quilômetros dali, o trabalho nos canteiros da usina exibe avanços bem visíveis. A comparação entre o frenesi de lá e o impasse de cá produz uma queixa consensual na população: há muito descompasso entre o ritmo da construção da usina e a lentidão em atender às demandas urbanas. Leia matéria do Valor no IHU

Às vésperas da Rio+20, tome hidrelétrica na Amazônia

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apresentou na semana passada em Manaus (AM) o inventário que propõe a construção de sete usinas hidrelétricas na bacia do rio Aripuanã, afluente do rio Madeira, nos Estados do Amazonas, Mato Grosso e uma área menor de Rondônia, representando uma potência total de 2.790 MWh. Leia matéria de A Crítica em IHU

O professor Ricardo Abramovay analisa a economia no Século XXI

Embora tenha sido possível produzir bens de consumo emitindo 21% a menos de gases de efeito estufa e consumindo 23% menos materiais, o crescimento econômico mundial foi tão expansivo, nas últimas duas décadas, que os esforços econômicos e ambientais não surtiram efeito.  Leia mais em IHU

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL MANDA ARQUIVAR PROCESSO CONTRA ADVOGADO DA CPT DE MARABÁ.


Através de decisão publicada nesta sexta feira (13/04), O Tribunal Regional Federal determinou que a Justiça Federal de Marabá, arquive, em definitivo, o processo penal movido contra o advogado JOSÉ BATISTA GONÇALVES AFONSO. A decisão foi proferida pelo presidente do TRF, o desembargador federal OLINDO MENESES, ao julgar Recurso Especial, impetrado pela defesa do Advogado da CPT.
           
O advogado José Batista, foi denunciado pelo Ministério Público Federal e condenado, no ano de 2008, pelo então juiz federal de Marabá, Carlos Henrique Haddad, a uma pena de 2 anos e 5 meses de prisão. O motivo do processo e da condenação foi devido à ocupação do prédio do INCRA por trabalhadores rurais ligados à FETAGRI e MST, no ano de 1999. O advogado, estudante de direito à época dos fatos, desempenhava seu papel de assessor dos movimentos sociais e, mesmo assim, foi acusado pelo crime de cárcere privado juntamente com outras lideranças dos movimentos sociais. Além da condenação a 2 anos e 5 meses o então juiz negou-lhe o direito à pena alternativa.
           
Contra a condenação, foi interposto o recurso de apelação perante o TRF. Em Julgamento realizado no ano passado, a terceira turma manteve a condenação mas reduziu a pena para 01 ano e 11 meses e garantiu-lhe o direito de cumprimento de pena alternativa. Inconformado com a decisão, o advogado Marco Apolo Santana Leão, da SPDDH Belém, que também atua na defesa de Batista, impetrou recurso Especial alegando, entre outras teses, a ocorrência da prescrição. De acordo com o previsto no Art 109, V, do Código Penal, as penas estipuladas até 02 anos, ocorre a prescrição em 04 anos. Nesse caso, o crime já estaria prescrito, considerando que, entre o fato ocorrido e o oferecimento da denuncia pelo Ministério Público, se passaram mais de 04 anos.  O presidente do Tribunal Regional Federal, concordou com os argumentos da defesa, declarou a prescrição e determinou que o Justiça Federal de Marabá, arquive o processo.  
           
José Batista é advogado da CPT da Diocese de Marabá, há mais de 10 anos, e nesse período, tem se destacado como defensor dos direitos dos camponeses da região, sendo inclusive premiado por várias vezes por entidades nacionais de Direitos Humanos, pelo reconhecimento de seu trabalho. Sua condenação provocou a mobilização e a solidariedade dos (as) trabalhadores e trabalhadoras rurais, dos movimentos sociais, de igrejas, de entidades de direitos humanos e de defesa do meio ambiente a nível nacional e internacional.
           
A condenação do advogado Batista se inseriu no contexto de criminalização das lideranças dos movimentos sociais em curso nos últimos anos, por iniciativa de setores da Polícia, do Ministério Público e do Judiciário. O reconhecimento da prescrição e a extinção do processo representa uma vitória de todos aqueles e aquelas que compreendem que lutar por direitos não é crime.
           
A CPT de Marabá agradece o apoio e a solidariedade de todos(as) e reafirma seu compromisso com a defesa dos direitos dos camponeses nessa região da Amazônia.
                                   Marabá, 13 de abril de 2012.
                                   Comissão Pastoral da Terra – CPT, Diocese de Marabá, Pará.

Líder camponês “Cabeça” é assassinado a tiros em Buriticupu



O líder camponês Raimundo Alves Borges, mais conhecido como “Cabeça”, presidente do Assentamento Terra Bela,em Buriticupu, foi assassinado a tiros por pistoleiros, neste sábado, por volta das 18h, nas imediações de sua casa. A informação é da Comissão Pastoral da Terra, ligada à Igreja Católica.

Segundo relato, os assassinos, em moto, colocaram na estrada paus e no momento em que o Raimundo Cabeça retirava os obstáculos, os homens encapuzados dispararam vários tiros contra o mesmo, que teve morte instantânea.

Cabeça havia feito várias denuncias contra especuladores que compravam e vendiam terras de assentamento da reforma agrária. Além, contra o Sr. Raimundo havia ações de reintegração de posse, movidas por grileiros de terra. Em uma ação movida pelos grileiros contra a liderança morta, a audiência de instrução e julgamento está marcada para o próximo dia 26 de abril. A causa da morte do camponês foi em decorrência dos conflitos de terra no assentamento.

Em nota, a CPT diz que “este é mais um fato que coloca o Maranhão como o Estado mais violento do país em questões agrárias. O Sr. Raimundo é a 247ª vítima da violência no campo nos últimos 25 anos. Em 2011, a CPT registrou 223 conflitos agrários, com mais de 100 ameaçados de morte”.

Fonte - CPT/MA

Garimpo de Serra Pelada - o Diário de Bordo de Ismael Machado

"Garimpo é uma cachaça da moléstia. A gente sempre fica na esperança de que vai achar a pedra que vai mudar a vida da gente, mas é difícil isso acontecer”. O autor dessa frase é Petronilo Alves Reis. Me foi dita em 2008, durante minha segunda ida ao garimpo de Serra Pelada. Petronilo tinha 75 anos e é personagem da reportagem que acabou entrando no meu livro ‘Sujando os Sapatos’. Procurei por ele na sexta-feira passada quando retornei a vila. Petronilo havia morrido.

Foi o que me disseram os ex-garimpeiros, enquanto jogavam conversa fora e deixavam o tempo passar sob o escaldante sol. Estavam no mesmo lugar de antes, a frente da vendinha de Antonio Bernardes de Souza, o Godô, também personagem da mesma matéria. Godô, hoje com quase 76 anos, luta contra a hanseníase e serve uma das mais geladas latinhas de cerveja que provei nos últimos tempos.

Ali os garimpeiros antigos tentam congelar o tempo. Esperam do governo uma definição final a respeito de uma indenização ou algo parecido que permita a eles um final de vida digno. Sobram as histórias.

Um velho garimpeiro, apelidado de Baiano, preto retinto, de cabelos e barbas brancas, parecendo o Tio Barnabé do Sítio do Pica pau Amarelo, me diz que um dia não cabe para ouvir as histórias de Serra Pelada. É a mais pura verdade.

Saímos de Curionópolis cedinho, logo depois do café no hotel. Sexta-feira, 13. Aniversário do Lui, meu filho mais velho. Ele nasceu exatamente numa sexta-feira, 13, vinte e dois anos atrás. Mando um email afetuoso a ele. Saudade do moleque.

Olho para a topografia de serras, enquanto Janis Joplin canta  Me and Bob McGee, a música que fala em pegar estrada, em liberdade, em nostalgia.

O que percebo é que na entrada da vila, o cenário mudou. Há um canteiro de obras da Vale. A empresa fincou pés no local. O que resultará disso...? Moradores da vila reclamam das detonações explosivas. ‘Treme tudo’, me diz um deles.

Mais pro outro lado, há o canteiro da Colossus. Entre as duas gigantes, os homens pequenos, com suas histórias épicas. Cláudio Moraes, por exemplo, me reconhece. Ele é dono de uma loja bem organizada no centro da vila. Anda bem vestido. Tem boa aparência aos quase 50 anos. Mas levo Uchoa para os fundos da loja e mostro a foto de Moraes, à época do garimpo. É uma das fotos clássicas, com o garimpeiro todo enlameado, jovem ainda. Conheci Moraes em 2010. E ele parece melhor que seus companheiros.

Sento e converso com os garimpeiros. Sobram reclamações. A minha intenção é falar sobre Curió, mas não entro logo de cara no assunto. Vou rodeando, assuntando...quando falo o nome do homem, os garimpeiros mostram que ele ainda é um mito. É compreensível.
Não vou ficar fazendo valoração moral aqui, mas é fato que Curió falou a língua deles. Num lugar onde os homens só andavam armados, conseguiu desarmá-los e impor disciplina.

“Mas ele não era essa brabeza toda não”, me diz um ex-garimpeiro, segurando uma enxada e rindo solto a cada frase. É assim, o mundo anda complicado, mas o bom humor garante a sobrevivência. Isso sempre me fascinou. “Se fosse brabo não teria deixado passarem a mão na bunda da mulher dele aqui”. “Passaram a mão na bunda da mulher dele?”, me espanto. “Mas, rapá, num tô te dizendo?”, responde o garimpeiro. E rimos alto os dois.

Serra Pelada é assim, lugar de muitas histórias. Vamos até o lago que esconde hoje o que foi o formigueiro humano. Rogério pede pra que faça uma foto dele. Ao fundo, um velhinho lava as roupas no lago. “Porra, tem peixe aí. Como pode?”, pergunta Rogério. Mistérios da natureza.

Na vila prefiro deixar o carro em algum canto e seguir caminhando. É melhor. Um homem nos chama. Conversa conosco. Repórteres chamam a atenção. Guto Costa tem 47 anos e foi moço ainda a Serra Pelada. Andava de namorico com uma menina rica e os pais dela, lógico, não viam isso com bons olhos. Pois foi atrás de fortuna no garimpo para se fazer digno da amada. Vejo a vendinha dele e nem preciso perguntar nada.

Com um chapéu na cabeça, Carlos Rodrigues me diz que não pensava em ser garimpeiro. Mas em Marabá foi convencido por um conhecido. “Foi o destino, me diz ele”. Pergunto o que faria se encontrasse hoje esse sujeito do destino dele, trinta anos depois. “Mostraria pra ele a desgraça que fez em minha vida”, resume.

Vou atrás de José Alfredo, personagem de duas reportagens minhas em Serra Pelada. Me contam que o poço cavado por ele foi embargado, tapado. Não pode mais cavucar em busca do ouro sonhado. Não encontro José Alfredo, garimpeiro que tenho carinho de amigo. Vi os olhos dele ficarem marejados quando me contou sobre o pai e ele encontrando ouro nos anos 80. E vi a emoção que teve quando lhe levei a página do Diário em que ele era a foto de destaque. A casa simples tem passado por transformações. Está se tornando de alvenaria.

Um dos filhos agora é funcionário de uma das empresas, percebo pela calça, típica dos funcionários de mineradoras. “Tá melhor assim?”, arrisco perguntar. Ele diz que sim. Natural. Em vez da indefinição do sonho do ouro, carteira assinada e salário todo fim de mês. É um ciclo natural.

Voltamos a Curionópolis. Na saída da vila, vejo o imenso escudo do Vasco numa das primeiras casas. Sorrio, certas coisas não mudam. Ainda bem. No meio do caminho o pneu fura com as pedras. Não mudam mesmo.

Audiência pública discute situação dos "meninos do trem da Vale"

O embarque clandestino de crianças e adolescentes nos trens de mineração e de passageiros da Ferrovia de Carajás, sob controle da Vale foi tema de uma audiência pública realizada no dia 13 de abril, em São Luis (MA). Ninguém consegue precisar quantas crianças e adolescentes, ao longo de quase trinta anos, embarcaram clandestinamente nos veículos da empresa. Além do trabalho infantil há denúncias de casos de prostituição em trechos de duplicação da ferrovia.

São Luís. Faz sol. A capital do Maranhão, um dos estados mais empobrecidos do país, soma 400 anos em 2012. Para celebrar a data com pompa e circunstância, o governo maranhense concedeu alguns milhões para a escola de samba da Baixada Fluminense, comandada pelo bicheiro Abraão David, Beija Flor de Nilópolis. O tiro parece ter saído pela culatra. Além de não vencer o concurso, na transmissão da TV, falou-se mais do carnavalesco maranhense falecido às vésperas do carnaval, Joãozinho Trinta, amigo de Roseana, ao invés do aniversário da cidade. Leia a íntegra no site da Agência Carta Maior