domingo, 17 de maio de 2020

Morre aos 67 anos, em São Paulo, o jornalista Maklouf Carvalho


O jornalista paraense  perdeu a batalha para um  câncer no pulmão. O Cadete e o Capitão (sobre a vida militar de Bolsonaro) foi o último livro investigativo



“Resistir é o primeiro passo”, sob tal palavra de ordem circulou em Belém, capital do Pará, o Jornal Resistência. A Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) serviu-lhe de ventre para que o mesmo viesse ao mundo num sombrio 1978. A SDDH somava apenas um ano de vida.

Na vizinhança latina a esquadra Argentina levantava o troféu de campeã de futebol do Mundo. Cinco anos antes Allende era assassinado no Chile e Pinochet chefiava a ditadura no país.  No Brasil respirava-se o ocaso do milagre econômico. Uma tal de integração física da Amazônia ao resto do país regia a vida e a morte na taba. Com a proteção do guarda chuva do Estado, o capital adentrou na selva sem quase nenhum desconforto. Literalmente, sentou praça.

O boletim Resistência se constituiu como um marco da comunicação considerada alternativa no Pará, e circulou de forma regular entre 1978 e 1983. O advogado Luiz Maklouf Carvalho foi seu editor, falecido aos 67 anos, neste ultimo sábado, 16. A importância do boletim por ele editado consta na obra de Bernardo Kucinski, Jornalistas e Revolucionários (1991). Por divergências políticas, Carvalho polemizou com o autor em vários artigos.

O jornalista paraense migrou para São Paulo ainda na década de 1980, anos de grande recrudescimento da luta pela terra no estado do Pará.  Neste combate o jornalista perdeu o amigo, e um dos fundadores da SDDH, o advogado Paulo Fonteles. 

A reportagem investigativa  sobre o caso rendeu o livro Contido à bala.  Sobre o movimento de resistência armado à ditadura, escreveu sobre as mulheres que se engajaram, onde entre outras, trata da ex-presidenta Dilma. 

Além dos principais veículos de comunicação do eixo Rio-São Paulo, o jornalista contribui com o jornal Movimento, que há pouco foi agraciado com um livro sobre a sua trajetória. Iniciativa que o Resistência ainda aguarda.

Na década de 1990, quando terminava a graduação em São Luís, enviei via fax à redação da Folha de São Paulo, um resumo do meu trabalho de conclusão de curso na UFMA aos cuidados de Gilberto Dimenstein. Um escândalo do governo Roseana Sarney sobre um projeto de instalação um complexo de confecções com a China, denominado Chao-i, no município de Rosário, perto de São Luís era a pauta.  

Maklouf foi o escalado para a matéria, que foi publicada com direito à chamada de capa numa edição de domingo. O jornalista chegou a fazer contato via telefone para o local onde eu prestava serviço, mas, a secretária esqueceu de repassar o recado. Celebramos a cobertura com um vinho barato.   

O Cadete e o Capitão foi o derradeiro livro do paraense. Ele trata das peripécias do militar em processo militar cheio de reviravoltas, quando o militar projetou um ataque terrorista.   

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