Perto
de 70 pesquisadores/as de diferentes formações e países assinam artigos que
buscam interpretar situações de conflitos entre grandes corporações de variadas
matizes e as populações tradicionais nas Américas do Sul e Central, África e Índia,
no volumoso livro Território, Cultura e
Pueblos: megaprojetos, atos do Estado, Povos e Comunidades Tradicionais, disponibilizado
no fim do mês passado no site do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia,
da Universidade Federal da Amazônia (UFAM).
A
obra com pouco mais de 700 páginas resulta do “II Seminário Internacional Megaprojetos, Atos de Estado, Povos e
Comunidades Tradicionais”, realizado em outubro de 2018, na Universidade Autônoma
do Ocidente, em Cali, Colômbia.
O
livro homenageia o líder quilombola e defensor do direitos humanos Temístocles Machado Renteria, assassinado em 2018, aos 59 anos. A obra ilumina sobre a conjuntura da Amazônia brasileira, de países vizinhos e
coirmãos de outros continentes. Em comum, todos são países da periferia do
capitalismo. Estes marcados pela racionalidade econômica baseada em grandes
projetos de mineração, agronegócios e obras de infraestrutura.
Trata-se
de projetos mediados ou induzidos pelo Estado, com vistas a acessar as riquezas
naturais, e promover a expropriação das populações tradicionais, que tem tido
como consequências, a mobilização destas a edificarem formas de estratégias e
táticas de resistências.
No
caso amazônico, entre as inúmeras situações de tensões, constam artigos sobre a
Base de Lançamento de Foguetes de Alcântara, no estado do Maranhão, que o
governo federal, a partir de uma associação com o governo estadunidense de Trump,
visa a promover outra expropriação de populações aquilombadas. No mesmo estado
há registros sobre a comunidade de Cajueiro, ameaçada pelo capital Chinês, por
conta de empreendimento portuário.
As
populações quilombolas da região do Trombetas, no oeste do Pará, também são
analisadas, por conta de projetos de infraestrutura voltados para atender o
grande capital mundializado. Desde os anos de 1980 do século passado elas
enfrentam problemas por conta da mineração da bauxita protagonizada pela Mineração
Rio do Norte (MRN), atualmente sobre o controle da norueguesa Norsk Hidro.
A mineração em Carajás, no sudeste paraense, iniciada no mesmo período da região do Trombetas, quando a Vale ainda era estatal, também é abordada na obra, quando a economia acreditava que a efetivação de polos de desenvolvimento (energia, mineração, madeira e pecuária) iria dinamizar a economia regional.
Nos dias atuais, os especialistas hegemônicos depositam as suas fichas na implantação de Eixos de Integração e Desenvolvimento (EIDs), onde os corredores de circulação de mercadorias possuem papel central, a exemplo do Arco Norte, que impactará o Baixo Amazonas paraense, com projetos de grandes hidroelétricas, hidrovia, rodovia e ferrovia, além de complexos portuários.
No
conjunto do livro, campesinos, indígenas e quilombolas representam o centro de
gravidade das situações de tensões entre o grande capital e as populações tradicionais.
A
coordenação da iniciativa coube aos experimentados professores Alfredo Wagner Berno
de Almeida (UFAM), Rosa Acevedo Marin (UFPA) e de Jesús Alfonso Lópes, da
Universidad Autonoma do Occidente (Colômbia). A Universidade Estadual do
Maranhão (UEMA), Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Universidade Estadual
do Amazonas (UEA) e a Universidade Autonoma do Occidente
“O
temor de novos danos e perdas além do que já foi perdido semeia o pânico entre
as famílias atingidas nestas situações mencionadas, que há pelo menos três ou
quatro décadas padecem, aguardando os anunciados términos das obras” realça o
professor Alfredo Wagner, em texto de apresentação.
Nesta
complexa sociodiversidade contemplada no livro são tratados: comunidades
afro-colombianas, palenques e raizales (Colômbia); quebradeiras de côco babaçu,
seringueiros, castanheiros, quilombolas, piaçabeiros, peconheiros, vazanteiros
e ribeirinhos (Brasil); povos Kokama e Tikuna (Colômbia, Peru, Brasil);
Endorois, Camba e Turkana (Quênia); comunidades quilombolas (Brasil); povos de
Narmada (Índia) e povos Gavião e Guajajara (Brasil), dentre outros.
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a obra AQUI