A execução do sindicalista somou 30 anos em fevereiro. Em agosto ele somaria 74 anos. Em setembro professores lançam projeto de captação de recurso que busca recuperar parte da memória dos Mártires da Terra no Pará.
Expedito
Ribeiro de Souza é semente da terra das bandas das Gerais, Valadares. Cedo correu
o trecho. O filho de lavradores (João e Maria) apeou nas ilhargas do Goiás,
antes de alcançar as terras do Pará. Em Goiás, berço da criação da União Democrática
Ruralista (UDR), - o braço armado dos fazendeiros -, trabalhou de meia.
Aos 19 anos já era casado com Maria Macedo, com que teve dez rebentos. Em plena ditadura, sentou praça nos beirais do Araguaia. Terra de valentia. Terra encharcada de sangue de campesinos, cidade de Rio Maria. Ribeiro sabia do risco que corria, assim assuntou sobre a questão:
Cova funda neste leito
Cova que ele quer
Eu
não te quero
Cova
de cemitério
Cova
que quer do mundo dos vivos
De
quem tu queres engolir
Para
depois engolir
Cova
do medo
Eu
tenho medo de ti
Os
versos fazem parte do poema Cova do Medo, do livro O Canto Negro da Amazônia, lançado
pós morte de Expedito, ocorrida em fevereiro de 1991. O conterrâneo de Drummond
era homem de poucas letras, todavia, aprendeu a ler e escrever. O negro do PC
do B, possuía afeto pelo versejar. Assim, exprimia suas angústias, a sua
leitura do mundo na condição de homem sem terra.
Um
ano antes de sua execução, Riberio havia selecionado versos de cordel para
concorrer em um concurso cultural da Fundação Tancredo Neves. Ficou em terceiro
lugar, conta o jornalista Lúcio Flávio Pinto, na apresentação do livro do
sindicalista.
Sobre
o ativista da reforma agrária em terra tão temida, o jornalista, ao mobilizar
Drummond, assim define Expedito, “Uma flor que nasceu no meio de asfalto,
amarela que fosse, mas flor, um produto do milagre humano”.
O
professor Raul Navegantes, à época da execução de Ribeiro, coordenador do
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), da Universidade Federal do Pará
(UFPA), sobre a publicação, explica a iniciativa, “movido por dois sentimentos:
o da revolta diante de mais um assassinato, que quiçá, terá por conclusão a
impunidade, e do sentimento de participação que dá ao primeiro maior
legitimidade e pungência”.
Navegantes
foi relevante par de utopia junto aos camponeses da região do Araguaia no
projeto do Centro Agro-ambiental da Araguaia (CAT), que teve como ponta de
lança o professor natural da Bélgica, Jean Hébette, que por mais de 30 anos
somou nas pelejas junto aos camponeses.
O
nome do respeitado pesquisador do campesinato da fronteira amazônica hoje
nomeia a Escola Família Agrícola (EFA), de Marabá.
Ainda
sobre a viabilização do livro sobre Expedito, a pesquisadora Marcionila
Fernandes, que no período do assassinato do ex presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Rio Maria cursava o mestrado no NAEA, e estudava a UDR,
contribui na obra na construção da biografia de Expedito, e com uma entrevista
sobre o delicado cenário da luta pela terra na região do Araguaia.
A
mesma pesquisadora foi responsável por uma entrevista que integra o livro de
poesia de Ribeiro. Nela o dirigente nomeia fazendeiros, pistoleiros, grupos
paramilitares, e as fazendas eivadas por grandes conflitos e mortes.
Sobre
a perda de seus pares de luta, assim poetizou Expedito sobre a execução do advogado Fonteles:
Morreu
deixando a história
De
um incansável lutador
Deu
sua própria vida
Pelo
povo sofredor
Foi
um grande combatente
Em
defesa de sua gente
Injustiçada
e sofrida
Tendo
uma sorte infeliz
Sofrendo
neste país
Espoliado
e oprimido.
Em uma tentativa de arrumação de documentos há muito esquecidos em caixas, deparei-me com o livro de Expedito. E, aqui o compartilho a quem interessar possa. AQUI
Em par com um monte de gente das mais diferentes formações, filiações, laços de amizade e parentesco de dirigentes e assessores que foram assassinados no processo de luta pela terra no Pará, em uma grande ciranda animada por mim e o professor Elias Sacramento (UFPA), buscamos produzir um livro sobre os Mártires da Terra.
A obra objetiva recuperar parte desta saga no estado do Pará. Ainda em setembro lançaremos o projeto de captação de recurso para viabilizar o livro.
O caso de Expedito é narrado pelo sobrinho e historiador, José Ribeiro.
Em 2007 o documentário Expedito: em busca de outros nortes recuperou parte da trajetória do sindicalista. Veja AQUI
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