A notícia do falecimento do Professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira, nosso Ari, Professor Titular aposentado do Depto de Geografia da FFLCH USP, ocorrida ontem, 02 de agosto, pegou a todos de surpresa e nos deixou sem voz e sem chão. Uma perda que restará inconsolável para quem o conheceu e teve a oportunidade de com ele aprender.
Coragem, firmeza e coerência eram suas qualidades mais marcantes. Ousou convencer seu orientador, Pasquale Petrone, a acompanhá-lo na construção de sua tese de doutorado construída sob o método materialista dialético, a primeira “tese marxista” da USP e do Brasil, defendida nos anos de chumbo da ditadura.
Teve coragem para enfrentar uma banca e o anfiteatro de Geografia lotado, em uma longa defesa onde, como ele sempre recordava, parte estava para apoiá-lo e parte para ver sua derrota.
Ele venceu, e desde então, formou gerações de estudantes com sua geografia crítica, socialmente empenhada e comprometida com a transformação da sociedade em que vivia, deixando claro que o discurso da ciência neutra não tinha lugar na sua sala de aula e que, ao contrário, a sua Geografia era feita para dar luz e voz àqueles que até então haviam sido invisibilizados pela academia: os camponeses, indígenas, quilombolas e de todos os que enfrentam a exclusão decorrente da violenta concentração fundiária do campo brasileiro.
E esse compromisso o levou a trabalhar com a CPT durante anos, estando presente na construção dos Cadernos dos Conflitos no Campo que há décadas fornecem dados sobre a violência do latifúndio no Brasil. Era um geógrafo comprometido com seus princípios e a ciência que produzia, firme no método, militante crítico, o que o colocou em posição divergente em relação àquelas adotadas por movimentos sociais em determinados momentos da luta. Essas divergências não o abateram, ao contrário, o estimularam a consolidar a sua produção na busca por uma sociedade mais justa e socialmente solidária.
Suas aulas, na Graduação e Pós-Graduação, encantavam pelo domínio do conteúdo e eloquência do discurso. Era possível não concordar com suas ideias e posturas, mas não com a firmeza de seus argumentos. Seus trabalhos de campo, muitos deles feitos para a Amazônia com dias de duração, eram oportunidades ímpares de um contato com o Brasil real e de muito aprendizado para todos os que puderam deles participar.
Na USP, e nas universidades por onde passou após sua aposentadoria, auxiliando na democratização da Pós-Graduação, formou milhares de estudantes. Criou o SINGA, simpósio que hoje caminha sozinho com seus 22 anos de existência, cujos 20 anos foram comemorados em 2023 no DG, a casa onde ele nasceu, o que o encheu de orgulho.
Na Pós-Graduação orientou, como se orgulhava sempre de dizer, mais de 100 estudantes entre Mestres e Doutores, exclusas as supervisões de pós-doutoramento, o que certamente faz com que seus ensinamentos estejam espalhados por muitos lugares neste país.
Um orientador preciso, que nos estimulava a caminhar com autonomia e liberdade para ousar e que com poucas palavras nos fazia ver além do que estava diante a nós. Como sua última orientanda de doutorado disse em uma aula, “um homem de poucas palavras e muitas ações”.
Deixou uma produção científica densa e de peso e contribuições para o estudo da Geografia Agrária e das ciências humanas no geral que permanecerão ao longo do tempo. Sentiremos muita falta de sua risada farta e de suas ponderações precisas, por vezes intransigentes, mas seu legado permanecerá vivo conosco e seguirá sendo transmitido para as gerações futuras.
Ari
querido, o Agrária seguirá mais triste,
mas você seguirá
presente em nossos
corações e práxis.
Veja interpretações sobre o agrário nacional AQUI
Ari, Presente!
Marta Inez Medeiros Marques
Valéria de Marcos

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