domingo, 26 de janeiro de 2014

Carajás 30 anos depois

Marciano é um homem de meia idade filho da cidade de Baião, no Baixo Tocantins. Ele foi peão de empresa terceirizada no setor de mineração no sudeste do Pará na década de 70.

Atualmente é dirigente de uma associação de camponeses.  

O senhor conta que foi graças a um cozinheiro que procurava ouro num igarapé que  a Vale descobriu minério do projeto Salobo.

Geólogos e outros especialistas já haviam pesquisado a região e nada, conta Marciano. O cozinheiro misturou o que achou com outras coletas, e bingo.

Marciano hoje cursa licenciatura em Educação do Campo no programa do Parfor no Instituto Federal do Pará (IFPA), na cidade de Marabá.

O hoje estudante rememora a densidade da floresta repleta de castanhais e mognos. A fauna era rica. Vara de porcos do mato provocava medo nos peões.

“Era comum a gente passar até quatro dias andando de voadeiras até alcançar uma trilha. Paulistas grilavam terras e tomavam a madeira” rememora Marciano. .

Naquele momento o programa Grande Carajás dava os passos iniciais para a reconfiguração profunda da Amazônia Oriental.

O capital em aliança com a tecnologia contava com o endosso e financiamento do Estado para cimentar as rodovias para o saque numa das mais importantes reservas minerais do mundo, Serra Norte no município de Parauapebas.

Os especialistas das academiais avaliavam que os camponeses migrantes, a maioria composta de nordestinos iriam seguir o em itinerância, dando lugar a eficiência capitalista.

Aos trancos e barrancos os camponeses conseguiram uma territorialização. A produção continua sendo um gargalo. No entanto, a educação avança, a exemplo do Campus Rural do IFPA, fixado num antigo castanhal.

Marciano faz parte de uma turma do IFPA. Passados 30 anos dos passos iniciais de Carajás, a região tem mais de cinquenta por cento definida como projetos de assentamentos rurais.

Os indicadores socioeconômicos são os piores possíveis. Na mais recente lista de trabalho escravo do Ministério do Emprego e do Trabalho a pecuária do sudeste continua imbatível.

Desmatamento, malária, morte de camponeses e assessores e a impunidade não possuem par no país. Os passivos sociais e ambientais são as principais externalidades do  projeto Carajás.

A fronteira agromineral, como definiu o professor Jean Hébette , passa por uma abissal reagendamento, que aprofunda o saque ao coração da Amazônia.

Parte da ferrovia está sendo duplicada por conta da amplificação da exploração de minério de ferro na Serra Sul (S11D), no município de Canaã dos Carajás.

Pátios e o porto do Itaqui também passam por reforma e ampliação. Em breve as obras da hidrelétrica de Marabá, na fronteira dos municípios de Marabá e São João do Araguaia devem iniciar.

É como se a região vivesse um nova Carajazão, como os militares tratavam o projeto que seria a redenção para honrar o pagamento da dívida externa.  
 
Para tentar avaliar os 30 anos do projeto ativistas de direitos humanos e ambientalistas realizam seminários em Marabá, Belém e São Luís.

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