A ideia era somente prosear sobre malária
Foto: Paulo Santos/2002/Ecodebate
Conheci hidroxicloroquina a partir de
uma piada recorrente pelos arredores de Tucuruí, sudeste paraense, idos da
década de 90.
A cidade abriga a maior hidroelétrica
genuinamente nacional, a quarta do mundo, a produzir energia no rio Tocantins,
sudeste paraense. Terra de vida. Terra de morte matada, onde o filho chora e a mãe nunca chega a saber, se a dor é de amor, se a dor é de doer ou se a dor é
de morrer.
O projeto integrou o portfólio da
ditadura civil militar, que ergueu os pilares para o aprofundamento da condição
colonial da Amazônia.
U$$ 700 milhões era o custo estimado
do projeto pensado e erguido para subsidiar empresas do capital mundial da
cadeia do alumínio, Albras e Alunorte/CVRD/Norsk Hidro e o capital japonês, em
Barcarena/PA, e Alumar/Alcoa/BHP Billiton, em São Luís/MA.
A obra que fez a fortuna da firma Camargo
Corrêa foi a ruína para milhares de pessoas ao redor. Indígenas (Parakanã),
camponeses e outros.
O custo final do negócio da China,
ninguém sabe ao certo. O governo calcula em U$$ 4,5 bilhões, outros em U$$ 10
bilhões, e estudo da Comissão Mundial de Barragens estima em U$$ 7,5 bilhões,
conta ensaio de Lúcio Flávio Pinto publicado em boletim do Museu Paraense
Emilio Goeldi, em 2012.
No mesmo ensaio o jornalista
explicita que a obra durou 37 anos até chegar ao fim. Como se diz por aqui,
pense na roubalheira, desde a sua concepção na década de 1970 até o encerramento
da usina. A empreita catapultou o senhor Sebastião Camargo, o dono da firma, a
figurar como o primeiro brasileiro bilionário nas páginas da Forbes e da
Fortune.
A sangria não cessa, Pinto adverte
que o subsídio de energia bancado pelo Estado e pela sociedade durante 20 anos,
- desde os anos 1980 aos anos de 2000, - para as empresas Albras e Alunorte,
totaliza uns U$$ 2 bilhões, dinheiro suficiente para construir outra planta industrial.
Somente as usinas do Pará consomem 3%
de toda energia do país. Água e energia representam os principais insumos da
cadeia. Tá ligado no saque das pessoas de bem?
As 23 turbinas da usina são
responsáveis por quase 10% de toda energia gerada do país. A usina é tida como
a maior obra pública já erguida na Amazônia, e consta entre as cinco maiores do
país. Assim como em Belo Monte, Delfim Neto, um dos baluartes do regime de exceção, mediou
as negociatas para a compra das turbinas de Tucuruí.
Como adverte Pinto e outros
intelectuais, a bandidagem foi possível por conta do regime ditatorial,
sustentado pelas Forças Armadas, em particular o Exército. Desgraçadamente, o
mesmo modus operandi do Estado
autoritário se registrou na construção de Belo Monte, no rio Xingu, em tese, em plena “democracia”
sob a insígnia do PT, e com a “consultoria” do mesmo Delfim Neto. A mesma desgraça desejam impor ao Tapajós, com o projeto da hidroelétrica de São Luiz.
Vim aqui somente para falar de
malária e da hidroxicloroquina, mas, como um bagulho puxa o outro. Por conta do
lago que a usina de Tucuruí gerou, os indicadores de malária eram expressivos,
assim como a produção de gás metano, por conta da floresta submersa, e por consequência,
mosquitos de tudo que é jeito e tamanho.
A concentração de peões na obra fez
germinar o território do Escorre Água, espaço reservado às delícias da carne e
do amor fortuito.
E a piada? A piada residia em dizer
que na cidade havia tanta malária, que quando alguém usava camisa com botões os
macacos assaltavam a pessoa pensando que era comprimido de hidroxicloroquina.
Vários colegas do trecho foram
agraciados com uma ou mais cruzes de malária, como se diz por aqui, ou algum
tipo de hepatite.
Mais de duas décadas a rodar por aí,
cabeça caiada, algumas cruzes de amores cravada ao peito, ainda continuo
invicto de malária e hepatites...o que contar para os netos???
Ah, quando gitinho foi acometido por sarampo no sertão do Maranhão. Mas, aí, já são outros quinhentos. Tristeza pra mais de metro, de fazer até o burro da carroça chorar.
Ah, quando gitinho foi acometido por sarampo no sertão do Maranhão. Mas, aí, já são outros quinhentos. Tristeza pra mais de metro, de fazer até o burro da carroça chorar.
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