70
crônicas dão corpo à obra do professor da Ufopa, Rogerio Almeida, do curso de
Gestão Pública
70 crônicas dão corpo ao livro
Amazônia: crônicas sobre o trecho, bulinações e alguns afetos. Assinado pelo
professor Rogerio Almeida, do curso de Gestão Pública, da
Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), o projeto foi selecionado pelo
edital da Lei Paulo Gustavo.
Os
lançamentos ocorrerão em Marabá e Santarém. Na primeira cidade o evento será na
noite do dia 02 de março, no Bar da Ana, no bairro do Cabelo Seco, núcleo Velha
Marabá, a partir das 19h. Já em Santarém, ocorre na noite
do dia 07, no espaço cultural Quinta Sapucaia, localizado na Av. São Sebastião, nº 1233 (entre
7 de Setembro e Morais Sarmento), a partir das 19h. O livro fará parte de evento coletivo
denominado de Puxirum de Ideias, que contará com lançamentos de obras de
professores/as e técnicos/as da Ufopa.
Peão de trecho, assim é tratada
a polissêmica categoria fronteira pelas pessoas que se mobilizam em busca de
trabalho em grandes obras na região. Bem como por riqueza “fácil” em garimpo,
fuga de secas e outras privações ou algum tipo de oportunidade longe de
seus locais de origem.
No livro, os períodos curtos imperam. Urgentes, assim como a maioria dos parágrafos. Registros telegráficos, como se o escriba estivesse em fuga. Em suas errâncias (flanêur), Almeida manifesta o zelo pela arte da escuta e da observação. Andar só é uma preferência. Ele acredita que a opção favorece o deslocamento. Referências a feiras, botecos fuleiros e puteiros são recorrentes em sua escrevivência.
Entre coisas vividas,
vivenciadas e inventadas, o “vadio”, tal uma tia velha fuxiqueira, tece, uma
aquarela dos vencidos em lonjuras (fronteiras) marcadas pela gula do capital,
que a tudo fagocita, até o sorriso da tapuia após o coito matinal. O
recado consta em um poema.
Nas geografias das errâncias, as
estações do ano na Amazônia emergem ao queixar-se do sol inclemente, ou ao
retratar as agruras dos tempos de cheia. O trecho é a questão que o inquieta,
bem como os personagens que conferem forma, moldura e possível poesia e alma à
obra.
No trecho, o filho chora, e a
mãe não faz ideia dos aperreios. Garimpos, grandes obras de infraestrutura,
empreendimentos agropecuários funcionam como uma espécie de imã de errantes.
Tais sujeitos migram em busca de dias menos doridos. As privações que a
maioria experimenta é combustível de canções populares, muito bem sublinhadas
em suas anotações. Zé Geraldo, Elino Julião, Adelino Nascimento, Raimundo
Soldado, Bartô Galeno estão entre os cantadores citados.
O trecho é bruto, avalia o
autor. Todavia, para além das agruras, como acredita uma filha de garimpeiros
de Itaituba, a educadora Rose Bezerra, a quem a obra é dedicada, é possível
encontrar laços de solidariedade e amizades que perduram ao longo do tempo.
Rogerio crê que as andanças representam uma faculdade sem parede. Em conversa
sobre a origem da cria, ele explica que após atividades laborais precárias,
havia uma necessidade de fazer apontamentos sobre o que observara.
Em escrita ligeira, o professor
tece a trajetória de garimpeiros, donas de bar, bravas mulheres que o iluminam,
a exemplo da genitora e o matriarcado em que foi criado.
Em texto de orelha, Charles
Trocate, filosofo e poeta, sobre a obra considera “este livro tem a totalidade
de uma obra inigualável, seja pela experiência de escrever reportagens – a
primeira experiência literária do autor e a sofisticada paciência de compor o
enredo que a vida transborda aos que vivem mais da falta do que do excesso.
Diria que este livro expõe uma espécie de filosofia do trecho ou manual do que
é não viver vivendo. Do começo ao fim, de trás para frente, ou inverso, ou do
meio para o início, é como se percorrêssemos os milímetros, sem cansar, uma
jornada de desapego”.
O pdf do livro pode ser baixado AQUI
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