O
natal se avizinha. O sol é abrasador na PA 150. Ele carrega em tom laranja por
conta das queimadas. Tudo parece mais árido que o habitual. Até o vazio do
peito. Coberto por uma poeira que não cessa. Seja dia. Seja noite. O sol, a
poeira e o vazio torram a pele. Ardem no olho. Ferem de morte.
“Volta
que o caminho dessa dor me atravessa”, a passionalidade da canção de Hooker
(Johnny) retumba no oco do ouvido. O asfalto e a cerca integram a tediosa paisagem.
Faz dormir e acordar a cada solavanco.
O
gosto amargo da cerva consumida antes do embarque domina a boca. Vencida pela ausência
de outras bocas, bundas e bucetas.
“Nos
bares da Aurora me lamentei” segue a canção parida em terras de Capiba. A
viagem teima madrugada a dentro. E já é outra canção antes da bateria do
aparelho do celular deixar de respirar.
“Se
você acha que a sua indiferença vai acabar comigo...eu sobrevivo..,a solidão será
o seu castigo.” A poética de puteiro não cabe num peito. Desde “gitio” em
quebradas de Gullar. Na fronteira entra a Camboa e a Liberdade quando Galeno
(Bartô) reinava. Mas, poderia ser Lupicínio, para soar sofisticado.
Em
uma curva fechada a queimada arde. Por um instante parece que vai tomar o bus.
Tudo muito complicado. Nem adianta ficar mordido.
Os
primeiros raios do dia dão sinal de vida. Anunciam a chegada na cidade. É lindo ver o Tocantins de cima da ponte. Não
existe certeza se vale a pena a viagem. Nada pessoal. Fim de linha. Fim de papo.
Os
descaminhos transbordam entre as linhas da mão. Mapa sem destino? O vento é forte. E nada em
assanhar a sua cabeleira.
Não haverá chuva
neste fim de ano. Não adianta chorar. Alerta o serviço de meteorologia.
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