segunda-feira, 9 de junho de 2025

Crimes na luta pela terra: familiares buscam compensação pela morte dos seus entes

Familiares de camponeses, amigos e parlamentares em reunião para refletir sobre reparação. Redenção/PA. Fonte: rede social de Elias Sacramento. 

Família Canuto, Sacramento, Lima, Ribeiro, entre outras estão mobilizadas há alguns meses na busca por compensações pela morte de pais, irmãos e filhos/as em processos de luta pela terra no Pará. 

O grupo tem fomentado encontros para refletir sobre o assunto e buscado alianças em diferentes campos: parlamentares, universidades, ONGs, defensores de direitos humanos dentro e fora do Brasil.

A última reunião ocorreu em Redenção, no fim do mês de maio. Eles otimizaram a audiência ocorrida no dia 30, que analisou o trabalho análogo à escravidão cometido pela empresa alemã Volkswagem, na Fazenda Cristalino, em Santana do Araguaia.    

Por conta de inúmeras experiências desenvolvimentistas impostas para a Amazônia, o Pará ganhou notabilidade mundial no tema de violência na luta pela. Desde os anos de 1980, onde a violência foi mais aguda, o estado tem sido líder absoluto, como apontam os dados organizados e refletidos pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Os indicadores recentes fazem paralelo com os a nos de 1980.

Elias Sacramento, professor do curso de História da UFPA, no município de Cametá é um dos principais animadores do debate sobre reparação. Ele esclarece que a rede almeja a realização de uma audiência na Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional.

Impunidade e a busca por reparação

Resultado do avanço do capital sobre a Amazônia, ao longo dos processos históricos a violência na luta pela terra no estado do Pará vem sendo naturalizada. É como se fosse algo inerente à racionalidade do sistema.

A maioria dos casos que envolve a morte de dirigentes, chacinas, execução de advogados e religiosos é coberto pelo manto da impunidade.

O desdobramento combina pistolagem privada e pública, morosidade e uma certa cumplicidade do Judiciário. Uma das saídas mobilizadas pelos movimentos sociais e instituições de assessoria por conta do cenário tem sido responsabilizar o Estado Brasileiro em espaços internacionais, a exemplo do recente caso do advogado Gabriel Pimenta.

O mineiro de Juiz de Fora foi executado em via pública na cidade de Marabá por defender posseiros na região sudeste do Pará. Após mais de 40 anos do assassinato, o Brasil foi responsabilizado a promover um conjunto de reparações.   Outros casos precederam o de Pimenta, a exemplo de chacinas da década de 1980 e o assassinato de João Canuto na mesma quadra temporal.

Maio e os assassinatos nas terras do Pará

Maio é o mês em que a Igreja Católica celebra Maria, a mãe de todos. Neste mês, muitas mães e viúvas camponesas choram os seus mortos. A exemplo do dia 29 de 1980, quando do assassinato de Raimundo Ferreira Lima, conhecido como “Gringo”.  

A execução do dirigente sindical foi o pontapé inicial de caça aos defensores da reforma agrária, meio ambiente e aos direitos humanos no estado do Pará. Gringo era dirigente sindical e agente da CPT em São João do Araguaia, sul do Pará.  Foi o primeiro líder sindical executado na região.

Anos depois, em Nova Ipixuna, sudeste do estado, o casal de extrativistas José Cláudio e Maria do Espírito Santo, no dia 24 de 2011. O anúncio da execução chegou a ser anunciado no Congresso. A bancada da agricultura capitalista celebrou como se fosse uma final de campeonato brasileiro.

Romaria da Floresta celebra a memória dos extrativistas executados em Nova Ipixuna/PA, em 2011. Foto: Marquinho Mota/2025. 
Na mesma região, no município de Pau D´arco, no mesmo dia da morte dos extrativistas, 10 camponeses foram executados pelos policiais civil e militar. No começo de 2021 Fernando Araújo, principal testemunha da chacina foi assassinada com um tiro na cabeça.

Ainda em maio, mais de 40 anos depois, no dia 30 do corrente ano, no município de Redenção, uma audiência pública discutia o trabalho análogo à escravidão cometido pela empresa alemã Volkswagem.

Ao contrário do que o nome do município sugere, foi ele o berço da União Democrática Ruralista (UDR), em terras paruaras. A milícia do setor ruralista mobilizava uma série de ferramentas com vistas a arrecadar fundos para financiar a pistolagem. O fato celebrizou o Bico do Papagaio, o sudeste do Pará, o norte do Tocantins e o oeste do Maranhão, como a região mais letal do Brasil na luta pela terra.

As violências, o trabalho análogo à escravidão, o desmatamento, a corrupção, a grilagem de terras são alguns dos desdobramentos de todas as experiências desenvolvimentistas impostas à região desde o período Vargas, quando da instalação da Ford na fronteira de Itaituba e Aveiro e ganha robustez durante a ditadura civil-militar.

A violência constitui um elemento de permanência no bojo de todas as políticas de desenvolvimento impostas sobre a Amazônia e em particular no estado do Pará, como podemos com os casos aqui pontuados, assim como a impunidade. 

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