O dia caiu. A noite não acudiu. Ruídos de
animais. Sombras de palmeiras. Assobio de vento invoca curupira, matinta,
boitatá. O mundo não tem solução. Temerária equação em carnaval de lama. Cozido,
em um canto, logo cedo, o ovo foi resgatado.
Ele escapara de ter virado recheio de pastel em dias pretéritos. O ovo
que sonhara em ser astronauta, navegava em galáxias de solidão em geladeira sem luz.
Alvo. Quase transparente, nunca tomou um fio de sol. Não foi à praia. Nunca flertou em samba ou
fez serenata, ofertou flores à musa. Aos pés da Santa Cruz jurou honrar os
pais. Mal sabia que iria virar desjejum de faminto de amor. Um ovo só, é apenas
um ovo só. Ovo gelado combina com doce, Docinho? O que passou pela cabeça do ovo ao ser
destroçado, untado por sal de segunda, e em seguida sufocado por um bom punhado
de farinha? Farinha baguda. Bruta. O ovo
cozido, em breve, será adubo, coco, sem nunca ter tocado uma gaita ou flauta. Usado
óculos escuros para as suas lágrimas esconder.
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