sexta-feira, 24 de outubro de 2025

COP 30: Charles Trocate, ativista do Movimento pela Soberania na Mineração analisa as consequências da crise ambiental e as firulas da Conferência.

 

 

Charles Trocate, coordenação nacional do MAM. Foto: redes sociais

Poeta, filósofo e doutor Notório Saber em Geografia Humana pela Universidade Federal da Bahia, (UFBA), professor visitante no Instituto de Geociências, e da Direção Nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração-MAM, Charles Trocate traça nesta entrevista um rápido panorama dos nossos impasses sobre crise climática e a dívida ecológica. Neste dedo de prosa, Trocate mobiliza elementos para uma crítica da razão capitalista, que separou indivíduo e da natureza. Nesta direção, contabiliza a origem da nossa crise de desenvolvimento pela abundância de natureza dos anos de 1990 para cá. E, por fim, discorre sobre o problema mineral brasileiro, de como ele está incontrolável em relação à economia, a natureza e a sociedade. Alerta que é urgente a organização de uma Conferência Nacional sobre o modelo mineral brasileiro.

 

Blog Furo: Charles Trocate, qual o panorama da crise ecológica e os rebatimentos na sociedade Brasileira?

 

Charles Trocate: Veja, o estado do capital é global, a esta altura não há lugar no mundo em que ele não condicione de algum modo as relações sociais. E ele é global exatamente pela desordem que ele provoca. O espírito do capitalismo é a desordem e aniquilamento. Esse diagnóstico já sabemos. No entanto, e este dado não é novo, é para onde vamos? Tenho dito e acredito dessa forma que se humanamente nós chegamos até aqui, que socialmente produzimos este individuo, ou se quisermos especificar, este homem burguês, cheio de penduricalhos privados, este comportamento social, que podemos denominar de civilização do consumo, baseadas na propaganda e no credito, só humanamente sairemos destes condicionamentos orquestrados pelo regime de poder. A ordem das questões é como sair do labirinto, como acumular força para tal?

 

Mas pelo menos três questões devemos levar em conta.  Ao invés de analisar que há uma crise política, ecológica, econômica e social, deveríamos rapidamente situá-la em sua totalidade. A crise é da razão capitalista razão que sistematicamente separou indivíduo e natureza pela rolagem perpétua do capital, esta fórmula social, de extração, transformação e consumo. Criação de novas necessidades e de novo a rolagem se externaliza, ou se muda por completo, ou se é aniquilado. Não se pode controlar as partes. Imaginando construir a partir disso outra sociabilidade, outro senso comum. Neste caso, para o argumento não ficar pela metade de todas as fases do capitalismo, quem mais aprofundou esta operacionalização do capital foram as fases do seu desenvolvimento monopolista e imperialista, tendo os EUA desempenhado papel fundamental nesta última. Mas hoje a tônica dos EUA é a antiglobalização, com um governo nativista e nacional chauvinista. Uma segunda questão é a de que para levar adiante essa perspectiva, o capital como produto das relações sociais maximiza as inúmeras funções do Estado, aquelas que neste momento, no nosso caso de Estado subalterno e subsoberano, objetifica a natureza, cientifica e precifica a natureza.  Nesta exata conjuntura, o Estado e a sua representação formal, governo e congresso decidem por quanto vão precificar a natureza. Neste caso os minerais necessários a expansão energética global, veja o caso da recente decisão para a extração de petróleo na foz do Amazonas.

 

Blog furo: e a terceira questão?

Charles Trocate: Sim, claro, ela diz respeito de que a inevitabilidade da razão capitalista, assim posta nos levou a esta crise sentida em todos os seus aspectos, e daí duas grandes formulações decorrem para explicá-las. Entramos no antropoceno, período geológico quando um ser humano genérico mudou a idade geológica da terra mais do que todas as forças naturais juntas, ou a que afirma que ao invés, estamos no capitaloceno, de que se há um modo de produção social que mais moldou o mundo a sua imagem e semelhança. Em face que sua forma de ser provocou rupturas e fissuras metabólicas a vida planetária este modo é o capitalismo em que o desenvolvimento das forças sociais produtivas e as revoluções tecnológicas e o descontrole delas extrapolaram o limite natural do planeta terra.  Estamos vivendo a sexta extinção em massas, nenhuma antes, foi provocada pelos humanos, esta sim.

 

Blog Furo: quais destas implicações sentimos, mais a fundo, em especial no Brasil?

Charles Trocate: Devemos recordar que aderimos ao neoliberalismo nos anos 1990 e executamos profissionalmente os seus termos, privatização do estado público, adesão ao rentismo, a implosão da natureza brasileira pelas commodities.  Isso não é pouca coisa. Isso é exatamente a linha de demarcação da crise climática e social e do colapso ambiental radicalizado que estamos vivendo. Isto tudo junto vai caracterizar melhor os impasses e eles são assombrosos. Eles derivam da taxa de lucro crescente as do capital sobre economias nacionais. No brasileiro, em forma de pagamentos de juros que imobilizam e deterioram as funções do Estado e de governos. Colapso ambiental em face do modelo econômico, gestão da crise por medidas paliativas e adesão voluntária às políticas imperialistas. Além disso parecem não ter nexos a vida boa das elites mediante o sofrimento da população.

Blog Furo: Então vamos lá, transição ou expansão energética? 

Charles Trocate: Terminamos o século vinte com o argumento de que o planeta estava esquentando e era preciso esfriá-lo. A forma para isso era combinar esforços globais. A tese, ou a vontade escolhida em comum acordo era de esfriar o planeta aos patamares dos anos de 1900, diminuir até 2050 dois graus Celsius. E, assim , descarbonizar a indústria mundial, e para isso o método escolhido foi realizar a “Conferência das Partes”, a que ocorrerá em Belém, no próximo mês será a de número 30. O ânimo para algum acordo satisfatório é baixíssimo. No entanto, como léxicos dominantes começamos a repetir dois novos conceitos políticos que nada dizem sobre a nossa sociedade, o da “emergência climática” e o da “transição energética”. Eles sustentam ideologicamente a premissa de “adaptação às mudanças climáticas” e a “mitigação dos danos”. O clima, assim como o território é uma produção social. O  uso desigual do clima é uma decisão política e isto se consolida cada vez mais no paradoxo da descarbonização, descarbonizar para que? Para o livre arbítrio da mercadoria e da financeirização? Estamos sequestrados por esta perspectiva, e devemos urgentemente sair dela, pois está posta por inúmeros organismos hegemônicos como a única saída e não será. A urgência não é interrogar o futuro, mas de saber que o passado está ficando grande demais em relação a ele. E, aqui entra o negacionismo e o nacionalismo climático como medida absoluta para nos dizer que o capitalismo é eletrointensivo no uso de energias, e que não haverá acordo algum.  Cabe a nós saber que a ordem dos fatores, para além de longas explicações, que não precisamos mudar de fontes energéticas precisamos mudar o sistema que fagocita as energias vitais da terra. O multilateralismo precisa mudar de forma para mudar de conteúdo. A prerrogativa  aqui se inclui, a delicada situação da geopolítica internacional, a vigência de novos consensos que ultrapasse as marcas nada auspiciosas do presente.  

 

Blog Furo: e neste amaranhado de coisas como fica as Amazônias?

Charles Trocate: Pois bem, acaba de ser lançado um livro e de caráter dominante sobre a “Nova Economia da Amazonia”. Ele deduz a região à economia. Os argumentos giram sob o tripé, bioeconomia, mineração inteligente e agronegócio. Isso é espantoso. A Amazônia ou as Amazônias, como preferia o professor Carlos Walter Porto Gonçalves, nesta etapa de acumulação capitalista é funcional ao sistema mundo de produção de mercadorias. Ela está encurralada por esta perspectiva e pesa o fato, de estas reverberações estarem em sintonia com os modelos hegemônicos de transição energética, na política e nos investimentos transnacionalizados. Sobretudo agora, muito se tem dito e muito se argumentará sobre o lugar da região e da floresta no equilíbrio do clima. A floresta é construção social e o resto é balela, mas, são estonteantes os dados que a modernidade da supressão lhe impõe. Há mesmo uma dívida ecológica incalculável com a  região, e que é tão pouco a ideia de chegamos ao ponto do não retorno da floresta. A Amazônia se transformou numa zona de acumulação intensiva de capital. A literatura indica que é preciso ir além, não por ser um depositório de carbono espetacular, mas o de produzir rios voadores, cuja as consequências, entre elas, a de se conectar com os demais biomas entre outras virtuoses. Neste ponto até poderia ser emblemático. Até poderia ser interessante a realização da Conferência das Partes, a COP30, na Amazonia.  Mas, as contingências do modelo tornam isso um desprestígio para a região, quando a interrogação não passou se Belém tinha ou não condições para realizar tal evento. Perdemos tempo demais neste ponto. E, eles venceram, não porque vão boicotar, seja ela pela discussão, seja na não discussão. Contudo, os adventos que levaram a decisão da COP30 ser realizada na Amazônia são os mesmos que valeram quando ela for em qualquer lugar. Não existe uma sintonia com a realidade do que podemos chamar de ruptura metabólica global!

Blog Furo: E o problema mineral brasileiro,  quais são as tarefas do Movimento pela Soberania Popular na Mineração diante da intensividade da indústria extrativa da mineração?

 

Charles Trocate: Veja, de maneira exemplificada, podemos dizer que o problema mineral brasileiro tem três características imediatas. A de ser organizado sempre de fora para dentro. Ele é estruturado na sua forma de decidir sempre de maneira antidemocrática e por consequência, seja lá onde for a decisão de implementá-lo, gerar o desenvolvimento do subdesenvolvimento.  São estas características que vão fazê-lo desde que vendemos o modelo estatal em 1997, esta incontrolável a economia, a natureza e a sociedade na sua forma e nos seus resultados. Exatamente por isso, dizemos que o problema mineral brasileiro produz afetações na economia nacional, a minério dependência nas zonas de mineração, ao mundo do trabalho da mineração e aos consumidores. Uma vez que quem consome não pode ficar ileso de como os minerais são arrancados do subsolo. De maneira geral saímos do nosso II Encontro Nacional, realizado este ano, refletindo sobre  os novos e velhos impasses dos minerais críticos, a guerra da transição energética afirmando a necessidade de debater com a sociedade a função social do subsolo.  Acrescentamos a necessidade de uma geodiversidade popular, ou seja, a garantia para fins não mineráveis de quem tem a posse do território, possa ter do subsolo também.  A nossa política permanente reside em  territórios livres de mineração, a democratização da renda mineral e o controle público do modelo mineral. E para esta conjuntura mensurar a necessidade pelas características dos debates e das proposições em relação aos minerais críticos a expansão energética o papel de uma Conferência Nacional sobre o setor de uma realidade que diz respeito a sociedade brasileira, em um dos muitos que seus resultados poderiam produzir, sobre escala e ritmo da mineração, era de um conselho ampliado para reorganizar a política mineraria nacional.

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