domingo, 18 de outubro de 2020

Para conter o avanço da institucionalização da necropolítica

O professor de Geografia da Unifesspa analisa a conjuntura baseada em exportação de produtos primários, e a indica como um dos vetores de expansão do fascismo do país 

Por Bruno Malheiro

 


Há dois anos, após o fim do primeiro turno das eleições de 2018, ficava desenhada para nós uma geografia do fascismo no Brasil, pela impressionante semelhança de dois mapas: o da votação do atual anti-presidente que nos governa e o da expansão de commodities, como a soja, o milho, entre outras! Tínhamos ali a exata noção que a expansão do capitalismo de fronteira é, também, de um gosto musical, de um sabor, de um modo de se vestir e se comportar, enfim, de um modo de vida violento e absolutamente refratário à diferença!

 

A expansão do fascismo no Brasil, portanto, tem tudo a ver com a expansão aviltante das commodities no campo, assim como também tem a ver com a banalização da violência e a expansão do mercado da morte pelas milícias nas cidades! A geografia do fascismo coincide com uma certa geografia da destruição da experiência. Parece mesmo que a tempestade do progresso realmente nos levou à catástrofe, como já havia alertado Walter Benjamin, como um “aviso de incêndio”!

 

Passados dois anos, novas eleições, agora municipais, e vivemos o momento de consolidação da institucionalização da necropolítica, que iniciou sua escalada de corrosão de todas as instituições democráticas brasileiras, nas fatídicas eleições de 2018. De lá pra cá, mais de 150 mil mortes (que podem ser colocadas na conta desse governo negligente e absolutamente irresponsável) e todos os nossos biomas ardendo em chamas, não foram suficientes para uma mudança na percepção política geral! Pelo contrário, a subjetividade fascista parece se alimentar de morte, fogo e destruição, e não é que os candidatos que representam o necrocapitalismo que se instituiu pós-2018, ainda têm força na maioria das nossas cidades, basta vermos os 118 políticos com multas ambientais que disputam prefeituras na Amazônia, segundo levantamento da agência pública.

 

Estamos diante da possibilidade real de consolidação do que se iniciou em 2018, o que fica bem claro quando as quatro principais bancadas, que expressam bem nosso capitalismo rentista de morte, a dos bancos, a da bala, a do boi e a da Bíblia (isso para não falar da bancada da bula que vem se consolidando pela influência dos laboratórios farmacêuticos na política institucional), lançam seus candidatos!

 

De forma diferencial, cada bancada se dissemina no territorio a partir de uma racionalidade que lhe é própria: a bancada dos bancos, que se nutre da destruição de todos os bens públicos e/ou coletivos, se vê mais presente nas nossas maiores metrópoles, que são nossos centros financeiros, e haja campanha financiada; a bancada da bala, que se nutre do mercado da morte e da exploração rentista das periferias, segue os índices de violência, geralmente em grandes e médias cidades; a bancada do boi, que ganha com a renda da terra, a renda mineral..., alimenta-se de um patrimonialismo político que, em alguns casos, está consolidado em grandes cidades, mas é bem comum em pequenas e médias; e a bancada da Bíblia, rentista como as outras, surfa no mercado da fé e parece se pulverizar seguindo os rumos de influência geográfica das igrejas que representam!

 

Mas todas essas bancadas têm nome e número que podemos identificar, seja quando formos votar para prefeito, seja para vereador.

 

Segundo um levantamento do início de 2020 do Congresso em Foco, são os partidos abaixo listados, com seus respectivos números e porcentagem de fidelidade a esse governo genocida, que formam a base do nosso necrocapitalismo:

 

19- Podemos (92%);

51- Patriota (90%);

17- PSL (85,4%);

45- PSDB (81%);

14- PTB (78%);

20- PSC (78%);

15- MDB (77%);

25- DEM (77%);

23- Cidadania (74%);

22- PL (74%);

55- PSD (74%);

30- Novo (71%);

11- PP (67%); e dá pra colocar mais gente nessa lista:

90- PROS;

70- AVANTE.

 

Sabemos que existem diferenças e particularidades locais dos partidos, mas, convenhamos, devemos desconfiar de qualquer candidat@ que continue em tais legendas, depois de tanta desgraça desse desgoverno, mesmo aceitando pouquíssimas exceções ainda dignas!

 

Não bastasse o atrelamento ao bolsonarismo, a força de muitos desses candidat@s do necrocapitalismo, também se constrói com o jogo sujo das fake news e pelo seu atrelamento ao consórcio de mídia hegemônica torpe que só se afunda mais ma lama, vide o cancelamento de quase todos os debates à prefeitura de São Paulo, após o crescimento da chapa Boulos/Erundina, os ataques virtuais a Manuela D’Ávila em Porto Alegre, e as muitas Fakes News já inventadas contra candidatos que se posicionam no outro extremo político desses grupos, como as já inventadas contra Edmilson Rodrigues em Belém.

 

Diríamos, então, que votar nessas eleições tornou-se um ato para barrar a disseminação da geografia do fascismo! Temos ferramentas para avaliar se os candidatos fazem parte dessa engrenagem de morte, e será uma opção de cada um e cada uma votar ou não nessa máquina de moer gente!

 

Até porque várias são as candidaturas que não apenas se colocam na contramão dos representantes do necrocapitalismo, mas apresentam ideias que conseguem conviver com a democracia, e nunca foi tão fundamental ouvir, participar e interferir na política como agora, além, lógico, de votar em quem consegue conviver com as diferenças, para defender o que ainda nos resta de dignidade democrática. E nessa direção, o aumento das candidaturas de indígenas, de lideranças populares femininas e as candidaturas coletivas são um alento!

 

A força dos movimentos sociais, das feministas, dos indígenas, das lutas populares ainda encontra espaço em candidaturas contra à barbárie, e precisamos procurá-las no meio de tanto lixo e esgoto.

 

Estamos enfrentando a catástrofe e, se em 2018, estávamos entre a democracia e o fascismo (e escolhemos o fascismo), 2020 deixou ainda mais claro as consequências de nossas escolhas, agora, não que antes não fosse, é vida ou morte. Em meio ao colapso metabólico e o genocídio da pandemia, não é possível continuar escolhendo a morte e o fascismo!

 

Para não acabar essa reflexão sem uma posição clara - e se ainda importa a posição de um professor, nesse mundo que prefere notícias falsas a qualquer análise mais séria - eu sou Edmilson Rodrigues 50 em Belém, cidade que nasci, Rigler 50, em Marabá, lugar que moro, além de nutrir profundo respeito a Guilherme Boulos 50 em Sampa e Manuela D’Ávila 65 em POA. E não esqueçamos que só se governa com uma câmara de vereadores séria, então, é preciso evitar os partidos que formam a base da nossa desgraça e dar chance aos partidos que ainda carregam dignidade democrática! 

 

Sabemos que a política partidaria tem muitos límites, por isso preferimos as forças instituintes, que vêm das lutas dos povos, às instituições e seus vícios. Mas também sabemos como uma eleição pode interferir na nossa vida, por isso, não dá para ser negligente, nem por radicalismo bobo, nem por radicalismo pseudoesclarecido, precisamos devolver aos esgotos as forças milicianas que nos governam e juntar forças para instituir caminhos alternativos, capazes de inverter prioridades, democratizar os processos decisórios, caminhos que estejam não na vanguarda, mas na retaguarda de quem efetivamente inventa um mundo novo na sua persistência pela vida!

 

#ForaBolsonaro

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