Com a imposição da obrigatoriedade do diploma de curso superior de
comunicação para o exercício da profissão de jornalista, a academia se instalou
nas redações da imprensa brasileira. Não foi por acaso que esse ato insólito
foi adotado pela junta militar durante o mais negro período da república
brasileira, em maio de 1969, logo depois do famigerado Ato Institucional nº 5,
o AI-5, demiúrgo da liberdade de pensamento.
Agora, de forma
natural, o caminho é salutarmente inverso: jornalistas, cada vez mais insatisfeitos,
tomam o rumo da academia. Querem aprimorar seu conhecimento. Querem, sobretudo,
ter régua e compasso: um método de pensar e analisar para dotar de alguma
perenidade, significância e inteligibilidade o que escrevem. Esperam absorver a
contribuição do pensamento organizado e sistemático, legado de gerações. Ou,
como dizem os acadêmicos, conquistar um marco teórico.
Felizmente essa
nova relação tem sido proveitosa, enriquecendo as partes envolvidas: os
trabalhos acadêmicos se tornaram mais atraentes e o jornalismo, mais rigoroso.
Isso tudo, apesar da crise da imprensa. Ou talvez por ela mesmo, se acreditamos
no princípio teleológico dos gregos, que punham suas crises sobre o palco e
aprendiam se divertindo ou tendo prazer estético.
Rogério Almeida integra esse processo migratório do saber. Cheio de experiência vivida,
de ver com os olhos, sofrer com a alma e sublimar pela inteligência, agora
pondera e processa essa vivência no ambiente socrático. Certamente o novo
cenário não aquietará suas angústias nem sufocará suas dúvidas. Talvez ele
perceba, como alguns outros, que o tal do marco teórico empobrece a realidade
da qual ele tem sido testemunha e protagonista. A solução não estará no
abandono de material empírico posto à onfandade e desabrigado de uma boa
explicação. O mais recomendável é malhar sobre a bigorna das teorias e
encontrar uma que seja mais adequada. Na falta do produto, forjar aço
explicativo de melhor têmpera. A Amazônia merece esse esforço - e o compensa.
Particularmente, é
nesse estado de espírito em que me vejo quando os casos que vi e vejo,
sobretudo de conflito, me surgem desafiadores quando os aproximo do referencial
analítico disponível. O conceito de camponês é lençol curto para tanta matéria.
O assentamento da reforma agrária parece antediluviano, como um gringo
encardido no verde vago mundo. Há matéria viva e incandescente, como a deste
livro, à espera do instrumento que lhe dê forma universal e densidade local,
como na grande literatura. E o que é a saga amazônica mais do que a grande
literatura em busca angustiante de autor?
Lúcio Flávio Pinto
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