Foto: Marquinho Mota. Orla de Santarém/PA/2020
O esgoto corre a céu
aberto, independente da existência de meio fio ou não. Corre sob um céu de fim
de tarde de fazer inveja a Van Gogh. O fio
de esgoto percorre toda a cidade. Como se fosse a veia aorta. O que lhe confere
vida. O que lhe é essencial. Naturalizado em sua existência, não provoca
indignação entre os nativos, ou estranhos de além riomar. Mesmo perplexidade
ante uma exuberante riqueza natural. O esgoto singra quebradas e o centro. Afronta
rodovias e vicinais. Irriga fronts de casebres, de puteiros, das quitandas, dos
botecos, de peixarias, dos palácios, dos parcos museus, dos templos, das tendas
e das catedrais, quarteis até. O odor exala. Casagrande e Senzala. O coração da cidade. Um poema sujo
contemplado pelas garças mocozadas sobre as mangueiras da encruza da urbe. Garças
que untam as passagens com as suas cagadas, e as tornam neve. Passagens onde urubus
saqueiam vísceras dos sacos de lixo para a sua sobrevivência, como se matilha
de cão fosse. Pérola cidade, deixa-me viver, que eu quero aprender a vossa
poesia, por entre canoas, bajaras, barcos, navios e iates nos riomares das suas
melancolias e desigualdades. Tempo de manga. À av. Presidente Vargas, forma um
tapete, este vigiado pelos olhos fofoqueiros dos velhos das janelas e das portas das
casas. Enquanto os pés inchados a tudo vigiam.
Rogerio Almeida, STM,
março/2020
SANEAMENTO URGENTE para preservar as belezas de Santarém.
ResponderExcluirRua poesia transcede a realidade. Parabéns
ResponderExcluir