sábado, 28 de novembro de 2020

Natal em novembro: é tudo água ao redor

 

Praia do Caolho. São Luís/MA.Pandemia/2020

É tudo água ao redor.  Água de mar.  Atlântico.  Em sua maioria imprópria para banho. Não existe tratamento de cocô na Ilha do Amor, São Luís, Maranhão.

Navios por todo canto. Lembra uma batalha naval. É bosta por todo o mar.  Não são de guerra as embarcações. São de saque dos minérios das terras dos Carajás, no sudeste do Pará. Uma cartografia de dor. Ah, dona Janaína...tanto mar..luz a ferir oszoin...

Ah encantados da floresta, é mina, é ferrovia, é porto, é saque,  é soco, é sangue...é um riomar de maldades...

São Luís do Mará. Tão bela. Tão turva. Vesga, talvez. Bulida, bolada, boleada, baleada. Ferida de morte por interesses capitais. Dunas e mangues sufocados.

Capitais interesses. Palácios. Palafitas. Caranguejos. Homens. Homens. Caranguejos. Pontes de madeira. Penínsulas.  Portos. Drogas por entre vilas e vielas. Fechados condomínios.  

Bairro da Alemanha. A cidade é uma cidade de cidades misturadas. Pandemia/2020/

Nela, uma cidade de pretxs, dois jovens brancos de partidos caretas disputam a cadeira do Palácio de La Ravardière. Colonização. Colonialidades. Êh lambaê, lambaio....

Há uns dois anos não pisava nas areias da praia da cidade, creio. Mainha contabiliza bem  mais tempo. Prestes a somar 90 verões, manteve o confinamento por oito meses. Mainha é de danar. Virada. Viração.

Magrinha, apoiada pelo neto Jonatha, arrodeou um pedaço de areia na Praia do Caolho. Tudo água ao redor. Tudo tranquilo. Uns cabras com a rede a teimar em peixe encontrar. Caymmi, Dorival, Bnegão...

Comovente ver o zelo do neto a amparar a avó. Bem como o carinho do bisneto Franklin. É ele quem toca o terror e mantém a chama da casa acesa. Rede de cuidados/trutas/tretas/carabinas/baionetas: Cristiane (irmã), Isabella (sobrinha). Diferentes gerações. Oxigênio. 

Antes da partida, dedo de prosa com velho amigo de tempos de faculdade, Antônio Carlos (Tontonho). Tempo pouco para 20 anos de hiato. Pouca breja para tanto assunto. Naqueles idos  corria o trecho entre a área do Itaqui-Bacanga-São Francisco e adjacências. Pinga, breja, sativa. Bar do Amauri (Sá Viana), Seu Adalberto (Reviver), Olho de Pombo (São Francisco), Bar do Jósimo (Rua do Alecrim-Centro).  

Um tiro curto foi a viagem. Três dias. Dois dedicados à Delza. Arretada. Valente. Valentia. Valentina. Memória em dia. Labareda. Ela não é de comer na rua. Escabreada. Desconfia do tempero e asseio alheios. No entanto, abriu uma exceção, e até elogiou o prato. 

A viagem de bate/volta foi o natal antecipado. Insistência da comps  Thulla Cristina. Um presente! A todos fez feliz. Chorei escondido no pós almoço. Inventei de lavar louça.

Assim, tudo se misturava à água do enxague de pratos, talhares e panelas. Água de sal dos meus zoin, sabão, punhados de saudades, alegria a confraternizar na pia, escorrer pelo ralo em tempos sinistros. Tudo misturado, rumo ao mar.   Ah, Janaína...Iemanjá...

 

Doce, obrigado!

Nenhum comentário:

Postar um comentário