sábado, 13 de maio de 2023

Pistolagem no Pará: Justiça concede alvará de soltura a pistoleiro foragido desde 2007

No Pará, por entre as “frestas” da Lei e inépcia do estado, o crime compensa


O pistoleiro Wellington de Jesus Silva. Imagem de redes sociais

 

No dia 30 de abril do corrente ano o juiz da Vara de Execução de Pena Privativa da Comarca de Belém, Deomar Alexandre de Pinho Barroso expediu alvará de soltura ao pistoleiro Wellington de Jesus Silva, foragido de justiça desde 2007. O assassino  havia sido condenado por unanimidade a 29 anos de prisão em abril do mesmo ano.   

Silva somava 19 anos quando matou com três tiros de revólver calibre 38 o dirigente sindical José Dutra da Costa (Dezinho), em Rondon do Pará, sudeste do Pará, no dia 21 de novembro de 2000. Dezinho foi assassinado na porta de sua casa, diante da esposa e dos quatro filhos pequenos.

Wellington de Jesus Silva foi preso por populares na ocasião da execução de Dezinho, que apesar de baleado, entrou em luta corporal com o assassino, caindo sobre o corpo dele em uma vala na rua onde morava.  

Não é praxe a agilidade do setor de segurança pública e da justiça do estado alcançar pistoleiros e a cúpula desta modalidade de crime que desde os anos de 1980 impera no Pará sob o manto da impunidade.  

Quem financiou a fuga, a subsistência, o ocultamento e advogados do pistoleiro, que em 2019 impetraram novo processo com base em prescrição,  é um elemento que intriga a família.

Na véspera do Dia das Mães, o sentimento da família do sindicalista é de perplexidade, revolta e de tensão. Maria Joel, viúva de Dezinho, após a morte do sindicalista assumiu a direção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais em Rondon, e desde então é obrigada a andar com escolta policial por conta de ameaças de morte. 

O caso Dezinho – outros envolvidos



Por intermediar a morte do sindicalista, Rogerio Dias de Oliveira, irmão do pistoleiro, foi condenado a 16 de prisão em dezembro do ano passado.  22 anos após a execução do sindicalista, e 20 anos de foragido.  Oliveira foi preso em Minas Gerais, provável paradeiro de Wellington. Nestes casos, a morosidade impera.

Em 2013 o fazendeiro Lourival de Souza Costa e seu capataz Domício de Souza Neto foram absolvidos. Em 2019 o fazendeiro Décio José Barroso Nunes, conhecido pela alcunha de Delsão, uma espécie de “dono” da cidade de Rondon, foi condenado a 12 anos de prisão. Todavia, responde em liberdade. Igosmar Mariano, primo de Rogerio e Wellington encontra-se foragido.

Tulipa Negra, o grilo que motivou o crime

Dados sistematizados pela CPT de Marabá sinalizam que no mês de junho de 2000, 150 famílias organizadas por Dezinho ocuparam a Fazenda Tulipa Negra, uma área de 3 mil hectares, que pertenceria ao fazendeiro Kyume Mendes Lopes.

O título da fazenda teria sido expedido pelo governo do Pará em 1918. No entanto, o documento expedido pelo estado possuía uma área maior, 44 mil hectares. A Tulipa Negra seria uma espécie de desmembramento desta área.

Desde outubro Dezinho estava convencido da falsificação do título, posto que o estado do Pará não titulava terras no ano de 1918, em áreas no que hoje é o território de Rondon do Pará. Em resumo, a área em disputa e vizinhança foram/são terras griladas.

Como em outras casos de sindicalistas e pares, a morte de Dezinho poderia ter sido evitada. O estado do Pará tinha conhecimento das ameaças. Havia sido formalmente informado pelas instituições que mobilizam a luta pela reforma agrária no sudeste do estado.

O enredo das mortes sem fim em terras do Pará é conhecido, impera a morosidade, negligência em investigação, quando não conivência com os acusados em execuções e chacinas contra os defensores da reforma agrária, meio ambiente e direitos humanos.  

O livro sobre a luta pela terra na Amazônia lançado no ano passado, projeto de extensão da UFOPA, escrito por educadores, familiares, jornalistas e amigos de pessoas envolvidas nestes casos, evidencia isso. Baixe AQUI

Veja o documentário sobre Dezinho produzido pelo professor Evandro Medeiros AQUI