As
atividades possibilitam às comunidades ribeirinhas valorização da autoestima e resgate
da cultura tradicional
Lilian Campelo
Orgulho, realização e
conquista. Foram estes os sentimentos que nortearam os comunitários no dia da
fundação da primeira Cooperativa de Turismo e Artesanato da Floresta do
Arapiuns, a Turiarte, em primeiro de maio na comunidade de Atodi, localizada no
município de Santarém no Projeto de Assentamento Extrativista Lago Grande.
Entre sorrisos,
Reginalva Godinho, primeira coordenadora da Hospedaria Comunitária de Anã,
relata, com ar de satisfação, os sonhos que poderão ser realizados através da
cooperativa: “Agora vamos poder cadastrar a nossa Hospedaria no Ministério do
Turismo que nós sonhamos, vamos poder emitir notas fiscais na venda dos nossos
serviços, hoje é a concretização de um sonho”.
O turismo de base
comunitária já é uma realidade para 4 grupos comunitários da região do Baixo
Arapiuns. A atividade vem sendo apoiado pelo Projeto Saúde e Alegria (PSA)
desde 2002, gerando emprego e renda para cerca de 93 pessoas das comunidades de
Atodi e Anã, esta fica situada na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns.
Nelas encontra-se em funcionamento duas pousadas comunitárias com redário para
20 pessoas cada.
De acordo com os dados
repassados pelas lideranças das duas comunidades, em 2011 Anã e Atodi receberam
98 turistas. Esse número cresceu, e em 2014 foram registrados 333 visitantes,
dos quais 256 brasileiros e 77 estrangeiros, gerando uma renda de 68 mil para
as comunidades.
Diversidade
O segmento não apenas
vem melhorando a vida dos comunitários como impulsionou outras produções
ligadas a sociobiodiversidade, como o manejo de abelhas sem ferrão, para a
produção de mel, a criação de peixes, a produção de frutas e verduras e o
artesanato - atividade que também vem sendo apoiada pelo Saúde e Alegria desde
os anos 90.
Atualmente existem seis
grupos que produzem uma diversidade de produtos artesanais oriundos da cultura
tradicional, nas comunidades de São Miguel (grupo Arte Palha), Vila Gorete,
(Grupo Sacaí), Vila Brasil (Grupo Brasil), Arimum (Grupo Jararaca), Urucureá
(Grupo Tucumarte) e Vila Amazonas (Grupo Jacitara).
Tanto o turismo de base
comunitária quanto o artesanato resgatam a cultura e os saberes tradicionais,
além de contribuir com a valorização e a autoestima dos comunitários, como se
observa na fala de Luzia dos Anjos, coordenadora geral do grupo Arte Palha da
comunidade de São Miguel. “A Luzia de hoje faz coisas que eu nunca pensei em
fazer na minha vida. É muito bom a gente tá lá em Manaus e de repente ligar a
televisão e olhar as mulheres do Arapiuns, do São Miguel”, conta orgulhosa.
Ao todo são 102
artesãos, sendo 90 mulheres e 12 homens, produzindo mais de 60 artigos com
vendas diretas aos visitantes nas comunidades, na sede do Saúde e Alegria, via
internet e lojas em diversas cidades do Brasil.
O potencial desses dois
segmentos ocasionou, com o passar dos anos, o aumento na demanda, o que exigiu
dos comunitários mais organização na gestão dos seus empreendimentos. A
Cooperativa de Turismo e Artesanato da Floresta – TURIARTE, conta com 70 sócios
fundadores de 7 comunidades, com expressiva participação das mulheres, 54 sócias.
A Presidente eleita
Maria Odila Godinho, informa que, com a cooperativa consolidada, o próximo
passo será ampliar os negócios de artesanato e organizar as comunidades de Atodi
e Anã, que já trabalham com o turismo, para que registrem e formalizem seus
empreendimentos juntos aos órgãos federais.
Davide Pompermaier,
coordenador da Unidade de Negócios Sociais do PSA, acredita que ainda existem
na Amazônia poucas experiências estruturadas de turismo comunitário e menos
ainda organizadas em cooperativas, e conclui: “No caso da Turiarte já temos um
negócio acontecendo que se consolida com a cooperativa, então, sem dúvida, é
uma iniciativa muito promissora, é um momento importante”.
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